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Trump tira do ar rádio que era alvo dos irmãos Castro em Cuba há 40 anos

Donald Trump cortou gastos para rádio que fazia propaganda contra governo cubano - Reprodução Donald Trump cortou gastos para rádio que fazia propaganda contra governo cubano - Reprodução
Donald Trump cortou gastos para rádio que fazia propaganda contra governo cubano Imagem: Reprodução

Do UOL*, em São Paulo

26/03/2025 15h57

O presidente dos EUA, Donald Trump, desmantelou uma rádio financiada pelo governo que enviava notícias para Cuba e que esteve na mira dos irmãos Castro há 40 anos.

O que aconteceu

Rádio Martí foi projetada para enviar notícias em espanhol e sem censura para Cuba. Ela atraía fúria do regime comunista por levar "discursos unilaterais de direita contra o governo cubano", segundo críticos ouvidos pelo New York Times.

Rádio foi desmantelada em meio a cortes do governo Trump. Ela está entre as dezenas de programas e agências que integram um pacote de cortes liderado também pelo conselheiro do presidente, Elon Musk. A ordem da vez foi a redução da USAGM (Agência dos EUA para a Mídia Global, em tradução livre), uma operação de quase US$ 1 bilhão que supervisiona as transmissões de notícias em 50 idiomas.

Com sede em Miami, a Rádio Martí foi fundada na década de 1980 por Ronald Reagan. A construção da emissora foi um pedido do então líder cubano-americano exilado Jorge Mas Canosa. O projeto tinha como objetivo adentrar na ilha que era rigidamente controlada pelo governo. Atualmente, a emissora funcionava transmitindo notícias sobre Cuba trazendo contrapontos em relação aos provedores estatais.

Emissora sofria críticas por ser "relíquia ultrapassada da Guerra Fria", segundo o New York Times. "Um desperdício inchado onde pessoas politicamente influentes encontravam empregos para seus parentes", acrescentou o jornal. A rádio também sofreu com escândalos jornalísticos e de corrupção que eram alvo de relatórios do Congresso, conforme a reportagem.

Rádio Martí Imagem: Wikipedia

No entanto, a rádio ganhou oito prêmios Emmy. "Cuba está passando por sua pior crise e, no meio dessa crise, esse fiasco de apagão de informações só beneficia o regime", disse Mario J. Pentón, jornalista cubano que trabalhou na rádio.

Equipe soube do encerramento das atividades por email. Segundo o New York Times, os jornalistas estavam em meio a uma entrevista quando a notícia chegou. Ramón Saúl Sánchez, ativista conhecido por liderar protestos para Cuba, teve o perfil cancelado. "Eles ficaram muito confusos. Disseram: 'Achamos que fomos demitidos. Precisamos ir embora'", disse ele sobre a situação.

Rádio era bloqueada em Cuba. A estação de TV até ganhou o apelido de "No See TV" (Não vejo TV, em tradução livre) devido ao bloqueio na ilha. Abel Fernández, diretor de mídia digital e social do canal, perdeu o emprego na última semana e disse que todos os conteúdos da emissora estavam bloqueados. "Mas as pessoas estão alcançando o conteúdo nas mídias sociais [que ainda estão ativas]. O que estamos fazendo é importante e importa para as pessoas", disse ele ao New York Times. Antes do fechamento, os índices de audiência só aumentavam.

Emissora foi chamada de "podridão" por agente da USAGM. Kari Lake, nomeada por Trump para dirigir a emissora Voice of America da USAGM, descreveu a agência como uma "podridão gigantesca e um fardo para o contribuinte americano" e que "não pode ser salva".

Secretário de Estado, Marco Rubio, que é cubano-americano, chamou situação de "complexa". Ele disse que o presidente "foi eleito para tomar decisões difíceis" e que "a situação continua complexa". Os principais editores da rádio disseram que não estavam autorizados a falar sobre os cortes.

Os irmãos Fidel e Raúl Castro queriam a Rádio Martí fora do ar há 40 anos. Raúl fez uma exigência pública em 2015 para o fim da emissora. Na época, o então presidente Barack Obama, havia restabelecido as relações diplomáticas com a ilha. "Os Estados Unidos mantêm programas prejudiciais à soberania cubana, como projetos para promover mudanças em nossa ordem política, econômica e social", disse Raúl à época.

Medida de Trump foi celebrada pelo governo cubano. A agência de notícias estatal cubana Cubadebate comemorou a decisão de Trump, classificando os programas como "projeto de comunicação mais caro, fracassado e corrupto da história dos Estados Unidos". Randy Alonso, editor-chefe do Cubadebate, chamou a USAGM, que até então era responsável pela Rádio Martí, de "lodo digital". "O mais podre desses programas são aqueles direcionados a Cuba, uma nação contra a qual bilhões de dólares foram gastos sem que se conseguisse derrubar a Revolução (Cubana)", escreveu.

*Com informações da Reuters


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