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O que são os 'estados roxos', que costumam decidir as eleições nos EUA

Estados que apoiam os partidos Republicano (vermelho), Democrata (azul) ou os dois (roxo) Imagem: Reprodução/YouGov

Do UOL, em São Paulo

17/08/2024 05h30

Os swing states, também chamados de "estados roxos" ou "estados-pêndulos" no Brasil, são considerados decisivos nas eleições americanas. Em um país em que a maioria dos estados é leal a um dos partidos em todas as eleições, estes estados sem um vencedor definido são protagonistas na contagem de votos.

O que aconteceu

Estados roxos são aqueles sem predominância de vitórias republicanas ou democratas ao longo da história. A maioria dos estados americanos é fiel a um dos partidos e não gera surpresas durante a contagem dos votos. Entretanto, há estados que variam os escolhidos, elegendo tanto republicanos quanto democratas, geralmente por margens acirradas. Por isso, os estados recebem o apelido de "roxos", pois representam a mistura entre os partidos vermelho (Republicanos) e azul (Democratas).

Candidatos valorizam a opinião de cada estado porque eleições acontecem em sistema de colégio eleitoral. Nos EUA, o presidente e vice não são eleitos diretamente pelo voto dos cidadãos. Os eleitores, na realidade, escolhem os representantes do colégio eleitoral de seus respectivos estados. O número de delegados em cada estado costuma variar entre 3 e 54, sendo proporcional ao tamanho da população e de parlamentares. No total, um candidato precisa conquistar 270 dos 538 delegados para ser eleito.

Candidato recebe votos de todos os delegados do estado, mesmo que a disputa tenha sido extremamente acirrada na região. A quantidade de delegados a favor de um candidato não é proporcional à porcentagem de votos que aquela pessoa recebeu entre a população. Ou seja, se a votação ficar 60% a 40% em um estado com dez delegados, o candidato que conseguiu 60% levará os votos dos dez representantes, não apenas seis. Os estados de Maine e Nebraska são os únicos que fogem à regra, usando o método do distrito congressional. Neste caso, os estados indicam dois votos de delegados para o vencedor no estado todo e, em seguida, um voto de delegado para o vencedor do voto popular em cada distrito.

Estados roxos estão espalhados pelo país. A cada eleição, os estados mais "indecisos" podem variar. Nas últimas décadas, os estados de Pensilvânia, Michigan, Wisconsin, Arizona, Geórgia, Nevada e Carolina do Norte tem sido considerados muito decisivos. Neste ano, a mídia americana está chamando atenção para Minnesota, New Hampshire, Flórida e o segundo distrito de Nebraska.

Pensilvânia

Com 19 votos no colégio eleitoral, Pensilvânia é primordial na contagem de votos. Os dois partidos reconhecem que este é um dos estados mais importantes e estão dedicando grandes investimentos para conquistar essa população. Os democratas estão destinando US$ 109 milhões em campanhas, enquanto os republicanos separaram US$ 102 milhões para o estado, segundo levantamento da Axios divulgado pelo jornal Time. O jornalista acrescentou que este é o único estado onde há uma relativa paridade entre os gastos dos dois partidos.

Governador da Pensilvânia se juntará a Biden em campanha por Kamala. O atual presidente anunciou que ele e Josh Shapiro -que tem boa popularidade entre a população e chegou a ser cotado como vice na chapa democrata- estão organizando uma turnê de campanha no estado. Além disso, embora Biden tenha construído sua carreira política em Delaware, o presidente nasceu na Pensilvânia, e pode usar as raízes no estado como uma estratégia de campanha.

Estado escolheu Biden em 2020 e Trump em 2016. Entre os anos 1860 e 1932, o estado elegeu apenas republicanos. A partir da primeira eleição de Roosevelt, em 1936, a Pensilvânia passou a se alternar entre os partidos. Em 1992, começou a série de seis derrotas republicanas, que só foi quebrada em 2016, com a vitória de Trump. Nas eleições seguintes, perdeu para Biden por 48,4% a 50%.

Michigan

Estado tem 15 delegados e maior porcentagem de árabes-americanos no país. O partido Democrata estava perdendo apoio de grande parte da população do estado devido ao apoio de Biden a Israel no conflito contra a Palestina. Agora, graças à desistência do atual presidente e à postura firme de Kamala com Netanyahu, o partido volta a ganhar simpatizantes e se esforça para diminuir a distância de Trump nas pesquisas. Além disso, o vice de Harris é governador de Minnesota, estado vizinho, o que pode gerar identificação entre os cidadãos do centro-oeste americano.

Trump escolheu o Michigan para fazer sua primeira aparição pública após o atentado. O republicano fez um comício em Grand Rapids acompanhado de seu vice, J.D. Vance. Entre os temas abordados no discurso, citou a política externa de Biden e repetiu o slogan "Make America Safe Again" (faça a América segura de novo), em referência ao seu lema Make America Great Again (faça a América grande de novo), segundo o portal americano Newsweek.

Estado elegeu seis republicanos e sete democratas nos últimos 52 anos. Durante os anos 70 e 80, o Michigan elegeu os republicanos Nixon, Ford, Reagan e Bush. Até que, nas eleições de 1992, o estado escolheu o democrata Bill Clinton e seguiu fiel ao partido, elegendo Gore, Kerry e Obama. Em 2016, o estado muda de direção novamente, dando uma vantagem de 0,2% a Trump em relação à Hillary. Já em 2020, Michigan elegeu Biden com 50,6%.

Wisconsin

Reconhecendo a importância dos 10 delegados que representam Wisconsin, partidos escolheram Milwaukee como palco para nomeação de Trump e para primeiro comício de Harris. Apesar dos esforços dos dois lados, o jornal BBC destaca que os candidatos devem se atentar aos eleitores da "terceira via", que podem impactar a votação destinando um apoio significativo à Robert F. Kennedy.

Democratas se arrependeram de tomar o estado como "vitória ganha" em 2016 e voltaram a investir fortemente na campanha. Durante a campanha, Hillary Clinton não visitou o estado nenhuma vez, e assistiu ao fim da dinastia democrata no estado, que já durava quase 30 anos. O partido está investindo quase US$ 50 milhões em campanhas no estado e, ao que tudo indica, parece retomar a dominação azul da década anterior. Já os republicanos estão destinando US$ 15 mi, segundo o Time.

Estado teve longas tendências aos dois partidos. Entre 1944 e 1984, Wisconsin votava frequentemente a favor dos republicanos. Durante esse período, ocorreram apenas três vitórias democratas: Truman (1948), Johnson (1964) e Carter (1976). A partir das eleições de 1988 e até a reeleição de Obama, em 2012, o estado elegeu apenas democratas. Entretanto, em 2016, Trump venceu Hillary por 1%, e perdeu para Biden por 0,6% nas eleições seguintes.

Arizona

Fronteira com o México torna imigração uma das principais questões no estado. Trump tem aproveitado o tema para proferir ataques à Kamala, que foi nomeada por Biden para lidar com as questões e diminuir as crises nas fronteiras. O republicano também promete realizar "a maior operação de deportação" da história dos EUA se recuperar a presidência", segundo a BBC.

Estado é campo de batalha na discussão sobre o acesso ao aborto. Em 2022, os republicanos do Arizona tentaram restabelecer a proibição quase total ao aborto. Democratas devem usar essa discussão para conquistar o apoio de mulheres e eleitores mais jovens. No início de agosto, Kamala fez um comício em Glendale, e abordou o tema dos direitos reprodutivos e das mudanças climáticas.

Biden venceu por 0,3% na última eleição. O estado costumava ser lar republicano -apenas dois democratas foram eleitos entre 1952 e 2020-, mas mudanças de mentalidade da população têm tornado a disputa pelos 11 delegados mais apertada.

Geórgia

Trump responde a um processo criminal por uma suposta inferência eleitoral na Georgia. O republicano e outras 18 pessoas são acusadas de conspirar para anular sua derrota para Biden no estado. Ele nega as acusações e culpa o governador da Georgia - o também republicano Brian Kemp- por ter perdido a última eleição. Trump afirmou que Kemp era um "cara ruim", "muito desleal" e "um governador muito mediano", e os comentários podem ter impacto negativo entre os eleitores, que, em sua maioria, aprovam o governador.

Um terço da população da Georgia é de afro-americanos, de acordo com o Pew Research Center. Este grupo demográfico foi visto como uma das forças de Biden para ganhar o estado em 2020. Porém, os eleitores negros demonstraram certa decepção com o atual presidente, segundo a BBC. Agora, os democratas esperam que a substituição de Biden por Kamala reconquiste esse eleitorado e levar os 16 votos do estado.

Democratas não ganhavam a eleição desde 1996, mas quebraram a série de derrotas em 2020, com 0,2% de vantagem. Até 1960, a Georgia foi extremamente fiel aos democratas. Entre 1994 e 1996, se tornou um swing state clássico, se alternando entre republicanos, democratas e até mesmo um candidato independente (George Wallace, em 1968). Em 1996, entrou oficialmente onda vermelha dos republicanos, e permaneceu assim até 2020, quando Biden foi eleito por 49,5% a 49,3%.

Nevada

Candidatos lutam pelo apoio dos latinos em Nevada, que são quase 20% da população. Apesar do discurso anti-imigração, Trump tem apoio considerável da população. Harris talvez conte com o apoio do movimento trabalhista, que era fiel a Biden, mas ainda não garantiu a transferência da lealdade para a substituta.

Questão econômica é importante para o estado, que ainda sofre para se recuperar da pandemia. Segundo a BBC, Nevada tem uma taxa de desemprego de 5,1% -uma das maiores do país- e sofre com uma das recuperações econômicas mais lentas. Trump prometeu que, se ganhar, diminuirá os impostos e regulamentações.

Nevada foi um estado roxo clássico, com partidos intercalados ao longo da história. Entre 1968 e 1988, os republicanos conseguiram emplacar cinco vitórias seguidas. Em 2008, foi a vez dos democratas assumirem a hegemonia, que têm mantido desde então.

Carolina do Norte

Democratas estão investindo sete vezes mais que os republicanos para tentar conquistar os 16 delegados do estado. Enquanto Kamala investe cerca de US$ 28 milhões com anúncios, Trump se restringe a gastar US$ 4 milhões com o estado que elegeu mais republicanos nos últimos anos.

Eleitores sem filiação a nenhum partido são o maior bloco do estado. Campanha de Harris está conseguindo ganhar estes votos que ainda podem ser conquistados. O registro de novos eleitores democratas ultrapassaram os registros republicanos pela terceira semana consecutiva no estado, segundo o portal Newsweek. Além disso, uma pesquisa do Cook Political Report aponta que Kamala diminuiu a liderança de Trump de oito para dois pontos percentuais.

O estado passou por um longo período de apoio aos democrata, mas ficou vermelho nas últimas décadas. O partido de Kamala foi predominante entre 1876 e 1964, perdendo para um único republicano neste período: Hebert Hoover. Porém, a partir dos anos 70, os republicanos passaram a dominar o estado, perdendo apenas para Carter e na primeira eleição de Obama. Mesmo com a sequência de vitórias nos últimos anos, o partido Republicano precisa se atentar para o avanço brusco de Kamala entre os moradores de Carolina do Norte.

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