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Por que Boris Johnson renunciou? Entenda a crise no Reino Unido

Giovanna Galvani

Do UOL*, em São Paulo

07/07/2022 11h22Atualizada em 07/07/2022 11h58

Boris Johnson, ao fazer hoje o discurso de renúncia à liderança do Partido Conservador, dando início ao processo de escolha de um novo primeiro-ministro no Reino Unido, declarou que se sentia triste por deixar "o melhor trabalho do mundo".

Porém, os últimos dias foram marcados por escândalos, contradições e pressão dentro e fora do partido para que ele anunciasse sua saída.

Há cerca de um mês, Boris conseguiu sobreviver a um voto de desconfiança movido no parlamento devido às festas realizadas em Downing Street, sede do governo britânico, durante o lockdown decretado em 2020, na pandemia de covid-19.

Agora, o novo escândalo envolveu a escolha para um cargo de liderança de um parlamentar previamente acusado de assédio.

Entenda a cronologia da crise no Reino Unido:

Aliado de Boris apalpou dois homens

Em 30 de junho, o jornal britânico The Sun publicou que Chris Pincher, então deputy chief whip da bancada do Partido Conservador no Parlamento, apalpou dois homens em um clube privado em Londres.

O deputy chief whip é um posto que, no sistema político britânico, tem como atribuição garantir que parlamentares do partido votem conforme a orientação das lideranças.

Ele alegou estar bêbado e renunciou

Pincher, que havia sido nomeado para esse cargo por Johnson em fevereiro, primeiro negou as acusações, mas depois cedeu à pressão, admitiu estar "bêbado" nas situações relatadas pelas denúncias e renunciou.

Em poucos dias, a mídia britânica publicou informações de, pelo menos, seis outros casos de suposta conduta sexual inapropriada de Pincher nos últimos anos.

O aliado de Boris, que foi suspenso pelo Partido Conservador, pediu desculpas e disse que iria cooperar totalmente com as investigações sobre sua conduta e está buscando "apoio médico profissional".

Governo diz que Boris não sabia

Em 1º de julho, o governo disse à imprensa que Johnson não estava ciente de nenhuma alegação contra Pincher antes de sua nomeação. Um porta-voz disse que o primeiro-ministro não estava ciente de "acusações específicas" sobre o aliado do primeiro-ministro.

Essa foi a mesma posição que vários membros do gabinete mantiveram nos dias seguintes.

Na verdade, Boris sabia, mas "não se lembrava"

Em 4 de julho, o porta-voz disse que Johnson estava ciente de "alegações que foram resolvidas ou não avançaram para a fase de reclamação" e que não foi considerado apropriado interromper a nomeação de Pincher devido a "alegações sem fundamento".

Em uma entrevista, o ex-diplomata Lord McDonald acusou o governo de faltar com a verdade e afirmou que o primeiro-ministro foi comunicado "pessoalmente" sobre uma "queixa formal" a respeito do comportamento de Pincher em 2019. Na época, McDonald ocupava um cargo no Ministério das Relações Exteriores.

Uma reportagem da BBC confirmou que Johnson havia sido informado sobre o "comportamento inapropriado" de Pincher enquanto trabalhava no Ministério das Relações Exteriores entre 2019 e 2020. Esta queixa levou a um processo disciplinar que confirmou que o comportamento inadequado ocorreu.

O governo agora diz que o primeiro-ministro foi de fato informado em 2019, mas não conseguiu "lembrar disso" quando novas denúncias surgiram na semana passada.

Johnson confirmou a informação de seu gabinete e declarou que lamentava "amargamente" não ter agido com base no que sabia.

Desconfiança sobre Boris e renúncias

A postura do governo sobre o caso resultou na perda de confiança em Boris Johnson.

O movimento, que começou na segunda-feira (5) com a saída quase conjunta dos ministros da Saúde e das Finanças, Sajid Javid e Rishi Sunak, se estendeu a cargos menores, como no caso de secretários particulares parlamentares, que auxiliam ministros de Estado em suas funções.

Ontem, ao responder perguntas do parlamento, Boris Johnson afirmou inicialmente que não iria renunciar ao cargo. "É exatamente o momento em que se espera que um governo continue com seu trabalho, não que renuncie", afirmou, ao citar momentos difíceis na economia, com um cenário inflacionário crescente, e a guerra na Ucrânia.

No total, são pelo menos 50 funcionários do governo até o momento que deixaram suas posições; um deles foi demitido, segundo o jornal britânico The Guardian.

Primeiro-ministro interino

Boris Johnson segue como primeiro-ministro do Reino Unido até que o Partido Conservador conclua a escolha de um novo líder de governo, o que pode levar cerca de dois meses, considerando saídas anteriores.

Ele lamentou a escolha do partido, mas agradeceu pelo período em que esteve à frente do cargo:

"Obrigado por esse mandato incrível, a maior maioria conservadora desde 1987, a maior quantidade de votos desde 1979. A razão que lutei tanto nos últimos dias para continuar não era só porque eu queria fazer isso, mas porque sentia que era meu trabalho, meu dever, minha obrigação, continuar a fazer o que prometemos em 2019".

No discurso, Boris disse que "daqui até o novo governo ser implementado, serviremos ao seus interesses e o governo do país continuará". Porém, há pressão dentro e fora do partido para que ele deixe o cargo antes.

*Com informações da BBC e AFP.