Candidato da oposição à presidência deixa Venezuela e é exilado na Espanha
O candidato da oposição para a presidência, Edmundo Gonzalez, deixou a Venezuela e pediu asilo na Espanha. Ele era alvo de uma ordem de prisão por parte do regime e pousou, neste domingo, numa base militar na Espanha.
A negociação para a fuga do opositor começou há dias, com o envolvimento e mediação sigilosa de José Luiz Zapatero, ex-presidente do governo da Espanha. Enquanto o processo era discutido, um avião oficial do governo espanhol o aguardava na República Dominicana. No sábado, diante do acordo com Caracas, o avião pousou na capital venezuelana para retirar o candidato do país. Com escalas ainda na Ilha de Açores, o opositor já está em Madri.
"Edmundo González Urrutía, presidente eleito da Venezuela, deixou o país e está na Espanha", anunciou Maria Corina Machado, líder da oposição, neste domingo. "Desde nossa vitória histórica em 28 de julho de 2024, o regime desencadeou uma onda brutal de repressão contra todos os cidadãos, qualificada como terrorismo de Estado pela CIDH, que incluiu todos os tipos de ataques contra o presidente eleito e sua comitiva", disse.
"Sua vida estava em perigo, e as crescentes ameaças, citações, mandados de prisão e até mesmo as tentativas de chantagem e coerção a que ele foi submetido mostram que o regime não tem escrúpulos ou limites em sua obsessão de silenciá-lo e tentar quebrá-lo", afirmou.
"Diante dessa realidade brutal, é necessário para nossa causa preservar sua liberdade, sua integridade e sua vida", justificou a opositora. "Essa operação do regime e de seus aliados é mais uma prova de seu caráter criminoso, que os deslegitima e os afunda ainda mais a cada dia", escreveu.
Segundo ela, no dia 10 de janeiro de 2025, González "tomará posse como presidente constitucional da Venezuela e comandante-em-chefe. Venezuela e Comandante-em-Chefe das Forças Armadas Nacionais".
Corina Machado, porém, explicou que ela não pretende sair, por enquanto. "Que isto fique bem claro para todos: Edmundo lutará de fora com nossa diáspora e eu continuarei a fazê-lo aqui", declarou.
Refúgio na embaixada da Holanda
Há quatro dias, os advogados de Gonzalez insistiam que ele não deixaria o país. Mas, hoje, foi revelado que ele estava sendo mantido na embaixada da Holanda em Caracas por mais de um mês, o que lhe dava proteção. Desde quinta-feira, ele passou para a Embaixada da Espanha. Mas a ofensiva de Maduro contra a embaixada da Argentina, onde estão outros seis opositores, apressou a operação de fuga do candidato.
A decisão de receber o opositor foi criticada do PP, o partido de direita na Espanha. Segundo o grupo, o gesto "soluciona" a situação para Maduro. Mas não resolve a crise política e nem preserva a democracia. A Espanha acolheu a 200 mil venezuelanos nos últimos anos, entre eles o ex-presidente de Caracas, Antonio Ledezma.
Foi o próprio governo Maduro que anunciou sua saída, na tentativa de mostrar que havia cedido para garantir "a paz" no país.
"Hoje, em 7 de setembro, o cidadão da oposição Edmundo González Urrutia, que foi refugiado voluntário na embaixada da Espanha em Caracas por vários dias, solicitou asilo político ao governo espanhol", escreveu a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodriguez.
Ela ainda explicou que seu governo permitiu que ele deixasse a embaixada e fosse transportado até um aeroporto, sem ser preso. "A esse respeito, uma vez que os contatos relevantes entre os dois governos foram realizados, e uma vez que todos os detalhes do caso foram concluídos e de acordo com o direito internacional, a Venezuela concedeu o devido salvo-conduto no interesse da paz e tranquilidade política do país", informou.
Segundo ela, "essa conduta reafirma o respeito à lei que tem prevalecido nas ações da República Bolivariana da Venezuela na comunidade internacional".
O governo espanhol explicou que Edmundo González "decolou de Caracas para a Espanha em um avião da Força Aérea Espanhola". "O governo da Espanha forneceu os meios diplomáticos e materiais necessários para sua transferência, realizada a seu pedido", indicou.
Madri ainda reiterou "seu compromisso com os direitos políticos e a integridade física de todos os homens e mulheres venezuelanos, especialmente dos líderes políticos".
José Manuel Albarez, chefe da diplomacia da Espanha, explicou que a viagem foi um "pedido" do próprio opositor. A saída do país do candidato assegura sua proteção. Mas coloca em questão a capacidade de um processo de mediação continuar, diante da ausência do líder da oposição no país.
Para seus aliados, a eleição marcou a derrota de Maduro, que jamais apresentou as atas com os resultados detalhados.
Ordem de prisão
Na semana passada, a Procuradoria-Geral em Caracas anunciou um pedido de prisão do candidato opositor de Nicolás Maduro nas eleições de julho. Horas depois, um tribunal de primeira instância acatou a solicitação.
A ordem de captura mudou de forma dramática qualquer perspectiva de uma mediação liderada pelo Brasil. Fontes diplomáticas de diferentes governos confirmaram ao UOL que, se efetuada, a prisão colocaria uma pressão ainda mais intensa da comunidade internacional sobre o governo de Nicolás Maduro.
Maria Corina Machado, líder da oposição, denunciou o gesto, alertando que Maduro havia perdido "toda a noção da realidade". "Ao ameaçar o presidente eleito, apenas conseguem que nos unamos ainda mais e que haja um aumento do apoio dos venezuelanos e do mundo a Edmundo González", disse a opositora.
O documento que solicita a prisão, obtido pelo UOL, menciona crimes de conspiração e sabotagem ao sistema. Um das principais críticas por parte da ONU ao governo de Maduro é o seu controle de todo o sistema judiciário, incluindo a Procuradoria e cortes.
Maduro, dias depois da eleição, havia defendido a prisão tanto de González como de Corina Machado. Agora, seu sistema judicial colocou em andamento o processo. Além do pedido de prisão do opositor, a repressão de Maduro deteve mais de 2.000 pessoas nas últimas semanas, segundo a ONU.
Edmundo González, segundo a denúncia, é alvo de uma investigação que apura a disseminação de informações por parte do site "Resultados com VZLA", responsável por divulgar dados sobre a eleição.
Maduro anunciou que foi o vencedor do pleito, mas nunca divulgou as atas das sessões eleitorais. González, por sua vez, também declarou ter vencido.
O pedido de prisão ocorre depois que o opositor se fez ausente ao ser convocado pela terceira vez pela Justiça venezuelana. A última convocação não respeitada foi na última sexta-feira. Ele responderia por usurpação de funções, falsificação de documento público, instigação à desobediência às leis, associação para cometer um crime e conspiração.
No site mantido pelos grupos de oposição, os resultados mostram que González venceu a eleição, a partir de uma amostra de atas. A ONU considerou que as atas obtidas eram verídicas, assim como a União Europeia.
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