O que há na Groenlândia, território da Dinamarca que interessa a Trump?
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, já anunciou que pretende anexar territórios estrangeiros como a Groenlândia, atualmente de posse da Dinamarca, e o Canal do Panamá.
Qual é o interesse de Trump na Groenlândia?
Os EUA mantêm a Base Aérea Thule — sua base militar no ponto mais ao norte da Terra, 1.200 km acima do Círculo Polar Ártico — na ilha desde 1951. A localização é estratégica para o país, em uma região rica em recursos naturais como minerais utilizados na fabricação de tecnologia, equipamentos militares e até geradores de energia eólica e smartphones. Este tipo de mineração é hoje dominada pela China.
Groenlândia está "no meio do caminho" até Rússia e China, potências na Europa e Ásia com tensões militares crescentes com os EUA. "Se olharmos para os inimigos primários dos EUA neste momento, temos grande competição com a China por poder. E se principalmente a Rússia enviasse mísseis aos EUA, a rota mais curta seria pelo Polo Norte, por cima da Groenlândia", argumentou Marc Jacobsen, professor no Royal Danish Defence College, à alemã DW.
Greenland is beautiful!!! pic.twitter.com/PKoeeCafPz
-- Donald Trump Jr. (@DonaldJTrumpJr) January 7, 2025
Mudanças climáticas tornam região ainda mais interessante. O degelo no Ártico acaba tornando a passagem pela Groenlândia uma nova rota de envio de produtos comerciais, mais curta e mais eficiente. Navegar pelo Oceano Ártico da Europa Ocidental até o leste da Ásia, por exemplo, representa um caminho cerca de 40% mais curto do que pelo Canal de Suez, apontou o jornal americano The New York Times. O tráfego de navios na região cresceu 37% na última década, segundo um relatório recente do Conselho Ártico. Controle de rotas comerciais pode ser o mesmo motivo do interesse renovado de Trump no Canal do Panamá.
Currículo político de Trump seria "inflado" com a anexação. "É possível que Trump queira se alinhar à tradição de presidentes que expandiram o território americano. No século 19, quando os EUA cresceram em direção ao oeste, depois compraram o Alasca — isso seria algo que faria dele realmente um grande presidente", disse o professor de política internacional e externa na Universidade de Colônia, Thomas Jäger, ao canal alemão NTV.
Ele não é o primeiro presidente americano cobiçando o território. Os EUA teriam tentado comprar a Groenlândia em 1946, mas não houve sucesso, e o presidente Harry Truman acabou se esquivando de responder em público sobre o possível controle da região. Em 1867, o Secretário de Estado William Seward também já havia se interessado na compra.
O que aconteceu
Trump já havia manifestado interesse na Groenlândia em seu primeiro mandato. Em dezembro de 2024, já eleito, ele voltou a chamar a anexação de "necessidade absoluta".
Ele fala em compra do território, embora não descarte ações militares. "Não posso garantir [que não haverá coerção militar ou econômica], mas posso dizer isso: precisamos deles para segurança econômica [dos EUA]", afirmou Trump em entrevista coletiva nesta terça-feira (7).
Greenland loves America and Trump!!! Incredible people with an equally awesome reception. They just want to be able to utilize some of the incredible resources that they have and allow themselves, their country, and their kids to flourish. pic.twitter.com/7TPz0DACKX
-- Donald Trump Jr. (@DonaldJTrumpJr) January 7, 2025
Donald Trump Jr., filho do mandatário, desembarcou na Groenlândia nesta terça. Na segunda, em uma publicação em sua rede Truth Social, Trump afirmou que o filho iria ao território "com vários representantes" para "visitar algumas das áreas mais magníficas e com as melhores vistas".
Tenho ouvido que o povo da Groenlândia é 'MAGA'. A Groenlândia é um lugar incrível e as pessoas se beneficiarão tremendamente se, e quando, se tornar parte da nossa nação. Nos vamos protegê-la e cuidar dela, de um mundo muito perverso lá fora. Torne a Groenlândia Grande Novamente. Escreveu Donald Trump na Truth Social, em referência ao seu movimento político e slogan, "Make America Great Again" (Torne a América Grande Novamente, em tradução livre).
Trump Jr. realiza uma espécie de campanha de opinião nas redes durante a visita. Ele postou imagens de um cidadão local usando um boné MAGA e pedindo ao seu pai que compre a Groenlândia para libertá-la do "domínio colonial dinamarquês".
O que diz o governo dinamarquês?
Groenlândia não está à venda, diz a Dinamarca. Apesar de o território ser autônomo, a primeira-ministra dinamarquesa Mette Frederiksen chamou a ideia de Trump de anexar a Groenlândia de "absurda". No entanto, seu governo tem preferido observar o xadrez geopolítico no momento, em vez de tomar posições mais firmes em relação aos EUA.
Greenland coming in hot? well, actually, really really cold!!!! pic.twitter.com/IhLKVOfYVM
-- Donald Trump Jr. (@DonaldJTrumpJr) January 7, 2025
Já o primeiro-ministro da Groenlândia, Múte Egede, reforçou o desejo de independência da região. Antes da coletiva de Trump na terça, Egede postou no Facebook a seguinte mensagem: "Deixe-me repetir: a Groenlândia pertence ao povo da Groenlândia. Nosso futuro e nossa luta pela independência [da Dinamarca] é problema nosso". Em dezembro de 2024, ele já havia garantido que a Groenlândia nunca estará à venda.
[Dinamarca e EUA] têm direito às opiniões deles, mas não devemos deixar pressões externas nos distrair de nosso caminho [de independência]. Múte Egede, primeiro-ministro da Groenlândia
A parlamentar Aaja Chemnitz garantiu que, apesar de a população da Groenlândia poder ter algum interesse em Trump, isso não quer dizer que eles queiram ser cidadãos americanos. "A Groenlândia não é MAGA. A Groenlândia não será MAGA. Acho que a maioria na Groenlândia acha assustador, na verdade, e muito desconfortável que haja tanto foco [no território] e que os EUA de uma maneira verdadeiramente desrespeitosa estejam demonstrando que querem comprar ou controlar a Groenlândia, porque não é o que a população quer", garantiu à rede CNN.
A Groenlândia é habitada pelo povo indígena inuit, popularmente conhecidos como esquimós, e possui cerca de 56 mil habitantes. Ela foi colonizada no século 18 pela Noruega e a Dinamarca. Após a Segunda Guerra, a Groenlândia deixou oficialmente de ser uma colônia, conquistando a autonomia em 1979, mas mulheres da ilha foram submetidas a controle obrigatório de natalidade e tiveram filhos raptados e levados para a Dinamarca. Os horrores daquele período são a base do desejo de independência da ilha.
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