Presidente por trás da lei marcial na Coreia foi 'promotor anticorrupção'
Colaboração para o UOL
03/12/2024 16h18
O presidente Yoon Suk Yeol decretou lei marcial na Coreia do Sul nesta terça (3), com o fechamento do parlamento, a proibição de todas as atividades políticas e a imprensa sujeita a controle.
Ele justificou a decisão como necessária para proteger o país de "forças comunistas" em meio a disputas com o parlamento — controlado pelo partido de oposição — em relação ao projeto de lei orçamentária do próximo ano.
Quem é Yoon Suk Yeol?
Presidente da Coreia do Sul desde 2022, Yoon é um novato da política. Entre 2019 e 2021, ele atuou como Procurador-Geral e antes disso teve uma carreira de cerca de 25 anos como promotor.
Ele ficou famoso por liderar casos de combate à corrupção. Em 2013, Yoon comandou uma investigação sobre o envolvimento do Serviço de Inteligência Nacional nas eleições presidenciais. O líder da agência, Won Sei-Hoon, foi levado a julgamento e condenado por manipulação da opinião pública. O serviço reconheceu os crimes em 2017.
Yoon também investigou a influência indevida de figuras polêmicas sobre a presidente Park Geun-Hye. A presidente acabou sofrendo impeachment em 2016 após indícios de que Choi Soon-Sil, figura mística conhecida como uma "Rasputin coreana", e o vice-presidente da Samsung, Lee Jae-Yong, tinham acesso até mesmo a informações confidenciais da presidência.
Centenas de autoridades foram processadas por Yoon. Durante sua passagem pela Promotoria Central do Distrito de Seul, Yoon fez acusações formais contra dois ex-presidentes, três diretores de inteligência, um ex-ministro do Judiciário e mais de 100 ex-autoridades do governo e executivos de grandes empresas.
Escândalo e tensões crescentes no governo
Yoon também foi acusado corrupção. No início de novembro, ele negou ter tido influência indevida na escolha do candidato que representaria o Partido do Poder Popular (PPP, o partido do governo conservador) nas eleições parlamentares de 2022 a pedido do fundador de uma empresa de pesquisas eleitorais, Myung Tae-Kyun.
Conversa gravada entre presidente e Myung confirmou escândalo. É possível ouvir o presidente coreano admitindo a Myung que pediu a um comitê do PPP para escolher Kim Young-Sun como candidato em um áudio que se tornou público. Segundo o Partido Democrático, de oposição, Yoon fazia favores políticos a Myung em troca de pesquisas gratuitas de opinião, que poderiam favorecê-lo, segundo a Reuters.
Governo de Yoon é marcado por tensões com a Justiça e outras autoridades. O presidente rejeita pedidos de investigações independentes sobre suas ações, as da primeira-dama e de altos funcionários, como no escândalo das pesquisas eleitorais. Seus apoiadores acreditam ser vingança devido à sua atuação como promotor, mas o índice de aprovação do presidente começou a cair nos últimos meses.
Parlamento é controlado pela oposição. Yoon, que se tornou um ícone conservador na última década, venceu uma eleição apertada, mas não detém maioria no parlamento e tem tido dificuldades de impor sua agenda. Ele já recuou de promessas controversas de campanha, como a abolição do Ministério da Igualdade de Gênero e o aumento da carga horária de trabalho semanal.
Sanções contra a imprensa. A organização Repórteres Sem Fronteiras apontou que a Coreia do Sul caiu do 47º lugar em 2023 para o 62º lugar em 2024 no Índice de Liberdade de Imprensa Internacional devido a sanções consideradas excessivas do governo de Seul contra jornalistas, como uma batida policial na casa de um repórter e processos contra a emissora MBC por reportar uma possível crítica de Yoon a Joe Biden.