Topo

Análise do NYT: Republicanos perdem muito para ganhar pouco

Jeremy W. Peters

Em Washington

17/10/2013 11h25

Para os republicanos que desprezam a Lei de Saúde do presidente Barack Obama, as últimas semanas deveriam ter sido um momento singular para transformar seu problema de financiamento em um forte argumento contra ela. Em vez disso, em uma campanha inútil para tirar as verbas federais da lei, o partido chamou a atenção para suas próprias divisões, prejudicou sua situação nacional e minou sua capacidade de obter concessões dos democratas. Em seguida, os republicanos se renderam quase incondicionalmente.

“Se você olhar para trás e avaliar as duas últimas semanas, elas deveriam se chamar: ‘A Grande Oportunidade Perdida’”, disse o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, entre os muitos republicanos que argumentaram que o apoio à Lei da Saúde entraria em colapso assim que o público percebesse o quanto é desastrosa.

Saiba mais

  • Jason Reed/Reuters

    Entenda o que é o teto da dívida pública dos Estados Unidos e suas implicações

"Foram as duas melhores semanas para o Partido Democrata nos últimos tempos, porque eles estavam fora dos holofotes e não tinham que defender suas ideias”, acrescentou Graham.

Agora, perto do fim de uma crise de governo que prejudicou Washington e consternou uma nação já profundamente crítica de seus políticos, os republicanos estão tendo dificuldades em responder até as perguntas mais básicas sobre a causa e os efeitos do que aconteceu ao longo das últimas semanas.

Eles discordam sobre como, ou mesmo se, podem crescer com a experiência. Muitos não conseguem entender como não conseguiram prevenir esse golpe contra si mesmos. Outros não conseguiram explicar por que foi preciso tanto dano ao seu partido e tanto inconveniente para milhões de pessoas, o confronto e o fechamento do governo para acabar exatamente onde tantos imaginavam.

“Alguém precisa me explicar isso”, disse o senador John McCain, republicano do Arizona. “Eu sabia como tudo ia acabar”.

“Eu estou tentando esquecer o episódio”, disse a senadora Lisa Murkowski, republicana do Alaska, ainda sem acreditar que muitos de seus colegas republicanos não compreenderam que esta era uma batalha perdida. “Aqui estamos. Aqui estamos. Nós previmos isso. Ninguém queria que fosse dessa maneira”.

Durante todo o tempo, eles tiveram o público do seu lado em outras questões que poderiam ter encaminhado ao tribunal da opinião pública, como a necessidade de controle da dívida de longo prazo do país. E embora eles tenham começado o processo no mês passado com grandes vantagens - um presidente na defensiva com uma resposta instável para a guerra na Síria e um acordo dos democratas para manter o financiamento do governo em níveis que muitos liberais consideravam muito baixo - sua fixação na Lei de Saúde os impediu de usar a vantagem.

“Conseguimos nos dividir em algo que estávamos unidos, com uma meta que era impossível”, disse o senador republicano Roy Blunt. “Acho que o presidente teve o pior agosto e início de setembro que qualquer presidente poderia ter tido. E conseguimos mudar de assunto”.

A questão crucial para a viabilidade do Partido Republicano agora, em preparação para as eleições de 2014 no Congresso e além, é se os conservadores que insistiram em levar essa luta adiante vão se afastar nos próximos meses, quando o governo vai ficar sem dinheiro e esgotar a sua autoridade de se endividar novamente.

  • Charles Dharapak/AP

    Barack Obama faz pronunciamento após Senado aprovar elevação do teto da dívida

Não é uma questão abstrata. O acordo alcançado na quarta-feira (16) vai financiar o governo só até o dia 15 de janeiro e elevar o teto da dívida até o dia 7 de fevereiro. Alguns altos republicanos sugerem que este confronto terminou tão mal que vai reduzir o apetite por outro similar em apenas poucos meses. A parte mais conservadora do partido, o Tea Party, que estava tão ansiosa por este momento, pode se esquivar da próxima vez.

Muitos republicanos estão propondo uma reorientação de prioridades, dizendo que o partido deve se voltar para questões maiores, como a revisão do código tributário pesado e impopular e a redução do déficit de longo prazo. Quanto à Lei da Saúde, alguns acreditam em uma luta mais passível de ser vencida quanto ao seu financiamento ao longo do próximo ano, por meio de uma dura avaliação parlamentar.

“Agora vamos mudar para a fiscalização da lei, e claramente há enormes problemas”, disse o deputado republicano Dave Camp, de Michigan, que preside o Comitê fiscal de Meios e Formas. “Agora vamos ter que atacar o que essa lei realmente está fazendo para os americanos. Está funcionando e está dando resultados?”

O deputado republicano Adam Kinzinger, de Illinois, disse: “Agora, vamos todos respirar fundo e, basicamente, mudar de foco”.

No Senado, já havia sinais de que um grupo emergente de 14 senadores centristas de ambos os partidos estavam procurando se preparar para as batalhas fiscais à frente. O grupo, liderado por Susan Collins, republicana, e Joe Manchin III, democrata, já marcou reuniões para as próximas semanas. McCain, que também é membro, disse na quarta-feira: “Nós não vamos deixar que esse tipo de partidarismo prejudique o Parlamento e o povo americano”.

A estratégia do presidente da Câmara, John A. Boehner, sempre envolveu uma aposta que seus membros aprenderiam com este conflito. Ele intencionalmente permitiu que seus membros mais conservadores liderassem o barco enquanto tentavam em vão fazer o Senado aceitar uma medida ruim após a outra – primeiro, visando tirar os fundos da Lei da Saúde; depois, procurando atrasá-la; e no final, visando reduzi-la. Sua esperança era que eles iriam perceber que a luta não valia a pena.

A preocupação entre muitos republicanos é que o pessoal do Tea Party não vai aprender, principalmente porque seus distritos são tão conservadores que eles nem precisam ouvir.

Alguns temem que a história se repita. Após a derrota de Mitt Romney em 2012, quando os republicanos perderam as eleições presidenciais, o partido tentou se reagrupar. O centro do partido advertiu que era preciso deixar de ser tão estridente, tão excludente e tão focado em questões que alienam grandes blocos de eleitores que, de outra forma, poderiam ser republicanos.

Certamente, a batalha do Orçamento mostrou que os republicanos do Congresso têm ideias divergentes sobre como acatar esse conselho.

Na quarta-feira, o deputado Mick Mulvaney, republicano da Carolina do Sul, compartilhou sua forma de pensar sobre o que o partido deve fazer quanto à Lei de Saúde a partir de janeiro e fevereiro.

“A tendência natural é dizer: ‘Vai ser exatamente igual'“, disse ele. “Mas se pudermos descobrir uma maneira de conduzir essa mensagem mostrando que se trata de justiça, de princípios, então o resultado poderá ser bem diferente”.

Tradução: Deborah Weinberg