Pedido, baú e ódio: como se chegou ao suspeito de envenenar família no PI
A Polícia Civil do Piauí levou em conta uma sequência de fatos e ações para apontar Francisco de Assis Pereira da Costa, 53, como suspeito do envenenamento de uma família no dia 1º de janeiro na cidade de Parnaíba. Ele foi preso nesta quarta-feira (8).
Ele é marido de Maria dos Aflitos, que não chegou a se contaminar com a comida envenenada no dia 1º de janeiro, e morava na mesma casa com os filhos dela e os cunhados. O ódio pelos enteados seria o motivo do crime.
Nove pessoas foram envenenadas: quatro morreram, incluindo duas crianças. Outras cinco foram internadas. Quatro tiveram alta e uma delas, uma criança de 4 anos, segue em estado grave.
O veneno usado para contaminar a comida foi o terbufós, uma substância tóxica utilizada em pesticidas. A substância foi achada em pratos, na panela do alimento e no intestino de uma das vítimas.
Para chegar ao suspeito, o delegado Abimael Silva explica que foi feita uma cronologia dos fatos, que indicou o padrasto como único suspeito.
Último a dormir e pedido a enteada
Abimael conta que, na noite do dia 31 de dezembro, a família preparou um baião de dois para o Réveillon. Naquele dia, todos se serviram, mas ninguém passou mal.
Como ninguém teve sintomas até a tarde do dia 1º, a polícia concluiu que o veneno foi colocado na comida após a virada do ano. "Os sintomas do terbufós começam entre 30 minutos e 1 hora após a ingestão. O pico vem em até 4 horas", explica o delegado.
Naquela primeira madrugada do ano, Francisco foi o último a dormir, entre três e quatro horas da manhã. Foi ele também quem fechou a casa.
Depois de fechada, ninguém da família percebeu a entrada de pessoas estranhas, o que indicou que o suspeito estava dentro da residência, onde moravam 11 pessoas.
A casa, diz o delegado, era bem pequena e as pessoas dormiam "de forma amontoada", o que faria com que qualquer um que entrasse fosse percebido de imediato.
No dia seguinte, outro fato chamou a atenção: Francisco insistiu para que uma enteada requentasse o baião de dois para o almoço. Ela atendeu o pedido.
Em depoimentos, o delegado cita que ele deu três versões sobre o ocorrido.
Primeiro disse que não tinha chegado perto da panela. Depois, disse que tinha chegado. Depois, disse que não tinha orientado ninguém a utilizar o arroz. Ela entra em contradição com o depoimento de todas as outras pessoas, que estão em consonância. Apenas o dele está dissonante.
Abimael Silva, delegado
Francisco chegou a indicar que teria passado mal e foi internado junto com os familiares envenenados, mas sem sintomas, acabou liberado no mesmo dia.
A polícia também aponta como indício um baú de Francisco, que estava ao lado do fogão. O objeto ficava fechado com cadeado, e apenas ele tinha a chave. "Era o único lugar da casa possível para esconder uma coisa", diz Abimael.
Motivação seria ódio
Sobre a motivação, o delegado afirma que o suspeito, a esposa e os filhos dela tinham um relacionamento "muito conturbado, para se dizer o mínimo."
"Ele não falava com nenhum dos enteados e tinha um sentimento de ódio específico em relação a Francisca [sua enteada mais velha, que morreu]. Esse sentimento de ódio era tão grande que, mesmo com ela no leito de morte, ele não conseguia esconder", diz Abimael.
Além disso, ele tinha "desprezo completo" pelos filhos da esposa, a quem chamava de "primatas." "Ele não queria conviver. Ele era o único que tinha uma motivação para esse crime tão raivoso e torpe".
Segundo o delegado, as investigações continuam, mas a prisão de Francisco foi pedida para dar segurança à família, que ainda estava convivendo com o suspeito. O inquérito deve ser concluído até o fim do mês.
As mortes
O envenenamento matou Leandro da Silva, 18, Francisca Maria da Silva, 32, Igno Davi Silva, de 1 ano e 8 meses, e Maria Lauane Fontenele, de 3 anos.
Uma criança de quatro anos segue internada no Hospital de Urgência de Teresina (HUT) em estado grave.
O suspeito alega inocência. "Deus vai mostrar o culpado", disse Francisco ao ser levado à delegacia. A jornalistas, ele disse que provaria à Justiça quem foi o responsável pelo envenenamento. O UOL não encontrou até o momento a defesa do homem, mas o espaço fica aberto para manifestações
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