Amuleto ligado a 'capítulo diabólico' excluído da Bíblia é encontrado
Rafael Leite
Colaboração para o UOL, de Belo Horizonte
27/11/2024 18h23
Após escavações na antiga cidade de Adrianópolis, na Turquia, arqueólogos descobriram um antigo amuleto com a representação de Salomão em cima do cavalo, atacando o Diabo com uma lança. As informações são da Universidade de Karabuk.
O que aconteceu
O pingente encontrado data do século V d.C. Na frente, além da representação de Salomão cavalgando, enquanto derrota o Diabo, é possível ver a inscrição "Nosso Senhor derrotou o mal". Já no verso, há o nome de quatro arcanjos: Azrael, Gabriel, Miguel e Israfil.
Dr. Ersin Çelikba, responsável pela escavação, relatou ao Karabuk Medya que esse achado indica que Adrianópolis era um importante centro religioso no período antigo. "Até agora, não encontramos um exemplo semelhante na arqueologia da Anatólia. Apenas uma representação similar foi descoberta em Jerusalém, capital da Palestina."
Em todas as três religiões monoteístas, Salomão é uma figura significativa. Ele é descrito como um rei na Torá e na Bíblia, enquanto no Islã é reconhecido também como profeta. Ficamos bastante surpresos ao vê-lo representado neste pingente, destacando a importância dessa peça para a arqueologia da Anatólia.
Dr. Ersin Çelikba
Esse achado pode estar relacionado ao "Testamento de Salomão", que não está na Bíblia. A escrita começa com o rei Salomão recebendo um anel com poderes mágicos. Ele permitia ao rei controlar demônios e o usou para ajudar na construção do Templo de Jerusalém.
De acordo com o texto, Salomão lutou contra demônios. Por isso, o amuleto pode sugerir que os antigos moradores de Adrianópolis acreditavam que essas histórias eram verdadeiras.
Segundo o teólogo padre Samuel Fidelis, o Testamento de Salomão é considerado apenas um apócrifo. "Ele está permeado de elementos místicos e esotéricos, que não traduzem inteiramente a fé judaica", contou ao UOL.
[Os apócrifos] surgem no contexto do mundo antigo e são atravessadas por ensinamentos judaicos, apresentam figuras judaicas, mas que não são propriamente a doutrina judaica presente no Pentateuco (nome dado aos cinco primeiro livros do Antigo Testamento) e nem reconhecidas como textos canônicos (de acordo com os dogmas da igreja). Padre Samuel Fidelis
Para o teólogo, o Testamento de Salomão é um desdobramento narrativo a partir de fatos históricos. "Salomão, de fato, foi um rei que caiu na idolatria e que deixou o judaísmo ser influenciado pelo esoterismo. E aí, se desdobra isso em livros, histórias, narrativas, muito ligado a um movimento do século II, que era a gnose", disse.