'Crianças voaram e bateram no teto', diz brasileiro sobre voo da Latam
O designer de interiores Henrique Cidreira, 36, relatou ter visto cenas traumatizantes durante incidente que ocorreu no voo da Latam entre a Austrália e a Nova Zelândia. O brasileiro relata que a aeronave sofreu uma queda brusca durante a viagem, que fez com que passageiros voassem dos assentos.
O que aconteceu:
Treze pessoas precisaram ser hospitalizadas, incluindo dois brasileiros. O voo, que saiu de Sydney, pousou em Auckland às 16h26 no horário local (0h26 no horário de Brasília), e transportava 263 passageiros e 9 tripulantes técnicos e de cabine. O destino da aeronave era Santiago, no Chile, de onde alguns passageiros partiriam para o Brasil.
Fui arremessado da poltrona onde estava para duas atrás da minha. Fiquei no chão, preso entre as poltronas e o corredor. Foi uma coisa de segundos. Teve a queda brusca e depois o voo voltou ao normal. Mas esses segundos foram aterrorizantes. Todo mundo teve a sensação que iria morrer.
Henrique Cidreira
A viagem estava normal, mas 40 minutos antes de pousarem, ocorreu o incidente. "Meu namorado tinha acabado de voltar do banheiro e estávamos assistindo a um filme. Por isso, estávamos sem cinto, ele tinha acabado de sentar e estava na poltrona da janela. Foi tudo muito rápido, coisa de segundos. O avião deu uma queda muito brusca e a gente achou que iria realmente cair."
Quando consegui levantar, vi muita gente ferida. Uma senhora teve fratura no braço e colocaram proteção no pescoço dela. Ela foi deitada no chão, até quando houve o pouso. Tinha um senhor próximo da gente que cortou a cabeça e estava sangrando muito. Um comissário de bordo na cozinha que bateu no teto e estava no chão, com muita dor. Muitas crianças chorando, as pessoas estavam apavoradas. Olhávamos e tinham pessoas com escoriações, olho roxo, cabeça e braço machucado. Uma cena horrorosa.
Alguns relataram desmaios após impactos. "Esse senhor que estava próximo ficou desmaiado durante um tempo, com a cabeça sangrando. Tinha uma mãe com duas crianças, que também voaram e bateram no teto. O impacto abriu o forro entre o teto e os compartimentos da bagagem. Ela disse que uma das crianças desmaiou, mas não sabia se foi porque bateu a cabeça ou se assustou."
Comissários pediram para que profissionais da saúde presentes auxiliassem os passageiros. "Eles foram ao microfone de imediato solicitaram médicos ou enfermeiros que pudessem ajudar para dar os primeiros socorros aos que estavam feridos. Muita gente se voluntariou. Estávamos todos em muito choque, tremendo."
Ninguém deu explicações do que teria acontecido. "Antes de pousar ficamos em total silêncio, só os tripulantes estavam correndo de um lado para outro auxiliando as pessoas feridas, mas os pilotos não falaram absolutamente nada. A nossa reação foi apenas voltar para o assento e colocar o cinto. A gente tava esperando acontecer [a queda] novamente. Achávamos que o avião realmente ia cair, mas depois normalizou. Tinham ambulâncias à nossa espera quando aterrissamos. Os paramédicos vieram fazer alguns atendimentos e as pessoas foram saindo da aeronave de acordo com a gravidade dos ferimentos."
Henrique viu depois que também tinha escoriações, mas preferiu não fazer atendimento no local. "Na hora estava sentindo dor no pescoço e nas costas, mas achava que era superficial e acabei não ficando. Mas ainda sinto dor, e sei que muitas pessoas também estão se recuperando. Na adrenalina a gente não sente, mas depois vê que tá mal."
O voo para o Chile foi cancelado. "O avião era o mesmo que iria para o Chile. O pouso foi perfeito, as pessoas bateram palmas, agradecendo que estávamos no chão. Quando aterrissamos, estava marcando nos embarques que ele sairia. Mas minutos antes, cancelaram. Ele estava muito quebrado por dentro, com muito sangue, água derramada e coisas jogadas por todo canto. Todo mundo agradeceu que cancelaram. Ninguém queria entrar de novo naquele avião. Orientaram irmos a um hotel porque só teríamos um voo para o dia seguinte, às 20h. As orientações foram praticamente no boca a boca."
Após o incidente, Henrique diz que houve despreparo da empresa. "Foi horrível o atendimento. Ficamos dois dias praticamente no aeroporto. Além disso, era tudo mal-informado. Tivemos perdas materiais, com equipamentos quebrados, celulares trincados, além dos danos físicos e psicológicos. Foi tudo traumático. Algo que nunca passei na minha vida."
Incidente foi "evento técnico", diz Latam. Em nota, a companhia aérea informou que a aeronave pousou no horário programado em Auckland após "forte movimentação durante o voo". As causas estão sendo investigadas e a Latam disse estar trabalhando de forma coordenada com as autoridades competentes para auxiliar nas apurações sobre o caso.
Passageiros chegaram ontem no Chile. "A LATAM forneceu alimentação, hospedagem e transporte aos passageiros afetados pela suspensão do voo. A LATAM Airlines Group tem como prioridade dar assistência aos passageiros e tripulantes do voo, e lamenta os inconvenientes causados por esta situação. Além disso, reforça o seu compromisso com a segurança como um valor inegociável das suas operações", disse a empresa em nota.
Latam diz que coopera com investigações. "O LATAM Airlines Group está trabalhando de forma coordenada com as autoridades competentes para auxiliar nas investigações sobre o caso." Segundo a empresa, para ter informações sobre motivo e/ou resultado final da investigação, é preciso buscar pelos órgãos responsáveis pela investigação do incidente, nesse caso da Nova Zelândia e do Chile.