'Não cabíamos': ilha no Caribe é esvaziada após elevação do nível do mar
Do UOL, em São Paulo
13/06/2024 04h00
As frentes das 300 novas casas, construídas em cima de um campo de mandioca na costa do Panamá, começaram a receber redes na última semana. Quem vai morar ali são famílias indígenas da etnia Guna, que antes habitavam a ilha de Gardi Sugdub.
O local é o primeiro a ser evacuado no Caribe por causa do aumento do nível do mar. Agora, os antigos moradores transportam fogões, cilindros de gás, colchões e pertences em barcos e caminhões para Isberyala.
O povo indígena que vivia na ilha é o primeiro de 63 comunidades ao longo das costas do Caribe e do Pacífico do Panamá que devem ser forçadas a se mudar nas próximas décadas, conforme preveem autoridades e cientistas.
Todos os anos, o nível da água sobe, enche as ruas e entra nas casas. Durante os meses de novembro e dezembro, chove forte na região. As alterações climáticas também aquecem os oceanos e alimenta tempestades cada vez mais fortes.
Os moradores já veem diferença na nova residência. "Aqui é mais fresco. Lá (na ilha) a essa hora do dia está um forno", afirmou Augusto Walter, de 73 anos, à Associated Press. Ele vai dividir a casa com a esposa e mais três membros da família.
Em Gardi Sugdub, cerca de 200 famílias escolheram ficar enquanto a retirada não é obrigatória. Quem optou por permanecer construiu um novo imóvel, com dois andares. A maioria das famílias já migrou completamente para Isberyala ou está em processo de mudança.
Honestamente, não sei por que as pessoas querem morar lá [em Isberyala]. É como morar na cidade, trancado e não dá para sair, e as casas são pequenas. Augencio Arango, mecânico de barcos
Para Augencio, que tem 49 anos, ficar na ilha é mais relaxante. Seus parentes, no entanto, resolveram sair de lá. Segundo ele, as mudanças climáticas não são as responsáveis pelas mudanças no nível do mar.
"O homem é quem prejudica a natureza. Agora eles querem derrubar todas as árvores para construir casas em terra firme", disse Augencio à Associated Press. Outras famílias, como a de Ernesto López, de 69 anos, sentem-se mais confortáveis após a mudança.
Em Gardi Sugdub estávamos realmente espremidos em casas com muita gente. Não cabíamos mais, e o mar chegava todo ano. Ernesto López
Famílias como a dele, no entanto, ainda não têm eletricidade nem água em Isberyala. O governo afirma que o local dispõe da infraestrutura, mas as famílias tiveram que abrir contas próprias. Na primeira noite, eles dormiram com uma lanterna movida a bateria e queimadores de gás que trouxeram da ilha.
A mudança aconteceu, mas isso não significa que a ilha será abandonada por completo. Os ex-moradores planejam visitar as terras de vez em quando. E tem quem esteja fazendo isso com frequência enquanto a eletricidade e outros insumos não são plenamente estabelecidos.