346 mortes: por que passageiros estão se recusando a voar de Boeing 737 Max

O Boeing 737 Max está sendo rechaçado por passageiros nos Estados Unidos. A segurança do modelo tem sido questionada, já que ele esteve envolvido em uma série de incidentes pelo mundo, incluindo dois casos fatais.

O que aconteceu

05.jan.24 - Máscaras de oxigênio caem após porta se desprender de um avião da Alaska Airlines, que tinha como destino Ontário, Califórnia
05.jan.24 - Máscaras de oxigênio caem após porta se desprender de um avião da Alaska Airlines, que tinha como destino Ontário, Califórnia Imagem: Kyle Rinker/Kyle Rinker via REUTERS

Um incidente envolvendo um Boeing 737 Max 9, última geração do modelo, fez com que a FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA) abrisse uma auditoria para investigar a qualidade da aeronave. Na ocasião, o avião da Alaska Airlines teve que fazer um pouso de emergência após a porta do avião se abrir durante o voo.

A FAA ainda limitou a produção de novas aeronaves do mesmo modelo. A agência está analisando "se a Boeing não conseguiu manter o seu sistema de qualidade de acordo com os regulamentos federais" e "potenciais reformas focadas na segurança em torno do controle de qualidade", segundo um porta-voz disse à CNN

A companhia aérea anunciou que suspenderia temporariamente a operação das 65 aeronaves do modelo até o fim de uma inspeção de manutenção e segurança. No entanto, essa não foi a primeira vez que um modelo se envolveu em incidentes.

Após o incidente em janeiro, as companhias aéreas a Alaska e a United, que utilizam o modelo Max 9, disseram que os passageiros que não desejassem voar na aeronave poderiam remarcar com isenções. A possibilidade já expirou, segundo a CNN, mas a Alaska manteve a política.

Uma má fama

Imagem de arquivo de um avião Boeing 737 MAX 8 da companhia Ethiopian Airlines
Imagem de arquivo de um avião Boeing 737 MAX 8 da companhia Ethiopian Airlines Imagem: Divulgação/Boeing

O modelo já registrou dois acidentes fatais. Um ocorreu em outubro de 2018, durante o voo 610 da Lion Air, na Indonésia. O avião caiu no mar logo após decolar, deixando 189 pessoas mortas, sem sobreviventes. Na ocasião, a empresa afirmou que o avião era novo, estando em operação há menos de três meses. O segundo foi o voo 302 da Ethiopian Airlines, também após a decolagem, em março de 2019. O acidente matou outras 157 pessoas. Ambos casos se tratavam de um Boeing 737 Max 8, uma versão anterior.

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Na época, mais de 40 países suspenderam as operações com o Boeing 737 Max até que a causa das tragédias fosse determinada. Já a China suspendeu definitivamente o uso das aeronaves após os dois acidentes.

Em maio de 2019, a Boeing reconheceu pela primeira vez defeitos no software do simulador de voo da aeronave. O fator que poderia ter causado os acidentes foi uma falha do MCAS (Sistema de Aumento de Características de Manobra), responsável pela estabilização da inclinação do avião, segundo a CNN. A companhia informou recentemente que conseguiu solucionar um problema de qualidade com um de seus fornecedores, que a havia obrigado a realizar longas inspeções em seu novo 737 Max.

Mas novos defeitos foram encontrados. No ano passado, a entrega de aviões 737 teve que ser suspensa também por falhas na perfuração de centenas de buracos na fuselagem - mais precisamente, na antepara de pressão traseira, barreira que sela os fundos da aeronave. Agora, um fornecedor afirmou que cometeu erro na perfuração de buracos na fuselagem, afetando 50 aeronaves que ainda não foram entregues aos compradores.

Relatório nos EUA apontou falhas no modelo. Em 2020, um relatório do Congresso dos Estados Unidos apontou "falhas de design e uma cultura de acobertamento" na companhia, bem como falhas por parte da FAA.

Repercussão

Passageiros nos Estados Unidos estão se recusando a voar no modelo, segundo a CNN. A publicação ouviu uma série de clientes de companhias aéreas que se atentam com o modelo do avião até na hora de comprar as passagens.

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Não importa qual modelo, não quero voar neles. O incidente no Alasca foi mais uma confirmação de que a Boeing ainda não está sendo minuciosa e não resolvendo seus problemas.(...) Meu namorado não queria que eu voasse nele. Então, mudei meus planos de viagem para ter certeza de que não voaria em nenhum tipo de Max.
Belén Estácio, moradora da Flórida, à CNN

Procurei ativamente companhias aéreas que não tivessem o Max (...). Assisti [ao documentário 'Downfall: The Case Against Boeing', da Netflix], e pensei que [a Boeing] era uma organização que colocava o lucro acima das pessoas, e pensei: 'Isso não é para mim'. Não me vejo voando em um [Boeing] em um futuro próximo.
Elayne Grimes, consultora de comunicação do Reino Unido

A razão pela qual a cultura [da Boeing] é tão prejudicial é porque eles estão num jogo de números e querem obter o máximo lucro possível a qualquer custo. E para mim, isso me custou minha amiga. (...) Eu nunca conhecia modelos de aviões antes disso, mas aprendi como ver o modelo na hora de comprar uma passagem. Tenho amigos que perguntam como podem trocar de voo ou descobrir como evitar voar nisso. Aprendi muito - não quero que isso aconteça com mais ninguém.
Deveney Williams, amiga da vítima de acidente da Ethiopian Airlines

Cheguei ao aeroporto e verifiquei novamente que não era o Max. Passei pela segurança, tomei café. Entrei no avião - pensei, é meio novo. Então me sentei e no cartão de emergência [no bolso do assento] dizia que era um Max. Uma comissária de bordo estava fechando a porta da frente. Eu disse: 'Eu não deveria voar em um Max'. Ela disse: 'O que você sabe sobre o Max?' Eu disse: 'Não posso entrar em detalhes agora, mas não estava planejando voar em um Max e quero sair do avião.
Ed Pierson, diretor executivo do grupo de vigilância aérea Foundation for Aviation Safety

O modelo também foi criticado pelos próprios funcionários da empresa. Trechos de uma comunicação interna foram divulgados em um relatório elaborado pelo Comitê de Transporte e Infraestrutura da Câmara dos EUA. Nele, o comitê diz que houve "graves falhas e erros no projeto, desenvolvimento e certificação da aeronave", segundo apurou a CNN.

Você colocaria sua família em uma aeronave treinada no simulador Max? Eu não faria isso.
Texto de funcionário da Boeing obtido pelo relatório

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Este avião foi projetado por palhaços, que por sua vez são supervisionados por macacos.
Texto de funcionário da Boeing obtido pelo relatório

A Boeing disse que as comunicações "são completamente inaceitáveis". A empresa disse que os textos "não refletem a empresa que somos e precisamos de ser", e emitiu um comunicado reconhecendo as conclusões do comitê e dizendo que as vítimas dos acidentes estavam "em nossos pensamentos e orações", segundo a CNN.

E no Brasil?

No Brasil, não há Boeing 737 Max-9, o mesmo modelo do incidente do Alaska, em operação. A informação foi confirmada pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Em nota, a Anac acrescentou que nem mesmo a panamenha Copa Airlines utiliza esse tipo de aeronave no país. No ano passado, a Copa Ailrines havia anunciado a operação dos voos entre o Panamá e o Rio de Janeiro com o Boeing 737 Max-9.

Na frota da empresa consta o Boeing 737-900, que é um modelo distinto do 737 MAX 9.
Nota da Anac

No entanto, Boeing 737 Max 8 está em operação. A Anac havia suspendido as operações do modelo em 2019, o ano do acidente da Ethiopian Airlines. No entanto, no ano seguinte, a agência aprovou a retomada das operações do modelo "após concordar com a avaliação da FAA de que todos os elementos técnicos e regulatórios necessários para endereçar as questões de segurança foram realizados", diz nota publicada em novembro de 2020. Ao UOL, a agência confirmou a continuidade do modelo no país e disse que "a Gol possui o Boeing 737 Max 8 em suas Especificações Operativas, podendo operá-lo no Brasil."

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O que diz a Boeing?

Todos os dias, mais de 80 companhias aéreas operam cerca de 5.000 voos com a frota global de 1.300 aviões 737 MAX, transportando 700.000 passageiros aos seus destinos com segurança. A confiabilidade em serviço da família 737 MAX está acima de 99% e é consistente com outros modelos de aviões comerciais.
Um porta-voz da Boeing à CNN

*Com informações da Agência Estado, RFI, DW

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