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2014 foi um ano terrível para a aviação malasiana

Michael Forsythe

30/12/2014 06h00

Para a aviação malasiana, 2014 foi um ano inimaginavelmente horrível. Caso nenhum sobrevivente seja encontrado entre os 162 passageiros e tripulantes a abordo do voo 8501 da AirAsia, que desapareceu na manhã de domingo (28) no trajeto entre Surubaya, Indonésia, e Cingapura, companhias aéreas da Malásia ou suas subsidiárias estarão envolvidas nos três desastres aéreos mais mortais do mundo neste ano, segundo estatísticas compiladas pela Fundação de Segurança de Voo, em Alexandria, Virgínia.

Primeiro ocorreu o desaparecimento do voo 370 da Malaysia Airlines. O Boeing 777, que partiu de Kuala Lumpur com destino a Pequim, mudou abruptamente de curso nas primeiras horas da manhã de 8 de março e foi detectado pela última vez pelo radar a oeste da península malasiana, seguindo para o Oceano Índico.

Com base na informação dos satélites, os investigadores acreditam que o avião, com 239 pessoas a bordo, caiu em algum lugar no sul remoto do Oceano Índico, a oeste da Austrália. Nenhum traço de destroços do avião foi encontrado, no que pode ser o maior mistério da história da aviação. Até o momento, os investigadores não sabem por que o avião mudou de rota.

Em 17 de julho, outro 777 da Malaysia Airlines caiu, dessa vez na Ucrânia, em território controlado pelos rebeldes. Todas as 298 pessoas a bordo morreram. Os Estados Unidos e autoridades ucranianas dizem que o avião foi abatido por um míssil terra-ar de fabricação russa disparado pelos rebeldes pró-Rússia. A Rússia negou qualquer envolvimento e acusou as forças ucranianas de serem responsáveis.

Nenhum outro desastre aéreo neste ano chegou perto das tragédias malasianas em número de vidas perdidas. O desastre mais mortífero seguinte em 2014 envolveu um avião argelino que caiu no deserto de Mali, em julho, matando todas as 116 pessoas a bordo, segundo a Rede de Segurança na Aviação da fundação.

O Airbus A320 que desapareceu no domingo é operado por uma subsidiária indonésia da AirAsia, uma empresa com sede na Malásia. A matriz, dirigida por um malasiano, Tony Fernandes, é dona de 49%, segundo seu site.

A AirAsia, uma companhia aérea de baixo custo, nunca tinha sofrido um acidente fatal. "Este é meu pior pesadelo", disse Fernandes pelo Twitter.

"Eu não vejo nenhum paralelo", disse John Cox, um especialista em segurança na aviação e ex-capitão da US Airways que é presidente-executivo da Safety Operating Systems, uma consultoria do setor em Washington.

Cox disse que as circunstâncias dos três acidentes foram completamente diferentes, ocorrendo em empresas com bom retrospecto de segurança. O fato de todos os incidentes envolverem o setor de aviação de um mesmo país no Sudeste Asiático é sem precedente, ele disse.

"É uma má sorte inacreditável que os atingiu", ele acrescentou. Cox disse que já voou por seis anos no A320, o chamando de um pilar do setor global de aviação, bem conceituado e com um longo restrospecto de segurança.

A conexão malasiana dos três acidentes é ainda mais notável, dado que nenhuma das companhias aéreas está entre as 25 maiores do mundo em passageiros transportados, segundo números de 2013 compilados pela Flightglobal, uma empresa britânica que compila informações sobre o setor.

"Não consigo acreditar", disse Hishammuddin Hussein, o ministro da Defesa malasiano que foi a face pública do país durante a busca pelo voo 370, em março, em sua página do Twitter.

A miséria na Malásia não se restringe aos céus. O desaparecimento do voo da AirAsia ocorreu enquanto o país lida com as chuvas pesadas das monções, as piores em muitos anos, que forçaram a evacuação de mais de 160 mil pessoas. Pelo menos 10 pessoas morreram nas enchentes que ocorreram em muitas áreas do país.

A somatória de enchentes com o avião desaparecido levou muitos malasianos a especularem nas redes sociais que estavam sendo testados por Deus. "É um momento para todos nós nos unirmos, fazermos uma pausa, refletir e rezar", disse pelo Twitter uma pessoa usando o nome Adibah Noor. "Deus nos enviou muitos sinais de alerta."