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Grupo pediátrico recomenda ler em voz alta para crianças desde o nascimento

Grupo americano reconhece que a leitura para crianças amplia o vocabulário e outras importantes habilidades de comunicação - Getty Images
Grupo americano reconhece que a leitura para crianças amplia o vocabulário e outras importantes habilidades de comunicação Imagem: Getty Images

Motoko Rich

25/06/2014 06h01

Além de dar orientações sobre amamentação e imunizações, os médicos dirão aos pais para lerem em voz alta para seus filhos desde o nascimento, segundo uma nova política que a Academia Americana de Pediatria anunciou na terça-feira (24).

O grupo, que representa 62 mil pediatras de todos os Estados Unidos, está pedindo aos seus membros que se tornem fortes defensores da leitura em voz alta, toda vez que um bebê visitar o médico. Isso se deve ao maior reconhecimento de que uma parte importante do desenvolvimento do cérebro ocorre nos primeiros três anos da vida da criança e que a leitura para crianças amplia o vocabulário e outras importantes habilidades de comunicação.

"Deve ser abordado toda vez que entrarmos em contato com as crianças", disse a médica Pamela High, autora da nova política. Ela recomenda que os médicos digam aos pais que devem "ler juntos como uma divertida atividade familiar diária" desde a primeira infância.

Essa é a primeira vez que a academia –que já emitiu recomendações sobre quanto tempo as mães devem amamentar seus bebês e aconselha os pais a manter seus filhos longe de telas até pelo menos os 2 anos– se manifesta sobre a alfabetização precoce.

Apesar dos pais ambiciosos e com alta escolaridade que já leem poesia e tocam Mozart para seus filhos desde o útero não precisarem deste conselho, a pesquisa mostra que muitos pais não leem para seus filhos com tanta frequência quanto pesquisadores e educadores acham ser crucial para o desenvolvimento de habilidades pré-alfabetização (que ajudam as crianças a terem sucesso assim que chegam à escola).

A leitura, assim como conversar e cantar, é vista como importante para aumentar o número de palavras que a criança ouve nos primeiros anos de sua vida. Há quase duas décadas, um estudo citado com frequência apontou que aos 3 anos, os filhos de profissionais mais ricos já tinham ouvido milhões de vezes mais palavras que os filhos de pais de menor escolaridade e baixa renda, o que dava às crianças que ouviram mais palavras uma vantagem clara na escola.  Nova pesquisa mostra que essas diferenças já surgem aos 18 meses.

Segundo uma pesquisa do governo federal sobre a saúde da criança, 60% das crianças americanas de famílias com rendas de pelo menos 400% o limiar federal de pobreza –US$ 94.400 por ano para uma família de quatro– ouvem leituras diariamente do nascimento até os 5 anos, em comparação a cerca de um terço das crianças de famílias que vivem abaixo da linha de pobreza, US$ 23.850 por ano para uma família de quatro.

Com pais de todas as faixas de renda cada vez mais dando smartphones e tablets para bebês, que aprendem a mover o dedo pela tela antes de aprenderem a virar uma página, a leitura em voz alta pode estar sendo relegada a um segundo plano.

"A realidade do mundo atual é que estamos competindo com meios digitais portáteis", disse a médica Alanna Levine, uma pediatra de Orangeburg, no Estado de Nova York (EUA). "De modo que realmente queremos armar os pais com ferramentas e argumentos para o motivo de ser importante se ater a coisas básicas, como livros."

A leitura em voz alta também é uma forma de passatempo para os pais, que consideram cansativo ficar falando como bebê. "É uma forma fácil de falar, que não envolve falar sobre as plantas do lado de fora", disse Erin Autry Montgomery, uma mãe de um menino de 6 meses em Austin, Texas.

As crianças de baixa renda costumam ser expostas a pouca leitura antes de entrarem em ambientes pré-escolares formais. "Nós vemos famílias que não leem para seus filhos e onde não há livros em casa", disse Elisabeth Bruzon, coordenadora da divisão de Fairfax, Virgínia, do Instrução em Casa para Pais de Crianças Pré-Escolares, um programa sem fins lucrativos que envia visitantes para os lares de famílias de baixa e média renda com crianças entre 3 e 5 anos.


Disparidade acadêmica
O grupo pediátrico espera que ao encorajar os pais a lerem com mais frequência desde cedo, eles possam ajudar a reduzir as disparidades acadêmicas entre crianças ricas e de baixa renda, assim como entre grupos raciais. "Se conseguirmos acertar nos primeiros 1.000 dias de vida", disse o médico Dipesh Navsaria, um professor assistente de pediatria da Escola de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin, "nós realmente evitaremos muitos problemas posteriores e dependeremos bem menos de ações remediadoras".

Navsaria é diretor médico da divisão de Wisconsin do “Reach Out and Read”, um grupo de alfabetização sem fins lucrativos que emprega cerca de 20 mil pediatras de todo o país para distribuírem livros para famílias de baixa renda. O grupo está trabalhando com o “Pequenos Demais para Fracassar” (“Too Small to Fail”), um esforço conjunto entre a Fundação Next Generation sem fins lucrativos e a Fundação Bill, Hillary e Chelsea Clinton que visa reduzir a desigualdade na alfabetização.

No encontro da Iniciativa Global Clinton da América em Denver, Hillary Rodham Clinton anunciou que a Scholastic, a editora de livros infantis, doará 500 mil livros para a Reach Out and Read. O “Pequenos Demais para Fracassar” também está desenvolvendo materiais para distribuição aos membros da Academia Americana de Pediatria para ajudá-los a enfatizar a mensagem para os pais de praticarem a leitura em voz alta.