Lei marcial ameaça shows de k-pop e premiações de k-drama na Coreia do Sul
A adoção da lei marcial, anunciada nesta terça-feira (3) pelo presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, gera preocupação na indústria do entretenimento do país, de acordo com o portal de notícias sul-coreano TenAsia.
O que aconteceu
De acordo com o portal, shows musicais, eventos e festivais estão sendo cancelados no país. Apesar de não haver uma proibição expressa de eventos com grandes multidões sob a lei marcial, como premiações de fim de ano, executivos da indústria do entretenimento temem "caos social" e repressão a cerimônias do tipo.
O decreto de Yoon Suk-yeol proíbe, inicialmente, atividades políticas. Segundo o anúncio, ficam banidas "atividades da Assembleia Nacional, conselhos locais e partidos políticos, bem como todas as atividades políticas, como associações políticas, comícios e manifestações".
Ainda segundo o TenAsia, artistas estão sendo notificados sobre a possibilidade de cancelamentos. Um dos possíveis afetados é o KBS Drama Awards de 2024, que acontece no dia 31 de dezembro e premia atuações em produções audiovisuais da Coreia do Sul, como os k-dramas, popularmente conhecidos no Brasil como "doramas". Além disso, a maioria das empresas emitiu avisos de emergência para seus funcionários trabalharem de casa.
O período de final de ano é marcado por eventos de grandes empresas do entretenimento sul-coreano — além de premiações, é comum shows de artistas de k-pop e fanmeetings (eventos de encontros entre artistas e fãs)."Estamos examinando a situação em tempo real. É uma situação de 'superemergência'", disse um representante de uma empresa de entretenimento sob anonimato.
Após o anúncio da lei marcial, as atividades das empresas de entretenimento nas redes sociais também foram paralisadas. No X (antigo Twitter), fãs notaram que publicações habituais, como posts de aniversário de artistas de k-pop, não foram publicadas nos perfis dos artistas.
Por que a lei marcial foi decretada na Coreia do Sul?
De acordo com o anúncio presidencial, a medida foi tomada para proteger o país de "forças comunistas". Segundo Yoon, simpatizantes da Coreia do Norte e "elementos antiestatais" estariam ameaçando "a Coreia do Sul liberal".
Declaro a lei marcial para proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas norte-coreanas, para erradicar as desprezíveis forças antiestatais pró-norte-coreanas. que estão saqueando a liberdade e a felicidade de nosso povo e para proteger a ordem constitucional livre, anunciou Yoon Suk-yeol
O presidente sul-coreano tem lidado com um impasse político quase permanente com a oposição, que conta com maioria no Parlamento. Yoon citou uma moção apresentada nesta semana pelo oposicionista Partido Democrático, que controla a assembleia, para destituir alguns dos principais promotores do país e sua rejeição de uma proposta orçamentária do governo.
O presidente da Assembleia Nacional, Woo Won-shik, disse que faria uma sessão de urgência na noite desta terça-feira para debater o anúncio do presidente. Mas o Parlamento foi fechado e todos os acessos a ele foram bloqueados, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap.
Na Coreia do Sul, a lei marcial foi usada várias vezes nos anos 1960. A medida, à época, era adotada após golpes militares e protestos generalizados. Esta é a primeira vez desde a redemocratização do país — no final dos anos 1980 — que um estado de lei marcial é imposto.
* Com informações da Deutsche Welle.