Enchente na Espanha deixa 95 mortos, desaparecidos e rastros de destruição
Do UOL, em São Paulo
30/10/2024 09h10Atualizada em 30/10/2024 22h26
Pelo menos 95 pessoas, incluindo 4 crianças, morreram após chuvas torrenciais atingirem o sul e o leste da Espanha, segundo ministro disse à imprensa local. Essa é a pior enchente em décadas no país.
O que aconteceu
Maior impacto foi sentido na região de Valência, onde ao menos 92 morreram. Outras mortes foram em: duas em Castela La Mancha e mais uma pessoa na Andaluzia.
"Muitos desaparecidos". Com isso, número de mortos ainda pode crescer, afirmou o ministro da Polícia Territorial, Ángel Victor Torres: "infelizmente tudo leva a crer que esta cifra vai aumentar".
Além dos mortos, há dezenas de pessoas desaparecidas. As autoridades não detalharam quantas vítimas ainda são procuradas por equipes de resgate. "O fato de não podermos fornecer o número de pessoas desaparecidas indica a magnitude da tragédia", disse o ministro das Políticas Territoriais de Espanha, Ángel Víctor Torres.
Rastros de destruição. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram que pontes e edifícios foram destruídos. Meteorologistas disseram à Reuters que a chuva de um ano caiu em apenas oito horas em Valência. Algumas áreas do município ficaram sem serviço de telefonia e energia elétrica nesta quarta-feira (30). Até o final da tarde de hoje, 115 mil pessoas estavam sem luz e 120 mil sem serviços de telecomunicações.
Em algumas áreas, choveu mais de 490 milímetros em oito horas. Parte de Valência está inacessível. Estradas ficaram inundadas, o que compromete a locomoção da área, informou o presidente regional, Carlos Mazón. O sistema de transporte aéreo e ferroviário também foi impactado. "Reiteramos a importância de não fazer deslocamentos por estrada nas províncias afetadas na região de Valência", insistiu Mazón. A Direção-Geral de Trânsito manteve nesta noite a recomendação para que a população não circule por nenhuma estrada da província em razão das inundações.
A agência meteorológica estatal Aemet registrou "acúmulos extraordinários" de chuva. Alguns municípios receberam 300 mm de água por metro quadrado em apenas algumas horas, "praticamente o que pode chover em um ano inteiro", disse agência na rede social X.
O governo decretou três dias de luto oficial a partir de quinta-feira (31).
Vídeos mostram correnteza devastando ruas. Em algumas das imagens, é possível ver carros sendo arrastados pela água. Em outros, moradores da região tentam retirar a lama de suas casas com baldes e caminham com água na altura do quadril para tentar salvar seus pertences.
Uma das imagens mostra uma moradora sendo arrastada pela correnteza. No vídeo é possível ver uma mulher sendo levada pela força da água. Ela tenta se segurar em um poste, mas é levada. As autoridades não informaram se ela é considerada desaparecida.
Aulas foram suspensas. A prefeitura de Valência também anunciou a suspensão das aulas e dos eventos esportivos na cidade e informou que os parques permanecerão fechados.
Mais de mil soldados de missões especializadas em resgate foram enviadas ao local. "Também serão enviadas equipes especiais com cães, se for necessário", disse a ministra da Defesa, Margarita Robles, que citou um "fenômeno sem precedentes em Valência, onde a avalanche de água foi tremenda".
O primeiro-ministro Pedro Sanchez prometeu reconstruir a infraestrutura dos locais atingidos. Em um discurso televisionado, ele também prestou solidariedade com os familiares das vítimas. "Para aqueles que neste momento ainda procuram os seus entes queridos, toda a Espanha chora com vocês".
A previsão do tempo indica que as chuvas devem perder intensidade, apesar de continuarem abundantes na quinta-feira (31). O porta-voz da Aemet (Agência Meteorológica do Estado), Rubén del Campo, disse que a quinta e sexta devem ter "novamente tempestades no sul da Catalunha, chuvas localmente intensas, mas nada como o que foi visto na terça".
O presidente regional do leste de Valência, Carlos Mazón, disse que não havia mais pessoas visíveis para resgate durante a última visualização aérea feita pelas autoridades. Na noite de hoje, Mazón voltou a confirmar que o último número de mortes na região era 92 e divulgou que houve 200 resgates terrestres e 70 salvamentos aéreos. Quanto às críticas pela demora no envio do primeiro alerta de inundações à população, ele declarou que foram seguidos protocolos estabelecidos pelo governo.
Vítimas morreram tentando fugir da chuva
Casal tentou deixar o município de Paiporta e ir para Valência na noite de terça-feira (29) após ver a piora das enchentes. Antonio Tarazona, 59, a companheira Lourdes María García, 34, e a bebê do casal, de 3 meses, estavam em um carro quando o automóvel começou a "flutuar" em razão da água. Ao El País, o sobrevivente disse que era "impossível" ajudar a salvar a companheira e a filha.
Às 22h (horário local) desta quarta-feira (30), a Guarda Civil local informou ter encontrado os corpos das duas vítimas. O sobrevivente disse que ambos os corpos foram achados dentro do automóvel da família. Os outros dois filhos de Lourdes, de 8 e 10 anos, estão em lugar seguro, disse uma amiga ao jornal.
Maior fenômeno meteorológico em quase 30 anos
O número de mortos nas chuvas desta semana se aproxima dos de agosto de 1996, quando 86 pessoas morreram. Na ocasião, a maioria das vítimas estava em um camping na província de Huesca, que foi destruído.
Ursula von der Leyen disse que a "Europa está pronta para ajudar". "O que estamos vendo na Espanha é devastador. Meus pensamentos estão com as vítimas, suas famílias e as equipes de resgate", escreveu a presidente da Comissão Europeia no X.
O rei Felipe VI expressou sua "tristeza por tantas perdas de vidas humanas", em uma mensagem enviada das Ilhas Canárias. "Há uma enorme destruição de infraestruturas e bens materiais de muitas pessoas (...) Contudo, não há informação completa do impacto, do alcance, dos efeitos, até mesmo das possíveis vítimas", declarou.
Este é um "fenômeno sem precedentes", segundo a ministra da Defesa, Margarita Robles. Ela declarou que o Exército mobiliza unidades caninas para buscar corpos, necrotérios móveis e psicólogos para atender as vítimas.
A Aemet alertou que as chuvas continuarão pelo menos até quinta-feira, embora se desloquem para o nordeste até a região da Catalunha. Os cientistas alertaram para o fato de os fenômenos meteorológicos extremos, como as ondas de calor e as tempestades, estarem se tornando mais intensos devido à mudança climática.
"Estamos em um planeta mais quente e com mais energia disponível. Os padrões de precipitação estão se alterando em todo o nosso território. Vários estudos apontam para chuvas mais torrenciais", indicou a Aemet.
*Com AFP