Biden diz ter sido 'erro' falar que 'é hora de colocar Trump no alvo'
Do UOL, em São Paulo
15/07/2024 19h15
O presidente Joe Biden disse ter cometido um "erro" ao usar a frase "é hora de colocar Donald Trump no alvo" dias antes de o republicano sofrer atentado durante comício.
O que aconteceu.
Explicação foi dada durante entrevista à rede de TV NBC, nesta segunda-feira (15). Biden disse que, na verdade, a expressão foi utilizada para definir que o foco deveria ser direcionado às políticas de Trump.
"Foi um erro usar a palavra", disse Biden em entrevista ao jornalista Lester Holt, da NBC News. "Eu quis dizer foco nele, foco no que ele está fazendo. Foco em suas políticas, foco no número de mentiras que ele contou no debate", acrescentou.
Relacionadas
Líder republicano discursava em comício quando disparos foram feitos. Donald Trump foi atingido de raspão na orelha direita. Ele sentiu a bala e, na sequência, o seu rosto começou a ficar ensanguentado. Trump se abaixou. Seguranças invadiram o palco para retirá-lo às pressas. Ele foi levado para hospital e recebeu alta no mesmo dia. O FBI (a polícia federal americana) já informou que o atirador —identificado pelo nome de Thomas Matthew Crooks, 20 anos,— agiu sozinho.
O jornalista da NBC insistiu se o termo usado pode ter incentivado o ataque a Trump. "Como você fala sobre a ameaça à democracia - que é real - quando um presidente diz coisas como ele diz? Você simplesmente não diz nada - porque isso pode incitar alguém?".
Eu não estou envolvido nessa retórica. Agora meu oponente está envolvido nessa retórica: ele fala sobre 'como será um banho de sangue se ele perder', falando sobre como ele vai perdoar todas as ações. Eu acho que ele suspenderá as sentenças de todos os que foram presos e sentenciados devido ao que aconteceu no Capitólio. Presidente Joe Biden, tentando se esquivar da pergunta
Declaração de Biden sobre Trump ser o "alvo" repercutiu no último fim de semana, após a tentativa de assassinato do ex-presidente, mas sem contexto, conforme checagem feita pela agência Lupa, parceiro do UOL. "Eu tenho um trabalho, que é derrotar Donald Trump. Estou absolutamente certo de que sou a melhor pessoa para fazer isso. Então, terminamos de falar sobre o debate, é hora de colocar Trump no alvo", afirmou o democrata, por telefone, a doadores, no dia 8 de julho, segundo a Lupa.
Sinal de alerta contra Biden
Desempenho ruim de Biden acendeu um alerta no Partido Democrata desde debate na CNN no mês passado. Com a voz rouca, uma gagueira persistente e frases confusas, o presidente deixou uma imagem oposta à mostrada pelo rival, que adotou um tom claro e enérgico no evento realizado em junho. Desde então, vários democratas têm demonstrado preocupação e sugerido que Biden abandone a disputa.
Biden confundiu nomes e cometeu gafes em coletiva. Durante o encerramento da cúpula da Otan, na semana passada, Biden apresentou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky como "presidente Putin". Biden também confundiu e se referiu à sua vice-presidente, Kamala Harris, como "Trump".
Anteriormente, Biden havia confundido presidentes europeus com políticos que já morreram. Em fevereiro, o chefe de Estado confundiu Emmanuel Macron com François Mitterrand, falecido em 1996, e também chamou o ex-mandatário francês de "presidente da Alemanha". Poucos dias depois, o democrata se referiu de maneira equivocada a uma conversa que teve em 2021 com Angela Merkel como tendo ocorrido com o já falecido chanceler alemão Helmut Kohl, morto em 2017. O desempenho ruim e as gafes aumentaram a pressão pela desistência de sua reeleição.
Presidente descarta a possibilidade de desistir das eleições e se considera o mais qualificado para o cargo. "Eu acho que Trump não é qualificado para ser presidente, em primeiro lugar. O fato é que eu sou a pessoa mais qualificada para concorrer à Presidência. Eu venci Trump uma vez e o vencerei novamente", afirmou, em meio a interrupções para tossir, na última quarta-feira (11).
Democratas têm até a Convenção Nacional para definir candidato. No evento, que acontece entre os dias 19 e 22 de agosto, o partido apresentará e oficializar o nome de quem concorrerá contra Trump nas eleições de novembro. Analistas com quem o UOL conversou explicaram ser "praticamente impossível" que os democratas consigam substituir Biden — se assim o quiserem — sem que o próprio presidente se retire da disputa, algo que ele já jurou diversas vezes que não faria.
Como foi a entrevista
Entrevista foi gravada, mas exibida sem edições, segundo o canal. Após críticas por sua participação no debate da CNN e na entrevista à ABC News, o desempenho dele na entrevista de hoje se tornou um teste de fogo para a campanha de Biden.
Trechos da conversa foram transmitidos às 19h30 (horário de Brasília) durante o jornal NBC Nightly News.