Como escândalo sexual fez governo da Guiné Equatorial limitar a internet
Do UOL, em São Paulo
18/11/2024 05h30
Vídeos de um alto funcionário do Ministério das Finanças da Guiné Equatorial fazendo sexo com diferentes mulheres dentro do gabinete do servidor vazaram nas redes sociais e levaram o governo do país a restringir o acesso à internet. Dias após o escândalo, Baltasar Ebang Engonga foi demitido do cargo em decreto assinado pelo presidente, Teddy Obiang.
O que aconteceu
Vice-presidente ordenou que as empresas de telecomunicações, reguladores e provedores de internet, controlassem e evitassem a disseminação dos conteúdos. Ordem foi emitida após o vice-presidente Nguema Obiang Mangue afirmar que os vídeos pornográficos estavam "inundando" as mídias sociais — incluindo comentários, memes e até paródias.
Após a ordem, o fluxo da internet foi limitado no país, conforme relato de pessoas à agência de notícias AFP. A medida foi tomada para tentar impedir os downloads dos conteúdos, porém, eles se espalharam rapidamente.
Centenas de vídeos em que Baltasar aparece foram encontrados por autoridades em um computador. Os agentes cumpriam um mandado na casa do funcionário em uma investigação de corrupção e desvio de fundos públicos quando apreenderam o aparelho. Baltasar, que é casado, era chefe da Agência Nacional de Investigação Financeira do paí s, atuando no combate a crimes financeiros, incluindo a lavagem de dinheiro. Ele foi demitido em 6 de novembro e não comentou o caso.
Vídeos, com datas desconhecidas, mostravam Baltasar e as mulheres fazendo sexo em diferentes locais — incluindo seu gabinete. Os registros vazaram depois que o funcionário foi preso por peculato, de acordo com a televisão estatal TVGE, em informação divulgada pela agência de notícias Reuters. O jornal Le Monde informou que algumas das mulheres nos vídeos eram esposas de outras figuras do governo local.
Sob anonimato, uma das mulheres que aparece em um dos registros disse que deu consentimento para a filmagem. Porém, ela relatou à emissora estatal ter pensado que as imagens haviam "sido imediatamente apagadas" após assisti-las. Ela relatou ter se sentido "humilhada" com o episódio.
Governo tomou outras medidas
Após o vazamento, o governo ordenou uma "repressão ao sexo" em repartições públicas e governamentais. Em 4 de novembro, o vice-presidente informou que a gestão toma medidas para que autoridades do governo não se envolvam em atos ilícitos no trabalho, visto que o episódio afetou a imagem do país. Entre as ações estão a instalação de câmeras de segurança em todos os escritórios e o reforço da segurança.
Mangue falou que qualquer funcionário flagrado praticando atos sexuais no trabalho seria suspenso. Ele explicou que a demissão ocorreria por "violação flagrante do código de conduta", informou a BBC Internacional.
"O executivo toma esta decisão após os vídeos de cunho sexual que viralizarem nas redes sociais nos últimos dias e que mancham a imagem do país", informou a agência de informação estatal no comunicado. Também foi informado que medidas foram acordadas em reuniões de emergência com a Suprema Corte, o procurador-geral do país e outros. Eles recomendaram a abertura de uma investigação.
A agência estatal explicou ainda que todos os funcionários que aparecem nas imagens de sexo seriam suspensos do trabalho. Nomes não foram divulgados pela agência, que ainda informou que os responsáveis pela segurança dos prédios onde os vídeos teriam sido gravados seriam repreendidos por não "fazerem o seu trabalho".
Com o alarde causado pelos vídeos, o procurador-chefe da Guiné Equatorial, disse que as gravações teriam sido consensuais. Em entrevista à TV Estatal, Anatolio Nzang Nguema, disse que, caso seja descoberto que Baltasar estava "infectado com alguma infecção sexualmente transmissível", ele seria processado por crime contra a saúde pública.
Episódio irritou membros do governo
Vice-presidente também criticou mulheres casadas flagradas nos vídeos. Segundo Mangue, os "atos estão degradando a reputação e dignidade" dessas mulheres. "Na nossa posição como governo, não podemos continuar a assistir famílias se desintegrarem sem tomar nenhuma atitude".
Primeira-dama se irritou com o episódio e chamou as imagens de "indecorosas". Constancia Mangue se encontrou com um ministro de governo e quis saber qual a estratégia para mitigar a situação. No Facebook, a primeira-dama afirmou que o episódio está "distorcendo e afetando a reputação das mulheres do país, apesar dos esforços realizados na questão do gênero". "É um escândalo social", acrescentou.
A Guiné Equatorial é governada pelo mesmo presidente há 45 anos. Teodoro Obiang é o mandatário mais antigo do mundo. O país tem cerca de 1,7 milhão de pessoas e fica localizado na África.