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Entenda 'Eixo da Resistência' criado pelo Irã e que Israel teria aniquilado

Pessoas verificam os escombros de prédios que foram destruídos em 27 de setembro por ataques israelenses que tiveram como alvo e mataram o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, no bairro de Haret Hreik, nos subúrbios ao sul de Beirute, em 29 de setembro de 2024 Imagem: -/AFP

Colaboração para o UOL

03/10/2024 12h06

Com os ataques a Gaza e ao Líbano, Israel teria aniquilado nas últimas semanas o chamado "Eixo da Resistência", que reunia seus principais inimigos no Oriente Médio. Especialistas acreditam que o poder real de ameaça desse eixo seria nulo.

"Desde o início, o chamado 'Eixo da Resistência' foi mais ou menos uma ficção de propaganda criada para aumentar o prestígio da República Islâmica", disse o cientista político Ali Afoneh, do Arab Gulf States Institute em Washington, nos EUA, ao jornal americano The New York Times.

O que era o 'Eixo da Resistência'

Rede de milícias islâmicas apoiada e financiada pelo Irã. A República Islâmica tinha o objetivo de fazer frente ao poder de influência dos EUA e de Israel — e até destruir o Estado judeu. A maioria dessas organizações islâmicas é classificada como terrorista pelo governo americano.

Hamas, Hezbollah e Houthis são os principais grupos armados que compunham o eixo. O palestino Hamas foi responsável pelo ataque terrorista de 7 de outubro de 2023 contra Israel que fez 251 reféns na época, uma centena deles até hoje não libertados. Em resposta, Israel invadiu Gaza, de onde o ataque teria partido.

Mulher em Bagdá segura imagem de Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah morto em ataque de Israel Imagem: Ahmad Al-Rubaye/AFP

O libanês Hezbollah trocava ataques aéreos com as Forças Armadas de Israel desde julho. Nas últimas semanas, a violência escalou com Israel atingindo no dia 27 de setembro o QG do grupo paramilitar em Beirute e matando o seu líder, Hassan Nasrallah, até então tido como intocável pela imprensa internacional. Nesta terça (1), Israel invadiu o Líbano por terra.

Houthis também estão na mira de Israel. A milícia do Iêmen atacava embarcações comerciais de Israel em portos ao longo da região do Mar Vermelho desde outubro de 2023, em apoio aos palestinos em meio ao conflito em Gaza.

Israel bombardeia cidade do Iêmen após ataque de rebeldes Houthis a Tel Aviv Imagem: ANSARULLAH MEDIA CENTRE / AL-MASIRAH TV / Israeli Ministry of Defence / AFP

Israel já contra-ataca os Houthis. Em 29 de setembro, Israel bombardeou alvos Houthi — inclusive usinas de energia e portos — em Al Hudaydah e Ras Issa, matando ao menos seis pessoas e ferindo 57, segundo o Ministério da Saúde do Iêmen, controlado pelo grupo.

Resistência Islâmica no Iraque também entrou na "briga". Grupo realiza ataques contra israelenses em apoio a palestinos de Gaza desde novembro de 2023.

Região de al-Zahraa, no centro de Gaza, destruida pelos ataques Imagem: Reuters

Síria é o único Estado, além do Irã, que participa do Eixo. Oficialmente em estado de guerra com Israel desde sua criação em 1948, o país sofreu ataques aéreos em Damasco, Alepo e em sua fronteira com o Líbano nos últimos meses. Por isso, o governo de Bashar al Assad mantém próximas relações diplomáticas e realiza uma articulação política mais tímida do grupo junto ao Irã.

Qual era a estratégia do Irã?

Investimento em treinamento e armas. Buscando hegemonia política e religiosa na região, o Irã financiava o desenvolvimento de habilidades de combate de cada grupo e servia como "ponte" — conectando uns aos outros para que pudessem desenvolver ações coordenadas. A Resistência Islâmica no Iraque, por exemplo, atua em conjunto com os Houthis aos ataques em Israel em portos do Mar Vermelho.

Ascensão política de membros do grupo era aproveitada pelo parceiro. O Irã apoiou milícias anti-Israel na Síria e no Iraque após a invasão americana de 2003. Quando estes grupos ganharam poder político, o Irã se tornou um participante indireto nos governos locais.

Hezbollah era o grupo com maior treinamento e armamentos. Além disso, seus membros falam árabe e não farsi (como os iranianos) e, por isso, compartilhavam suas habilidades com outros grupos como o Hamas, que teria tido o seu apoio tático na construção de túneis. A morte do seu líder, portanto, é um grande golpe para a geopolítica iraniana.

O fracasso do eixo

Iranianos subestimaram israelenses. Ao Times, Alfoneh avaliou que os membros do eixo tiveram algumas pequenas vitórias militares, "mas, em se tratando de adversários mais sérios ou um ator estatal como Israel, o jogo é diferente".

Resposta do eixo é considerada fraca. Estudiosos avaliam que a rede não tem capacidade de articulação ou poder de fogo capaz de conter e destruir Israel, que é armado pelos EUA. Segundo o Times, haveria uma crença interna de que o grupo libanês poderia se defender sozinho.

O presidente da Síria, Bashar al Assad, demorou dias para emitir comunicado de luto por Nasrallah Imagem: Pool BENAINOUS/HOUNSFIELD/Gamma-Rapho via Getty Images

Irã não apoiou taticamente o Hezbollah após ataque de Israel. Dois comandantes dos grupos armados falaram ao jornal americano The New York Times anonimamente e se disseram em choque com a morte do líder do Hezbollah. Eles também reclamaram que não receberam instruções do Irã sobre como reagir. A República Islâmica também não lançou ofensiva própria. A reticência no dia seguinte pode sinalizar uma falta de planejamento para os próximos passos do conflito.

Presidente da Síria também manteve silêncio. Assad levou dois dias para emitir uma declaração de luto pela morte de Nasrallah, apesar de o Hezbollah já ter defendido o atual governo sírio de rebeldes. A falta de posicionamento pode indicar um enfraquecimento interno da rede, com o Hamas degradado demais após um ano de guerra com Israel, o Hezbollah sem líder e os grupos menores sem a mesma influência ou poder de fogo.

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse que o Hezbollah determinará o destino da região Imagem: Khamenei.ir/AFP

Aliança é "frouxa". Membros também teriam liberdade demais para tomar decisões e não respeitariam diretrizes do Irã, na avaliação dos cientistas políticos americanos. Os Houthis, por exemplo, teriam contrariado os conselhos iranianos e tentaram assumir todo o Iêmen, enquanto o Hamas não teria coordenado seu ataque a Israel a partir de Gaza com os outros países da região.

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