Pepino-do-diabo intriga cientistas: jato explosivo lança sementes a 70 km/h
Colaboração para o UOL, de Belo Horizonte
01/12/2024 12h00
Um estudo liderado pela Universidade de Oxford sobre o pepino-do-diabo (Ecballium elaterium) resolveu o mistério sobre o jato explosivo da espécie - que lança as sementes a 70 km/h.
O que aconteceu
Quando maduro, o fruto se desprende do caule e ejeta as sementes em um jato de alta pressão. A duração é de aproximadamente 30 milissegundos e faz com que as sementes atinjam uma velocidade de 20 metros por segundos (ou seja, 72 km/h), segundo estudo publicado nesta terça-feira (26).
O lançamento explosivo arremessa a semente a uma distância de até 10 metros. Isso corresponde a 250 vezes o tamanho do fruto.
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A forma com que o pepino-do-diabo dispersa as sementes intrigava cientistas há séculos. Especialistas das universidades de Oxford e Manchester realizaram diversos experimentos até desvendarem o mistério. Eles desenvolveram modelos matemáticos para descrever a mecânica do lançamento. O estudo foi publicado na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences".
Entenda o mecanismo
Primeiramente, os frutos acumulam um fluido mucilaginoso nas semanas que antecedem a dispersão. Esse fluido causa o aumento da pressão interna.
Na sequência, faltando poucos dias para o lançamento, parte do fluido é transferido para o caule. Assim, ele se torna mais longo, espesso e rígido, e isso faz o fruto girar e sair de uma posição praticamente vertical para assumir um ângulo próximo a 45º.
Nos primeiros microssegundos do lançamento, a ponta do caule recua do fruto. Isso faz ele girar no sentido oposto.
Todos esses fatores fazem com que as sementes sejam ejetadas com velocidades e ângulos variáveis. Desta forma, algumas sementes alcançam distâncias maiores e outras menores.
Isso resulta em uma distribuição ampla e quase uniforme, com as sementes cobrindo uma área entre 2 e 10 metros da planta. "Não basta apenas atirar suas sementes para longe - você também quer que elas estejam bem espalhadas se quiser aumentar a probabilidade de algumas delas sobreviverem para produzir novas plantas", disse o Dr. Derek Moulton, professor de matemática aplicada na Universidade de Oxford e coautor do estudo, em entrevista à CNN.
Os pesquisadores também trabalharam em alterar essas variáveis e entender as consequências. Eles concluíram que esses fatores são essenciais para garantir a dispersão quase ideal e a sobrevivência da espécie.
Na primeira vez que inspecionamos essa planta no Jardim Botânico, o lançamento das sementes foi tão rápido que não tivemos certeza se realmente tinha acontecido. Foi muito empolgante desvendar o mecanismo dessa planta única
Dr. Derek Moulton, em entrevista à Universidade de Oxford