Amigos discordam, diz Blinken ao comentar declaração de Lula sobre Israel
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, minimizou o impacto da crise entre Brasil e Israel ao ser questionado sobre a declaração de Lula (PT) — que comparou o massacre de civis em Gaza com a perseguição dos judeus por Hitler. "Amigos fazem isso, podemos discordar", respondeu.
O que aconteceu
Blinken disse "discordar veementemente" da fala de Lula, mas destacou aspectos positivos da relação com o Brasil — inclusive na busca por um cessar-fogo no Oriente Médio. A declaração foi em coletiva hoje (22) durante reunião preparatória do G20 no Rio de Janeiro.
O secretário de Joe Biden evitou adotar um tom crítico sobre a fala do presidente. Em dois momentos, ele exaltou o nível de diálogo com Lula — que o recebeu ontem, em Brasília. Blinken procurou enfatizar o papel do Brasil como um aliado global e reafirmou que o país tem um papel importante na solução do conflito entre Israel e Hamas.
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Blinken ainda defendeu os vetos dos Estados Unidos a resoluções no Conselho de Segurança da ONU para estabelecer um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Segundo ele, a diplomacia norte-americana considera que a resolução, por si só, não teria o poder de interromper o conflito e que não é a melhor estratégia de negociação.
A reunião do G20 ocorre em um momento de crescente preocupação internacional com a iminência de um ataque terrestre de Israel contra a região de Rafah, no sul de Gaza. A região abriga cerca de 1 milhão de palestinos, que estão abrigados de maneira precária, com escassez de água, comida e assistência médica.
Temos diferenças em certos aspectos e nesse tema em particular [a comparação de Lula], eu discordo profundamente. Amigos fazem isso, podemos discordar e continuar o trabalho vital que fazemos juntos. Estamos compartilhando objetivos comuns, de libertar os reféns, implantar um cessar-fogo e encerrar esse conflito. Essa foi a natureza da nossa conversa.
Antony Blinken, secretário de Estado dos Estados Unidos
Ao fim do encontro de ontem, Lula e o principal auxiliar de Joe Biden em questões internacionais posaram sorridentes para fotos e procuraram passar um balanço positivo do encontro. Não houve cobrança em relação à fala de Lula.
Contra a Rússia
Na coletiva desta quinta, Blinken ainda disse que em breve o governo americano irá adotar novas sanções contra a Rússia por conta da invasão da Ucrânia. Ele afirmou que a perseguição a Alexei Navalny, opositor de Vlamidir Putin que morreu numa prisão no Ártico recentemente, demonstra fraqueza do regime do Kremlin.
"Putin viu a necessidade de persegui-lo, envenená-lo e colocá-lo na prisão. Isso não fala só sobre a força do governo russo, mas de sua fraqueza também".
Comparação em discurso
No último domingo (18), na Etiópia, Lula subiu o tom contra o governo israelense. O presidente brasileiro afirmou: "O que está acontecendo na Faixa de Gaza, com o povo palestino, não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler decidiu matar os judeus".
A declaração comparando a ação israelense com o nazismo acirrou o clima com o governo de extrema direita de Benjamin Netanyahu. O embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, foi convocado para uma reunião no Museu do Holocausto e exposto a uma humilhação pública ao ser repreendido na frente a imprensa israelense.