Equipe tem dificuldades para velar Navalni: 'Ameaçam não levar o corpo'
Do UOL, em São Paulo
29/02/2024 11h50Atualizada em 29/02/2024 12h01
A equipe do opositor do governo russo, Alexei Navalni, diz enfrentar dificuldades para realizar o velório, que está previsto para acontecer em uma igreja em Moscou nesta sexta-feira (1º).
O que aconteceu
"Ameaçam não levar o corpo". Segundo a porta-voz de Navalni, Kira Yarmysh agentes funerários têm se negado a transportar o corpo até a igreja.
"No início não pudemos alugar uma sala funerária para nos despedirmos de Alexei. Agora, quando apenas um funeral deveria acontecer na igreja, os agentes rituais nos dizem que nem um único carro funerário concorda em levar o corpo para lá", disse ela em publicação no X, antigo Twitter.
Pessoas desconhecidas ligam para todas as equipes e ameaçam não levar o corpo de Alexei para lugar nenhum
Kira Yarmysh, porta-voz de Navalni
Esposa da Navalni teme prisões. "Ainda não tenho certeza se será pacífico ou se a polícia prenderá aqueles que forem se despedir do meu marido", afirmou Yulia no Parlamento Europeu.
Yulia Navalnaya não vai se despedir do marido. Segundo a mídia estatal russa, ela será presa se pisar no país.
O funeral
O funeral será na Igreja do Ícone da Mãe de Deus em Maryino, em Moscou, às 14 horas local. O sepultamento acontece no cemitério Borisovski, informou a equipe de Navalni no Telegram.
Público deve "chegar com antecedência". Orientação foi passada pela porta-voz de Navalni, Kira Yarmysh.
Polícia pode interromper a cerimônia caso entenda se tratar de uma manifestação política, de acordo com as leis russas de protesto. Autoridades temem que o funeral se torne um movimento antigovernamental em massa às vésperas das eleições presidenciais.
Aliados acusam Putin de assassinato
Navalni morreu em 16 de fevereiro na prisão. Ele era uma das principais figuras de oposição ao governo de Vladimir Putin havia mais de uma década.
Segundo o governo russo, Navalni passou mal após uma caminhada na colônia penal de Kharp, onde estava detido, a quase 2 mil quilômetros de Moscou. O local fica próximo do Círculo Polar Ártico, onde as temperaturas podem chegar a -30ºC.
Aliados de Navalni acusam o presidente russo Vladimir Putin de assassinato. Segundo eles, Putin não tolerava a ideia de Navalni ser solto após uma troca de prisioneiros. A Rússia diz não ter conhecimento sobre nenhum acordo para libertar o ativista.
Em 2020, o ativista foi envenenado com uma substância de uso militar, durante uma viagem a negócios. Ele só sobreviveu porque sua família e autoridades internacionais insistiram em levá-lo de avião para um longo tratamento na Alemanha. O governo russo negou qualquer envolvimento.
Há uma série de mortes misteriosas ligadas ao governo da Rússia. Por exemplo, o fundador do grupo mercenário Wagner, Yevgeny Prigozhin, morreu no ano passado com outras nove pessoas, na queda de um jato particular. Dois meses antes, ele havia liderado um motim contra Moscou.
Laudo russo aponta morte por causas naturais
Laudo atribui a morte de Navalni a causas naturais. A mãe do ativista, Lyudmila Navalnaya, recebeu o documento. Ela só pôde ver o corpo do filho quase uma semana após o anúncio da morte.
A família diz que foi chantageada para aceitar um "funeral secreto". "Estou gravando esse vídeo porque eles começaram a me ameaçar. Eles me olharam nos olhos e disseram que, se eu não concordar com um funeral secreto, vão fazer algo com o corpo do meu filho", disse a mãe, em um vídeo publicado no YouTube.
A equipe de Navalni passou a oferecer uma recompensa por detalhes sobre a morte dele. O denunciante pode obter, também, apoio para deixar a Rússia, caso deseje.
Não importa qual é o seu estatuto ou se partilha as opiniões políticas de Alexei Navalni. Existem princípios universais básicos: não se pode zombar de uma mãe e chantageá-la com o corpo do filho assassinado. Você não pode e não deve apoiar isso. Mostre humanidade, demonstre simpatia pela mãe que perdeu o filho. Não apoie a crueldade absolutamente infernal e os crimes imorais de Putin
Pedido de informações sobre morte de Alexei Navalni
*Com informações de AFP, Reuters e ANSA