Superterça: o que está em jogo hoje na corrida eleitoral nos EUA
Laila Nery
Colaboração para o UOL, em São Paulo
05/03/2024 04h00
A superterça, que ocorre hoje (5), é a data mais importante no calendário eleitoral antes das eleições gerais nos Estados Unidos.
O que acontece
Quinze estados vão votar simultaneamente — com o objetivo de definir os candidatos que vão disputar as eleições. No sistema de votação dos EUA, os eleitores não escolhem os candidatos diretamente. Em vez disso, elegem delegados que, nas convenções partidárias, ficam encarregados de votar nos candidatos que vão concorrer à presidência.
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Além dos estados, o território de Samoa Ocidental vai realizar primárias hoje pelos Democratas. Quem determina as regras, incluindo quem pode ou não votar, são os estados e partidos individualmente.
Os dois estados com maior número de delegados terão plenárias hoje. São eles: Califórnia, com 54 representantes, e Texas, com 40. Estados com maior população têm mais delegados e são mais disputados — eles podem influenciar mais no rumo da campanha eleitoral.
As prévias americanas acontecem até o meio do ano. A primeira republicana aconteceu em 15 de janeiro em Iowa e Trump venceu com folga os demais candidatos.
Para entender a origem desse sistema, temos que voltar ao início da democracia dos Estados Unidos. No final do século 18 e início do 19, o sistema eleitoral foi pensado para ter apenas os votos de uma elite intelectual que representasse todo o povo. Desde então, esse foi o sistema pensado para que o povo não pudesse escolher diretamente os representantes -- inclusive, o próprio presidente.
Paulo Velasco, professor de Política Internacional da Uerj
Quem concorre
Tradicionalmente, a superterça é decisiva para os dois principais partidos na escolha dos seus candidatos oficiais. Como o atual presidente Joe Biden segue invicto na disputa pela candidatura no Democratas, as atenções se voltam para a disputa do Partido Republicano.
Os republicanos escolhem se serão representados pelo ex-presidente Donald Trump ou por Nikki Haley, ex-governadora da Carolina do Sul. Haley teve a primeira vitória nas primárias do partido em Washington, capital dos EUA, no fim de semana.
Já Trump obteve um resultado significativo ontem. A Suprema Corte dos Estados Unidos rejeitou decisão judicial que o tirou das urnas no Colorado — e a decisão vale para outros estados. Ou seja, ele está elegível.
Biden em segundo lugar. A última pesquisa do New York Times, realizada no fim de semana, apontou que Donald Trump lidera a corrida eleitoral, com 48% das intenções de voto. Joe Biden tem 43%.
A campanha deve aquecer mediante a presença de Biden nas plataformas de mídias sociais — Trumpo foi banido das maiores redes — e o desempenho econômico dos Estados Unidos. Conflitos na Faixa de Gaza e o apoio do governo norte-americano a Israel podem prejudicar Biden, na avaliação de analistas.
Em Michigan, a comunidade de árabes-americanos é muito importante e foi decisiva para a vitória de Biden em 2020. Agora, acredito que boa parte dessa população não sairá de casa para votar, em resposta ao apoio a Israel -- uma espécie de retaliação que pode levar Trump à vitória.
Paulo Velasco, professor de Política Internacional na Uerj
O que vem depois?
Depois das plenárias estaduais, o vencedor é oficialmente indicado na convenção do partido. A Convenção Republicana vai ser realizada de 15 a 18 de julho em Milwaukee, no Wisconsin. E a Democrata, de 19 a 22 de agosto, em Chicago.
Há também a definição dos vices das chapas. No caso do Biden, a vice será mais uma vez será Kamala Harris. No caso de Trump, o cargo ainda está em aberto.
A partir de setembro, acontecem os debates presidenciais televisionados e a eleição geral será em 5 de novembro. A decisão fica a cargo dos delegados que formam o chamado Colégio Eleitoral, composto por 538 pessoas. Assume a Casa Branca quem conseguir maioria, ou seja, pelo menos 270 votos.
Ainda estamos em março e é difícil prever os resultados dessa corrida eleitoral, a disputa será acirrada. Embora a economia esteja se recuperando, a vida dos americanos não está.
Paulo Velasco, professor de Política Internacional na Uerj