Boris renuncia, mas fica como interino; como sucessor será escolhido
Giovanna Galvani
Do UOL*, em São Paulo
07/07/2022 12h12Atualizada em 07/07/2022 13h46
Boris Johnson até que tentou, mas não conseguiu permanecer como líder do Partido Conservador, o que garante seu cargo de primeiro-ministro no Reino Unido. Ele anunciou sua renúncia hoje.
A partir de agora, o partido dará início ao processo de escolha de uma nova liderança que, em breve, assumirá o posto de chefe de Governo. Até lá, Johnson continuará como primeiro-ministro de forma interina.
Segundo Boris Johnson, as datas que definirão a cronologia para a escolha de seu sucessor serão anunciadas na próxima semana.
Existe um rito a ser seguido que varia em tempo de duração, mas um substituto é esperado até outubro.
A renúncia ocorre após uma intensa crise no governo que fez com que mais de 50 membros, entre ministros, secretários e auxiliares, deixassem seus postos alegando "falta de confiança" na gestão de Boris Johnson.
"Está clara agora a vontade do partido conservador para que haja um novo líder desse partido e, portanto, um novo primeiro-ministro", declarou Johnson hoje.
"Novo líder, eu te darei o maior apoio que conseguir. E ao Parlamento britânico, eu sei que haverá muitas pessoas aliviadas e outras desapontadas. Quero que vocês saibam o quanto estou triste de desistir do melhor trabalho do mundo.
Boris Johnson, durante discurso de renúncia
Candidatos devem se apresentar
Primeiramente, espera-se que os candidatos ao cargo se apresentem. Caso haja mais de dois postulantes, cada um deve ter o seu nome referendado por um mínimo de oito parlamentares do Partido Conservador para ser considerado.
Nesse processo, não há envolvimento da oposição, como o Partido Trabalhista, já que os Conservadores têm a maioria dos assentos no parlamento.
Depois dos primeiros candidatos, são realizadas rodadas de votação:
- Rodada 1: os candidatos precisam ter no mínimo 5% de votos dos conservadores, o que corresponde a 18 endossos;
- Rodada 2: são necessários o mínimo de 10% dos votos, ou 36 parlamentares;
- Próximas rodadas: a partir disso, quem tiver menos votos deixa a disputa até serem apenas dois concorrentes;
- Decisão final: membros do Partido Conservador de todo o país, e não apenas os parlamentares, votam no nome que será o líder do partido e, consequentemente, o novo primeiro-ministro britânico.
Com o novo nome consolidado, a Rainha Elizabeth II determina que o novo primeiro-ministro forme o seu governo.
Os nomes cotados
Vários nomes, sem um claro favorito, circulam para suceder o primeiro-ministro britânico Boris Johnson como líder do Partido Conservador, após sua renúncia nesta quinta-feira.
- Ben Wallace: o ministro da Defesa, de 52 anos, tem boa popularidade após a ajuda à Ucrânia devido à invasão russa;
- Penny Mordaunt: a ex-ministra da Defesa e atual secretária de Estado do Comércio Exterior, de 49 anos, foi uma das figuras da campanha a favor do Brexit em 2016 e, desde então, trabalha nas negociações de acordos comerciais para o Reino Unido;
- Rishi Sunak: ex-ministro das Finanças, Sunak foi o primeiro hindu a ocupar o cargo, e um dos dois ministros de grande destaque que pediu demissão na terça-feira, reforçando a crise política;
- Jeremy Hunt: o ex-ministro de Relações Exteriores e Saúde, Hunt tem 55 anos e perdeu para Boris Johnson a liderança conservadora de 2019, quando se apresentou como uma "alternativa séria";
- Liz Truss: crítica aos movimentos de protesto "woke", a ministra das Relações Exteriores se tornou muito popular nas bases do Partido Conservador;
- Sajid Javid: o ex-ministro da Saúde foi um dos grandes nomes do governo e do Partido Conservador que renunciou na terça-feira em protesto contra o primeiro-ministro;
- Priti Patel: a ministra do Interior, de 50 anos, é a mais conservadora das ministras de Johnson. Firme defensora do Brexit, ela também votou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Antecessores de Boris também renunciaram
Deixar a liderança do partido para abrir caminho a um novo primeiro-ministro foi a decisão que a antecessora de Boris, Theresa May, também tomou.
Em 2019, pressionada para fazer com que o Brexit — a saída do Reino Unido da União Europeia — avançasse, May decidiu servir interinamente no cargo até os Conservadores escolherem Boris Johnson. O processo levou cerca de seis semanas.
Antes de May, David Cameron também renunciou ao cargo, em 2016, após o referendo sobre o Brexit apontar maior apoio à saída do bloco — medida da qual o ex-premiê discordava. Ele anunciou a saída em junho, e Theresa May chegou ao cargo em julho.
*Com informações da BBC e AFP