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'A gente pensou que ia morrer', diz jovem brasileira resgatada de Gaza

Carolina Nogueira

Colaboração para o UOL, em Brasília

14/11/2023 04h24

A brasileira Shahed Al-Banna, 18, relatou o medo que sentiu de não conseguir sair e morrer na Faixa de Gaza quando a guerra entre Israel e Hamas começou. Ela é uma das 32 pessoas que chegaram ontem a Brasília no avião da FAB cedido pela Presidência da República.

O que aconteceu

Shahed morou em São Paulo, mas se mudou para Gaza há um ano e meio para acompanhar a mãe que teve câncer e foi se despedir dos parentes no país de origem.

Infelizmente ela faleceu quando chegamos lá. Quando começou a guerra, em 7 de outubro, deveria ser um dia normal, eu estava me preparando para ir para a faculdade de manhã e de repente começou a cair bomba, começaram a bombardear todos os lugares sem aviso e a gente ficou assustada
Shahed Al-Banna, brasileira resgatada

Emocionada, a jovem contou que perdeu muitos familiares, amigos e até a própria casa na guerra.

A gente chegou a pensar que não iríamos mais conseguir sair de lá, que iríamos todos morrer e ninguém vai saber da gente. Mas graças a Deus, graças ao governo, ao presidente, à Força Aérea a gente está aqui agora
Shahed Al-Banna, brasileira resgatada

Outro brasileiro que estava no avião é Hasan Rabee, 30. Ele nasceu em Gaza, mas tem cidadania brasileira. Rabee saiu de São Paulo para visitar a mãe no final de setembro e não conseguiu retornar ao Brasil com o início da guerra.

Ficamos lá 37 dias. Foi muito sofrimento. Às vezes, a gente até passava fome, passava sede. Queria agradecer à Embaixada do Brasil, nos deram bastante suporte, alimentação, recursos para a gente comprar comida
Hasan Rabee, palestino-brasileiro

Ele ficou conhecido por publicar nas redes socias o cotidiano de quem está na zona de conflito e a angústia para atravessar a fronteira e chegar ao Egito.

O que está acontecendo lá na verdade é um massacre. Difícil para todos vocês entender o que a gente passou lá. As bombas caindo por todo lado, as minhas filhas ficaram muito chocadas lá, muito triste
Hasan Rabee, palestino-brasileiro

O palestino relatou que, nas primeiras semanas da guerra, dizia às suas filhas que as bombas eram de festas de aniversário, mas, depois de um tempo, não tinha mais como manter essa versão.

Quando começaram a entender o que estava passando, quando chegava avião militar israelense, elas fechavam a janela porque achavam que assim ficariam protegidas.

A mãe e a irmã de Rabee ficaram em Gaza e aguardam a autorização de Israel para que elas consigam sair da região.

Brasileiros chegam de Gaza

Um grupo de 32 pessoas desembarcou na base aérea de Brasília em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

A aeronave cedida pela Presidência da República decolou do Cairo, no Egito, com 22 brasileiros e dez palestinos —parentes dos brasileiros trazidos no voo. Os passageiros são 17 crianças, nove mulheres e seis homens.

Duas crianças com quadro de desnutrição foram atendidas ainda na pista de pouso, em uma ambulância, e foram encaminhadas a um hospital local na sequência.

Em Brasília, os resgatados ficarão hospedados por dois dias no hotel da FAB, com alimentação, cuidados médicos e psicológicos e acesso a serviços de regularização da documentação.

Após esse período, parte dos brasileiros que têm família no país seguirão para os seus destinos. O outro grupo será levado, em avião da FAB, para Guarulhos (SP) e encaminhado para um abrigo no interior de São Paulo.

Das 32 pessoas, 24 vão para São Paulo, sendo que 12 ficarão em um abrigo no interior do estado paulista, uma vai para Novo Hamburgo (RS), duas para Florianópolis (SC), uma para Cuiabá (MT) e quatro ficam em Brasília.

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