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Inflação, aborto, Gaza: o que pensam e propõem Biden e Trump em 6 pontos

Do UOL, em São Paulo

27/06/2024 04h00

O presidente Joe Biden e seu antecessor Donald Trump fazem nesta quinta-feira (27), na CNN, o primeiro debate antes das eleições de novembro nos Estados Unidos.

Cenário diferente de 2020

Embora os candidatos sejam os mesmos de 2020, a disputa acontece em um cenário bastante diferente: desde a última vez que o democrata e o republicano enfrentaram, os EUA viram a inflação disparar, a crise imigratória crescer e a eclosão de guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza que ainda impactam direta e indiretamente o governo americano.

Como pensam e o que propõem Biden e Trump para questões ligadas a economia, costumes e guerras internacionais:

1. Inflação, juros e tarifas

Biden ainda luta contra a inflação e quer aumentar algumas tarifas. Os preços dispararam no início do governo democrata, atingindo um pico de 9,1% nos 12 meses terminados em junho de 2022. Desde então, a inflação tem diminuído consideravelmente, mas não o suficiente para motivar um corte de juros, o que irrita os eleitores e preocupa o governo. Paralelamente, seguindo suas tendências protecionistas, Biden quer aumentar de 7,5% para 25% as tarifas que incidem sobre o aço e o alumínio importados da China, favorecendo a indústria local.

Trump diz que inflação não subiria se tivesse sido reeleito em 2020. O ex-presidente também critica seu sucessor pelos "gastos excessivos", embora não tenha esclarecido como lidaria com as crises dos últimos anos, e as altas taxas de juros. Suas promessas para uma eventual volta à Casa Branca incluem um aumento de impostos sobre produtos importados e a eliminação progressiva da compra de produtos da China. Também quer proibir empresas chinesas de possuírem infraestruturas em setores como energia, tecnologia e agricultura nos EUA.

2. Imigração

Imagem: Chip Somodevilla/Getty Images via AFP

Presidente promete não 'demonizar' imigrantes e separar famílias. Biden chegou à Casa Branca em 2021 com o plano de promover uma política "mais humana" e um caminho para conceder cidadania a 11 milhões de imigrantes sem documentos, mas encontrou oposição dos conservadores no Congresso. Agora, o democrata está entre a cruz e a espada: satisfazer a ala mais à esquerda de seu partido ou endurecer as regras para entrada de estrangeiros nos EUA.

Biden quer simplificar processo para obtenção do 'green card'. A ideia é permitir que estrangeiros casados com americanos consigam uma autorização de residência sem precisar sair do país. Também prometeu acelerar a concessão de vistos aos imigrantes formados nos EUA, o que beneficiaria os chamados "dreamers" (sonhadores). São imigrantes que foram para os EUA ainda crianças e estão protegidos por um programa federal, o DACA, que lhes permite viver e trabalhar legalmente no país.

Imagem: Jay Paul/Reuters

Trump quer repetir política de tolerância zero contra imigrantes. Quando foi presidente, de 2017 a 2020, o republicano tratava como criminosos aqueles que tentavam entrar ilegalmente nos EUA e começou a construir um muro na fronteira com o México — obra posteriormente abandonada por Biden. Em 2024, Trump mantém a linha dura e promete medidas "tão draconianas quanto necessárias", incluindo deportações em massa.

Discursos do republicano foram comparados aos de Adolf Hitler. Trump reiteradamente desumaniza imigrantes e, em seus comícios, chegou a dizer que os estrangeiros "envenenam o sangue do país" — frase que lhe rendeu comparações ao líder da Alemanha nazista. Também já chamou os imigrantes de "animais" e disse, sem provas, que são "criminosos" que estão "matando nosso país".

3. Aborto

Democrata defende reinclusão do aborto na Constituição. Biden chamou de "terrível, extrema e totalmente equivocada" a decisão da Suprema Corte americana que, em junho de 2022, suspendeu o direito à interrupção voluntária da gravidez. Também criticou as leis de estados republicanos que restringem o aborto e disse que vetará qualquer projeto de proibição nacional que eventualmente chegue a ele. Seu governo ainda tomou medidas mais específicas, como a proteção a mulheres que viajam para realizar abortos.

Esta não foi uma decisão fundamentada na Constituição. Deixe-me repetir: esta não foi uma decisão fundamentada na Constituição. E, apesar do que a maioria dos juízes disse, esta não foi uma decisão baseada na história.
Joe Biden, sobre decisão da Suprema Corte

Republicano quer dar liberdade para que estados decidam. Para Trump, o direito ao aborto não é uma questão federal, cabendo a cada estado definir suas restrições e, se necessário, o monitoramento das gestações ou a prisão de pacientes, segundo disse à revista Time. "É irrelevante se fico confortável ou não", afirmou. Vale lembrar que foram os juízes da Suprema Corte escolhidos por Trump os responsáveis por suspender o direito ao aborto na Constituição.

4. LGBTs

Biden e membros do governo sempre se opuseram à discriminação. Logo após assumir o cargo, o democrata revogou uma medida de Trump que proibia pessoas transgênero de servir às Forças Armadas, sob a justificativa de que "é a coisa certa a se fazer e é do nosso interesse nacional". Em março de 2021, para celebrar o Dia da Visibilidade Trans, a Casa Branca emitiu um comunicado dizendo que Biden e sua vice Kamala Harris estão comprometidos com a promessa de criar um país para todos os americanos, "dando fim à discriminação e proporcionando liberdade e igualdade para todos".

Trump quer lei para estabelecer "apenas dois gêneros" na Constituição. O ex-presidente prometeu manter as mulheres trans fora dos esportes femininos e lutar contra o "veneno tóxico da ideologia de gênero". Ainda falou em voltar a banir pessoas trans das Forças Armadas, punir qualquer professor ou funcionário que "sugerisse a uma criança que ela poderia estar presa no corpo errado" e cortar os recursos federais de escolas que promovem "teoria racial crítica, insanidade transgênero e outros conteúdos raciais, sexuais ou políticos inadequados para nossos filhos".

5. Guerras

Imagem: Roman Pilipey/AFP

Biden liderou uma coalizão de países que apoiam a Ucrânia. Também visitou a capital Kiev em 2023. Sua estratégia é opor-se ao envio de tropas terrestres, mas fornecer apoio maciço ao país para que possa se defender da Rússia governada por Vladimir Putin, a quem o democrata chama de "tirano brutal". Mais recentemente, a Casa Branca anunciou um acordo de segurança com a Ucrânia para os próximos 10 anos com o objetivo de apoiar o país diante da invasão russa.

Trump, em contrapartida, diz ver Putin com admiração. O ex-presidente chegou a chamar o russo de "gênio" e ainda usou sua influência sobre os republicanos no Congresso para tentar bloquear a votação de um pacote de US$ 61 bilhões (cerca de R$ 335 bilhões, pela cotação atual) em ajuda militar à Ucrânia. Trump diz que, se voltar à Casa Branca, vai suspender o apoio financeiro a Kiev e "acabar com a guerra".

Ele [Putin] nunca teria feito isso comigo [na Presidência dos EUA]. Todo mundo sabe disso. Costumávamos conversar sobre isso. (...) Ele entendia as consequências [de invadir a Ucrânia] e tínhamos um bom relacionamento.
Donald Trump, em recente entrevista ao GB News

Imagem: Mahmud Hams/AFP

Biden apoia Israel, mas critica o número de mortes em Gaza. Desde o ataque do Hamas, em 7 de outubro de 2023, o presidente americano tem demonstrado forte apoio a Israel. Disse recentemente que o grupo extremista é o principal obstáculo para um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza. No entanto, na medida em que a guerra se estendeu e o número de civis mortos aumentou, Biden passou a fazer críticas ao governo de Benjamin Netanyahu, embora os EUA tenham continuado a fornecer armas a Israel. Além disso, em janeiro, afirmou que a criação de um Estado palestino "não é impossível".

Trump também está do lado de Israel e culpa rival pela guerra. Em março, ao jornal Israel Hayom, Trump disse que o Hamas jamais teria atacado Israel se ele fosse presidente e ainda chamou Biden de incompetente, "pessoa muito burra" e "o pior presidente que nosso país já teve". O republicano classificou o ataque de 7 de outubro como "uma das coisas mais tristes" que ele já viu, mas disse que Israel deveria acabar com a guerra porque "está perdendo muito apoio" no mundo.

6. Democracia

Proteção à democracia é justificativa de Biden para tentar a reeleição. Em seu primeiro discurso de campanha, em janeiro, o democrata disse que a disputa de novembro "tem tudo a ver" com a sobrevivência da democracia nos EUA e condenou os questionamentos de seu rival sobre o resultado das eleições de 2020. Também classificou a invasão ao Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, como um "dia em que quase perdemos os EUA — perdemos tudo".

Estamos aqui para responder a mais importante das perguntas: a democracia ainda é uma causa sagrada nos EUA? Isso não é retórico, acadêmico ou hipotético. (...) É disso que se trata as eleições de 2024. A escolha é clara. A campanha de Donald Trump é sobre ele, não sobre os EUA, não sobre vocês. (...) Ele está disposto a sacrificar nossa democracia para colocá-lo no poder.
Joe Biden, em discurso na Pensilvânia

Ex-presidente não garante que vai aceitar o resultado da próxima eleição. Recentemente, em entrevista ao Milwaukee Journal Sentinel, Trump disse que vai perdoar os réus presos por agredir policiais (e outros crimes) durante o ataque ao Capitólio e prometeu reformar o Departamento de Justiça e o FBI — equivalente à Polícia Federal — "do zero". Também falou em enviar a Guarda Nacional para cidades como Chicago, que enfrentam crimes violentos, e nomear um promotor especial para "perseguir" Biden.

Se tudo for honesto, aceitarei de bom grado os resultados [da eleição]. Se não for, você tem que lutar pelos direitos do país. (...) Se não vencermos, você sabe? Depende. Depende sempre do quão justa é uma eleição.
Donald Trump, ao Milwaukee Journal Sentinel

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