Youtubers são agredidos por general de Angola em Brasília e ameaçados
Dois youtubers angolanos foram agredidos por Manuel Santos Nobre, chefe de segurança do presidente angolano, João Lourenço, em frente a um hotel de luxo de Brasília. Eles dizem que passaram a receber ameaças depois que divulgaram o caso nas redes sociais.
De acordo com os youtubers — que se definem como ativistas independentes contra o regime autoritário de Angola —, a agressão ocorreu perto de um hotel de luxo em Brasília, um dia antes da posse do presidente Lula. As vítimas são Francisco João Domingos, conhecido como J Privado, 31, e Magnos Zeferino Capemba Luis, conhecido como Marley, 30.
A agressão foi filmada e divulgada por J Privado e teve repercussão em Angola. Nos dias seguintes, de acordo com ele, foram feitas ameaças de morte aos youtubers e suas famílias —por telefone e por mensagem nas redes sociais.
Nas mensagens, os dois angolanos são chamados "arruaceiros" e "indisciplinados". Os textos dizem ainda que eles "merecem cadeia", "merecem fuzilamento", "que pagarão pelo que fizeram" e que "assinaram suas sentenças de morte".
A reportagem procurou o governo de Angola e a Embaixada angolana no Brasil. Caso seja enviado posicionamento, a reportagem será atualizada.
O que dizem os youtubers
J Privado, que mora há 7 anos no Brasil, disse que mudou de país para fugir da fome em Angola. Aqui, passou a falar sobre política. Quando viu que o presidente João Lourenço viria para a posse de Lula, decidiu se manifestar.
Eu não conseguiria fazer isso em Angola, iria morrer.
J Privado
Quando a comitiva angolana desembarcou no Brasil, em 30 de dezembro de 2022, J Privado e Marley foram para a porta do hotel, em Brasília. A confusão, segundo J Privado, começou no restaurante, quando ele começou a filmar a comitiva.
As agressões físicas ocorreram pouco depois disso, fora do hotel, dizem os youtubers. O chefe de segurança presidencial agrediu Marley e J Privado. "Fui tentar ajudar o Marley e o general veio me dar um chute nos testículos. Quando abaixei ele me deu dois tapas no rosto", afirma.
J Privado diz que começou, então, a se defender. "Nossa cultura não permite agredir pessoas mais velhas, mas foi legítima defesa."
Mais homens da comitiva angolana passaram a agredir a dupla, ainda segundo o relato das vítimas. A Polícia Militar do Distrito Federal chegou e deu voz de prisão ao general angolano.
B.O. por lesão corporal
O caso foi registrado na 5ª Delegacia de Polícia de Brasília como lesão corporal por motivo fútil. O chefe de segurança presidencial de Angola é o agressor, diz o boletim de ocorrência.
Na delegacia, Nobre afirmou que precisou intervir em uma manifestação "para manter a segurança da equipe" e que foi agredido pelos PMs dentro da viatura.
Ontem, a polícia informou ao UOL que o inquérito foi encerrado e encaminhado à Justiça. O Tribunal de Justiça afirmou que o caso está em apuração e o general Manuel é investigado como "suposto autor dos fatos". O processo está em segredo de Justiça.
Vídeo viralizou
No dia seguinte, o vídeo viralizou em Angola e as ameaças começaram a chegar. Ambos têm registros regularizados para permanecer no Brasil, mas estão com medo e pensam em pedir asilo em outro país.
[Recebemos] muitas mensagens falando que merecíamos ser mortos. Nossos familiares nos ligaram chorando falando que estavam sendo ameaçados.
J Privado
Embora diga que é uma democracia, Angola é dirigida pelo mesmo partido desde a independência, há quase 50 anos, e com oposição silenciada.
Para o filósofo angolano Domingos da Cruz, pesquisador da Concordia University, no Canadá, os ativistas têm razão em ter medo. "A militarização é um dos instrumentos do regime autoritário, que mantém o poder pela violência."
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