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'Parece filme de terror', diz brasileiro em Gaza sobre espera para voltar

Do UOL, em São Paulo

03/11/2023 10h26Atualizada em 03/11/2023 18h21

O comerciante Hasan Rabee, 30, disse que espera "todos os dias" pelo momento em que ele, a mulher e as duas filhas deixarão a Faixa de Gaza. Ele faz parte do grupo de 34 pessoas que se inscreveram para ser repatriadas ao Brasil após a intensificação dos bombardeios israelenses.

O que aconteceu

Rabee disse que a espera para voltar a São Paulo, cidade em que vivia com a família, "parece um filme de terror". "A gente está louco, acordamos todos os dias com a expectativa de sair daqui. Estou louco para voltar para casa."

Ele saiu de São Paulo para visitar a mãe na Faixa de Gaza no final de setembro e não conseguiu mais sair de lá. Com a intensificação dos bombardeios, ele, a esposa e suas duas filhas vivem agora com outros 18 familiares que vieram do Norte de Gaza e se acomodaram na casa da mãe dele, em Khan Yunis, no Sul da região.

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Pelo terceiro dia consecutivo, os brasileiros ficaram de fora da lista de nacionalidades autorizadas a deixar a Faixa de Gaza, de acordo com o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas. "Quem está saindo são países aliados de Israel. Quem é contra o que Israel está fazendo vai sair por último", afirma Rabee.

Expectativas frustradas

Rabee disse que ele e a família não dormem à espera da divulgação das listas com as nacionalidades autorizadas a deixarem Gaza. "A gente nem dorme porque as listas são publicadas por volta das 1h ou 2h"

A última lista de pessoas liberadas para saírem da Faixa de Gaza pela passagem de Rafah para o Egito traz 571 nomes. "Ainda sem brasileiros", disse o embaixador Alessandro Candeas. "Ficamos bem chocados com essas listas", disse Rabee.

O comerciante brasileiro-palestino disse que a Embaixada do Brasil está enviando ajuda financeira. Contudo, o problema, segundo ele, é a falta de itens como água e alimentos. "Estão mandando recursos e dinheiro, mas não conseguimos achar uma garrafa de água mineral no mercado. Não adianta ter dinheiro e não ter produto."

A espera provoca angústia em toda a família, segundo Rabee. "Cada dia que passa é um sofrimento. Estamos prontos faz 20 dias. só temos uma roupa para trocar, os armários estão vazios. Se me falam para ir para a fronteira já estou pronto."

Perguntado sobre o que fará quando chegar ao Brasil, Rabee diz que "só precisa chegar". "Faz semanas que a gente não consegue nem tomar banho. Só deixamos uma comida estocada para os próximos dias."

'Quando vamos voltar?'

Rabee elogiou o trabalho do embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeas, e do presidente Lula nas negociações para a repatriação dos brasileiros. Mas, segundo ele, é urgente que o presidente questione as autoridades de Israel.

Se eu pudesse pedir ao presidente Lula ou se fosse da diplomacia do Brasil, chamaria o embaixador de Israel pediria uma previsão de quando os brasileiros vão sair [da Faixa de Gaza]. É a única coisa que tem que ser perguntada.
Hasan Rabee, brasileiro-palestino na Faixa de Gaza

O brasileiro-palestino disse que o grupo vive como refém na Faixa de Gaza, em meio à intensificação dos bombardeios.

Os primeiros cidadãos autorizados a deixar Gaza na primeira lista eram da Austrália, Áustria, Bulgária, Finlândia, Indonésia, Jordânia, Japão e República Tcheca. Além deles, havia também feridos e integrantes de organizações humanitárias, como a Cruz Vermelha. No total dessa lista, foram 335 estrangeiros, além de 76 palestinos feridos.

"Os bombardeios estão bem piores, não existe segurança", diz Rabee. Segundo ele, os piores momentos são os bombardeios que ocorrem próximos ao prédio em que estão: "Houve dois bem perto de nós, muita gente ficou ferida e a gente assistiu isso". O embaixador do Brasil na Palestina afirmou que as explosões atingem prédios e imóveis ao redor das casas protegidas, assustando a população.

Vimos pela janela bastante gente ferida, as janelas ficaram todas quebradas. Em outro momento, uma casa vizinha foi atacada. Parecia uma chuva de pedaços de concreto vindo em nossa direção. Nos últimos dias, piorou bastante.
Hasan Rabee

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