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Armas nas universidades impediriam estupros, argumentam defensores do porte

9.fev.2015 - Crayle Vanest, estudante da Universidade Indiana, se tornou a primeira mulher na direção nacional do Students for Campus carry, grupo que faz lobby pelo porte de armas em campi universitários, em Bloomington, Indiana (EUA) - Aaron P. Bernstein/The New York Times
9.fev.2015 - Crayle Vanest, estudante da Universidade Indiana, se tornou a primeira mulher na direção nacional do Students for Campus carry, grupo que faz lobby pelo porte de armas em campi universitários, em Bloomington, Indiana (EUA) Imagem: Aaron P. Bernstein/The New York Times

Alan Schwarz

23/02/2015 06h01

À medida que os defensores do direito de usar armas fazem pressão para legalizar as armas de fogo nos campi universitários, um argumento está tomando forma: armar as estudantes mulheres ajudará a reduzir a violência sexual.

Tem sido difícil reunir apoio para as leis que permitam carregar armas nos campi, chamadas de “campus-carry”, apesar dos esforços dos proponentes que argumentam que estudantes e funcionários armados poderiam prevenir tiroteios em massa como o que aconteceu na Virginia Tech em 2007.

O porte de armas de fogo escondidas foi banido dos campi universitários em 41 Estados por lei ou por política das universidades. Carregar armas abertamente em geral não é permitido.

Mas neste ano, legisladores de dez Estados que apresentaram projetos de lei que permitiriam o porte de armas de fogo nos campi estão esperando que a atenção nacional dada à violência sexual os ajude a aprovar suas medidas.

“Se você tem uma pessoa que é estuprada porque não permitiu que ela carregasse uma arma de fogo para se defender, acho que você é responsável”, disse o deputado estadual Dennis K. Baxley, republicano da Flórida, durante um debate em um subcomitê da Câmara no mês passado. A lei foi aprovada.

A criadora de um projeto de lei em Nevada, a deputada estadual Michele Fiore, disse em uma entrevista por telefone: “Se essas garotas novas e atraentes nos campi tivessem uma arma, fico me perguntando quantos homens iriam querer atacá-las. Os ataques sexuais que estão ocorrendo cairiam uma vez que esses predadores sexuais recebessem uma bala na cabeça".

Além dos da Flórida e de Nevada, projetos de lei para permitir armas nos campi foram apresentados em Indiana, Montana, Oklahoma, Carolina do Sul, Dakota do Sul, Tennessee, Texas e Wyoming.

Oponentes sustentam que os campi universitários devem permanecer como refúgios dos riscos relacionados às armas que existem em outros lugares e que os estudantes universitários, com altas taxas de abuso de álcool e outros comportamentos temerários, seriam particularmente propensos a acidentes com armas.

Alguns especialistas em violência sexual dizem que as estudantes universitárias normalmente são atacadas por alguém que conhecem, às vezes por um amigo, então mesmo que tenham acesso a uma arma, raramente seriam tentadas a usá-la.

“Isso reflete uma incompreensão sobre os ataques sexuais em geral”, disse John D. Foubert, um professor da Universidade Estadual de Oklahoma e presidente nacional da One in Four, que fornece programas educativos sobre violência sexual para campi universitários.

“Se você tem uma situação de estupro, normalmente ela começa com algum tipo de comportamento consensual, e no momento em que deixa de haver consentimento, é quase impossível correr para pegar uma arma. Talvez se for alguém que já estuprou antes e estiver voltando, teoricamente poderia ajudar as vítimas a se sentirem mais seguras.”

Outros opositores dos projetos de lei dizem que os defensores das leis para carregar armas nos campi, predominantemente republicanos com posições bem estabelecidas a favor das armas, estão meramente explorando um tema forte.

“O lobby das armas adotou essa tática, esse assunto da violência sexual”, disse Andy Pelosi, diretor-executivo da Campanha para Manter as Armas Fora do Campus. “Isso repercute entre os legisladores.”

Colorado, Wisconsin e outros sete Estados permitem que pessoas com porte legal de armas carreguem armas, de forma discreta, alguns com restrições. (Por exemplo, Michigan não permite armas nos dormitórios ou nas salas de aula.) Muitos desses estados já tiveram proibições mas as retiraram nos ciclos legislativos recentes, sugerindo um momento propício para os esforços em 2015.

Debates anteriores no Colorado, no Michigan e em Nevada incluíram um testemunho de apoio às leis de porte de armas nos campi de Amanda Collins, que em 2007 foi estuprada no campus da Universidade de Nevada em Reno; Collins disse que se estivesse portando sua arma legalizada, ela teria evitado o ataque. Não está claro se Collins dará seu testemunho em algum outro lugar neste ano.

Algumas pesquisas estimaram que uma grande maioria dos reitores e membros das faculdades se opõem a permitir armas de fogo nos campi. O apoio foi um pouco mais alto entre os alunos, mas 67% dos homens e 86% das mulheres continuam não gostando da ideia.

Muitos estudantes que apoiam a legislação atual se juntaram ao grupo de lobby Students for Concealed Carry [algo como Estudantes pelo Uso Discreto de Armas].

Crayle Vanest, uma veterana da Universidade de Indiana que recentemente se tornou a primeira mulher no conselho nacional do grupo, disse que ela deveria poder carregar sua pistola Bersa Thunder calibre 38, licenciada, no campus, em que ela disse que anda desarmada depois de seus turnos noturnos na praça de alimentação da biblioteca.

“As universidades estão sob uma tonelada de investigações pela forma como lidam com a violência sexual – isso mostra como o campus talvez não seja tão seguro”, disse Vanest, que está fazendo lobby com os legisladores de Indiana.

“Nosso número de associadas mulheres aumentou muito. Pessoas que não ouviam antes, estão ouvindo agora.”

Alguns legisladores dizem que esperam que os votos nas leis se deem em grande parte ao longo das linhas partidárias. O debate mais interessante pode acontecer na Flórida, onde várias histórias se intersectam.

A Universidade Estadual da Flórida teve episódios notórios de violência sexual – o jogador e astro de futebol Jameis Winston foi acusado de estuprar uma colega em 2012 mas não enfrentou acusações criminais – bem como um tiroteio no campus em novembro no qual um atirador de 31 anos abriu fogo na biblioteca da escola, ferindo dois estudantes e um funcionário antes de ser morto a tiros pela polícia.

O reitor da universidade, John Thrasher, é um ex-senador estadual, ex-presidente do partido Republicano no Estado e um forte apoiador do direito ao porte de armas. Mas ele se opõe às armas na área das universidades, em parte por causa de uma morte que ocorreu em 2011: Ashley Cowie, uma estudante do segundo ano e filha de um amigo próximo de Thrasher, morreu a tiros quando outro aluno, ao mostrar seu rifle em uma república, não percebeu que a arma estava carregada.

“Um campus universitário não é um lugar para carregar armas para lá e para cá; nossa política do campus concorda com isso, da mesma forma que as agências de aplicação da lei”, disse Thrasher.

"Se eu pudesse dizer algo nessa situação, perguntaria à Assembleia Legislativa se talvez as universidades não conheçam a questão melhor do que ela. Não imponham nada para nós.”

Mariana Prado, uma estudante do segundo ano da Universidade Stetson, em DeLand, Flórida, disse: “acho que é uma ideia terrível. Pelo que eu vi, a violência sexual costuma estar ligada a situações em que as pessoas estão bebendo, então não é uma boa ideia ter armas envolvidas no meio disso.”