Opositor diz ter sido coagido a reconhecer reeleição de Maduro na Venezuela
Do UOL, em São Paulo
18/09/2024 14h58Atualizada em 18/09/2024 15h24
Edmundo González, opositor de Nicolás Maduro, disse ter sido coagido a assinar uma carta em que reconhecia o resultado das eleições de julho, quando o ditador da Venezuela foi declarado reeleito pelo CNE (Conselho Nacional Eleitoral).
O que aconteceu
González decidiu contar 'toda a verdade' sobre sua saída. A chantagem, segundo González, aconteceu quando ele ainda estava refugiado na residência do embaixador da Espanha em Caracas.
Em vídeo publicado no X, ele acusou a ditadura de "jogo sujo, chantagem e manipulação". Opositor também disse que o regime quer que todos os venezuelanos "percam a esperança". Mais cedo, o governo da Venezuela divulgou uma suposta carta em que González informa sua decisão de pedir asilo na Espanha e diz "aceitar" a reeleição de Maduro.
Opositor disse ter sido pressionado por líderes chavistas. Enquanto estava refugiado, González teria recebido a visita de Jorge Rodríguez, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, e de Delcy Rodríguez, vice de Maduro. Os dois, segundo o opositor, o pressionaram a concordar com o documento. A suposta carta divulgada hoje é datada de 7 de setembro, tem duas páginas e não tem assinatura.
Assinatura era condição para permitir sua saída da Venezuela. "Em outras palavras: ou eu assinava, ou sofreria as consequências", declarou, sem confirmar se assinou ou não a carta.
Documento assinado sob coação não tem validade, defendeu. "Como presidente eleito de milhões e milhões de venezuelanos que votaram por mudança, democracia e paz, não vão me calar", completou, dirigindo-se aos seus apoiadores. "O que deveriam estar divulgando são as atas eleitorais. A verdade é o que está nas atas que vocês [regime de Maduro] querem esconder."
Houve momentos muito tensos de coação, chantagem e pressão. Nestes momentos, considerei que podia ser mais útil livre em vez de preso e impossibilitado de cumprir com as tarefas às quais Deus me atribuiu. (...) Não vão me calar. (...) Não vão calar um país que já falou. Milhões de venezuelanos têm vontade de mudar e eu vou cumprir com este mandato.
Edmundo González, em vídeo publicado no X
Suposta carta
Venezuela divulgou nesta quarta (18) uma suposta carta de González. No documento, o opositor teria informado às autoridades sua decisão de pedir asilo na Espanha e dito que aceita a decisão judicial que confirmou a reeleição de Nicolás Maduro. A carta é direcionada ao presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, e foi compartilhada hoje pelo Ministério da Comunicação no Telegram.
"Sempre estive e continuarei disposto a reconhecer e aceitar as decisões adotadas pelos órgãos da justiça no âmbito da Constituição, incluindo a precipitada sentença da Sala Eleitoral [do TSJ], da qual, embora não compartilhe, acato por se tratar de uma resolução do máximo tribunal da República", diz um trecho do documento, destacando um compromisso "de confidencialidade" entre as partes.
Na carta, González teria expressado sua intenção de deixar o país. O opositor de Maduro supostamente também se comprometeu a exercer uma atividade pública "limitada". "Guardarei a devida prudência, moderação e respeito no meu agir no âmbito público", continua o texto. "Não pretendo, em nenhum caso, exercer representação formal ou informal alguma dos poderes públicos".
No passado, defesa do opositor desmentiu qualquer reconhecimento. Tanto o CNE quanto o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) são acusados de servir a Maduro.
Eleições em xeque
Maduro foi proclamado reeleito pelo CNE com 52% dos votos. Mais de um mês depois, porém, o ditador ainda não publicou os detalhes da votação em cada seção porque afirma ter sofrido um "ciberataque terrorista". Já a oposição, liderada por María Corina Machado, alega ter provas de que houve fraude e da vitória do seu candidato Edmundo González Urrutia.
Oposição diz ter vencido a eleição com 67% dos votos. O número consta nas cópias das atas de votação publicadas na internet, consideradas "forjadas" pelo regime de Maduro. O Centro Carter, um dos poucos observadores independentes que acompanharam a eleição, analisou os documentos divulgados pela oposição e confirmou a vitória de González com mais de 60% dos votos.
Após a publicação dos resultados, venezuelanos saíram às ruas. Até agora, 27 pessoas — incluindo dois militares — morreram nos protestos, e centenas ficaram feridas.
Sob o risco de ser preso, González pediu asilo na Espanha. O opositor de Maduro chegou a Madri no dia 8 de setembro, depois de uma escala nos Açores, em Portugal, após dias de uma negociação sigilosa mediada pelo ex-presidente espanhol José Luiz Zapatero. O avião oficial do governo da Espanha que transportou González havia partido de Caracas no dia anterior.
(Com AFP)