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'Dá pena pelo Brasil': as críticas que Bachelet já fez ao governo Bolsonaro

4.set.2019 - A chilena Michelle Bachelet, Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, durante entrevista coletiva em Genebra - Fabrice Coffrini/AFP
4.set.2019 - A chilena Michelle Bachelet, Alta Comissária da ONU para Direitos Humanos, durante entrevista coletiva em Genebra Imagem: Fabrice Coffrini/AFP

Do UOL, em São Paulo

13/06/2022 12h46Atualizada em 13/06/2022 15h26

A atual Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, voltou a mencionar o Brasil em uma coletiva de imprensa, na qual pediu por eleições "democráticas" e "sem interferência" e chamou a atenção para as políticas do governo Jair Bolsonaro (PL) para povos indígenas, mulheres e a população LGBTI+. Ela afirmou que "está alarmada com ameaças contra defensores dos direitos humanos ambientais".

Sem citar o nome de Bolsonaro, Bachelet também alertou que este é um ano de eleições no Brasil e disse que este "será um momento democrático importante e não deve haver interferência de nenhuma parte para que o processo democrático possa ser atingido".

Essa não foi a primeira vez que a ex-presidente chilena criticou políticas de Bolsonaro. O presidente do Brasil também já rebateu declarações de Bachelet, com citações ao pai dela, morto durante a ditadura de Augusto Pinochet no Chile. Relembre:

"Me dá pena pelo Brasil"

Em setembro de 2019, Bachelet listou o Brasil como um dos países com "redução do espaço democrático" especialmente em relação a "ataques contra defensores dos direitos humanos" e "restrições impostas ao trabalho da sociedade civil".

Na ocasião, além de citar dados de aumento no desmatamento da Amazônia, Bachelet também criticou a intenção do governo Bolsonaro em aumentar a flexibilidade para a posse e porte de armas, classificando as intenções como um "discurso público que legitima as execuções sumárias" feitas por polícias.

Após as declarações da alta comissária na ONU, Bolsonaro disse que a chilena se "intrometia" em assuntos internos do Brasil e citou a morte do pai de Bachelet ao dizer que, se não fosse pela ditadura chilena, o Chile seria "uma Cuba".

"Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época", diz publicação do presidente nas redes sociais.

A declaração gerou repercussão entre políticos chilenos. Posteriormente, Michelle Bachelet voltou a falar sobre o caso em entrevista à Televisão Nacional do Chile (TVN):

"Se há uma pessoa que diz que em seu país nunca houve ditadura, que não houve tortura, que diz que a morte de meu pai por tortura permitiu que [o Chile] não fosse outra Cuba, a verdade é que me dá pena pelo Brasil".

"Contexto de retrocessos significativos"

Em seu discurso anual de 2020 sobre a situação dos direitos humanos globalmente, Bachelet denunciou novamente violações de direitos humanos no Brasil, segundo reportou Jamil Chade. Na ocasião, ela incluiu o país entre os 30 locais com "sérias preocupações" a respeito da proteção de ativistas.

"No Brasil, ataques contra defensores dos direitos humanos, incluindo assassinatos - muitos deles dirigidos a líderes indígenas - estão ocorrendo em um contexto de retrocessos significativos das políticas de proteção ao meio ambiente e aos direitos dos povos indígenas. Também estão aumentando as tomadas de terras indígenas e afrodescendentes", disse.

A resposta não veio por Bolsonaro, mas sim pela embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, que classificou como "lamentável" que a chilena tem sido aconselhada "de forma errada" sobre o Brasil. A brasileira também insinuou que parte da crítica tinha motivação política.

Pandemia

Michelle Bachelet também citou o Brasil quando, em dezembro de 2020, criticou lideranças globais que negaram ou diminuíram os impactos do coronavírus e que se recusaram a implementar medidas de controle contra o aumento dos casos de Covid-19. A declaração foi feita um dia antes do Dia Mundial dos Direitos Humanos:

"Normalmente, não costumo destacar ninguém em particular, mas devo dizer que, em qualquer país do mundo onde os líderes negaram a existência da Covid e suas evidências científicas, houve um efeito devastador. Isso aconteceu em muitos países, não só no Brasil, mas também no Brasil."

Bachelet disse que as lideranças brasileiras precisavam ser "um exemplo para o povo". "As pessoas precisam ter confiança nas instituições e organizações, então espero que no Brasil os líderes possam ser muito mais abertos", completou.

Quem é Michelle Bachelet

Michelle Bachelet é figura conhecida na política chilena e latino-americana. Presidente do Chile por dois mandatos não consecutivos — entre 2006 e 2010 e, depois, entre 2014 e 2018 —, ela foi a primeira mulher a exercer o cargo no país.

Como estudante de medicina na Universidade do Chile, Bachelet atuou contra a ditadura de Augusto Pinochet e, por isso, foi presa pelo regime em 1975 junto a sua mãe. Seu pai, Alberto Bachelet, general da Força Aérea do Chile, também foi capturado e, após ser torturado, morreu em decorrência de um ataque cardíaco na prisão.

Com a mãe, Bachelet partiu ao exílio na Alemanha Oriental, onde continuou a estudar medicina na Universidade Humboldt. Voltou ao Chile em 1990 e passou a exercer funções no Ministério da Saúde após a redemocratização. Exerceu o cargo de ministra da Saúde entre 2000 e 2002 e de ministra da Defesa entre 2002 e 2004, ambas funções sob o governo de Ricardo Lagos.

Atua como Alta Comissária de Direitos da ONU desde 2018, mas deve encerrar sua passagem pelo órgão em 2022.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do publicado na primeira versão do texto, Michelle Bachelet se exilou na Alemanha Oriental e não Alemanha Ocidental. O texto foi corrigido.