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Jovens latinos fazem campanha por Hillary e Sanders em caucus em Nevada

Jovem fala por telefone em comitê de campanha de Hillary Clinton em Las Vegas - Isaac Brekken/The New York Times
Jovem fala por telefone em comitê de campanha de Hillary Clinton em Las Vegas Imagem: Isaac Brekken/The New York Times

Yamiche Alcindor

Em Las Vegas (Nevada)

17/02/2016 06h02

Liz Hernandez aprendeu o que significa deportação aos 5 anos, quando autoridades de imigração invadiram sua casa e levaram embora seu pai e quatro tios.

Cinco anos depois, após um breve retorno ao México em uma tentativa frustrada de iniciar uma fazenda familiar, ela e sua mãe, a irmã mais moça e um irmão bebê atravessaram novamente o deserto rumo ao norte, em uma van sufocante dirigida por contrabandistas.

Hoje com 25 anos, Hernandez é um dos voluntários do senador Bernie Sanders, e vê sua candidatura presidencial como "a melhor opção para nossa comunidade e para a mudança que queremos ver", como disse ela entre telefonemas a eleitores, em uma central telefônica da campanha.

"Eu realmente acredito que Bernie Sanders quer que eu tenha uma chance", disse ela.

Na batalha por Nevada, que realizará seu cáucus democrata [eleição de delegados para a convenção do partido] no sábado (20), a luta está sendo travada majoritariamente por jovens latinos, muitos deles imigrantes, que aproveitam a oportunidade para chamar a atenção para as dificuldades que enfrentaram e para exercer um papel potencialmente vital na eleição do próximo presidente.

Os seguidores de Sanders, correndo para convencer eleitores que não conhecem o senador de Vermont a apoiar seu enfoque na desigualdade econômica, estão decididos a provar que ele pode conquistar um eleitorado diversificado depois de ganhar em New Hampshire e chegar perto em Iowa.

Os apoiadores de Hillary Clinton, aproveitando uma rede de alianças que ela forjou na campanha presidencial de 2008, estão igualmente decididos a interromper o ímpeto político de Sanders.
Mas, para os eleitores nascidos no estrangeiro e americanos de primeira geração, há muito mais em jogo em Nevada do que a arte da campanha política.

Enquanto os republicanos prometem deportar milhões de pessoas que estão ilegalmente no país, e Donald Trump planeja construir um muro para impedir que "violadores e criminosos" cruzem a fronteira vindos do México, voluntários e trabalhadores de campanha descrevem a disputa democrata em Nevada, em termos pessoais, como uma oportunidade de fazer uma poderosa demonstração sobre o lugar que ocupam na sociedade americana.

"Quero que as pessoas conheçam minha história", disse Hernandez, com as lágrimas escorrendo pelo rosto ao admitir que não pode votar. "Quero que as pessoas saibam que não tenho documentos, e que quando as pessoas falam sobre 'ilegais' é alguém como eu, que tinha só 4 ou 5 anos quando chegou aqui --que tudo o que minha família queria era um pouco mais do que eles tinham."

Para os jovens latinos na campanha dos dois candidatos, as dificuldades de que os rivais democratas falam cada vez mais em seus discursos --pobreza, desemprego, discriminação e separação forçada de seres amados-- são muito conhecidas.

Vegas - Isaac Brekken/The New York Times - Isaac Brekken/The New York Times
Santiago Gudino-Rosales (centro), apoiador de Bernie Sanders, faz campanha no campus da Universidade de Nevada em Las Vegas
Imagem: Isaac Brekken/The New York Times

Leo Murrieta, 29, um cabo eleitoral de Hillary que imigrou ilegalmente do México quando era um bebê de poucas semanas, disse que ele e sua mãe, seu irmão e a irmã ficaram sem emprego durante a recessão de 2008.

Eles perderam sua casa no norte de Las Vegas por inadimplência e sobreviveram com a renda do pai como zelador de escola. Para aumentar as ansiedades da família, seu cunhado e sua cunhada estão no país ilegalmente.

Murrieta disse que fez milhares de ligações para Hillary e descreveu a opção na disputa democrata como entre o idealismo exagerado e a expectativa realista de progresso.

"Para mim, promessas não mantêm minha família unida", disse ele. "Planos para realizar coisas são o que manterá minha família unida. Eu acho que Hillary sente essa urgência que muitos de nós sentimos. E não vejo isso na outra campanha."

Essa urgência está alimentando duas operações de campo extensas, rivais e amplamente bilíngues em todo o Estado --uma necessidade, segundo especialistas, diante da grande população em trânsito e da complexidade do processo de cáucus em Nevada, onde mais de um quarto dos residentes são hispânicos.

Hillary abriu seu primeiro escritório de campanha no Estado em abril, seis meses antes de Sanders, e afirma ter 7 mil voluntários, contra 2 mil dele.

Mas assessores de Sanders disseram que estão compensando o atraso inicial com comerciais de rádio e TV em espanhol e inglês, além de anúncios online.

Ambos estão treinando os participantes dos cáucus e líderes de seção eleitoral em espanhol e em inglês e realizando eventos voltados para os eleitores latinos --incluindo apelos específicos a estudantes colegiais hispânicos.

Mas a operação de Hillary em Nevada se baseia em um alicerce depositado oito anos atrás, quando ela derrotou Barack Obama no voto popular (mas ele venceu a contagem por delegados).

Salientando seu histórico em educação, saúde e direitos civis, a campanha de Hillary mantém uma grande vantagem sobre a de Sanders em Nevada em apoios de autoridades eleitas latinas, ativistas comunitários e membros importantes dos chamados Sonhadores, que foram trazidos ilegalmente para os EUA quando crianças.

Sanders e Hillary aparecerão na quinta-feira em um fórum na televisão nas redes Telemundo e MSNBC. Ambos provavelmente enfrentarão perguntas difíceis: Sanders sobre seu voto contra uma ampla reforma da lei de imigração em 2007 e Hillary por dizer em 2014, em meio a uma crise em que milhares de crianças da América Central cruzaram a fronteira e acabaram detidas, que elas "deveriam ser enviadas de volta".

Os candidatos percorreram Nevada no fim de semana e deixaram muito claro que os eleitores de primeira geração e outros latinos poderão ter um papel decisivo aqui. No sábado em Reno, Sanders disse a centenas de cabos eleitorais que fará força para abrir o caminho da cidadania para os estimados 11 milhões de pessoas que estão no país ilegalmente.

"Encontrei pessoas em toda esta campanha, jovens com lágrimas no rosto que estão literalmente preocupados que seus pais sejam deportados amanhã, que eles sejam separados das pessoas que amam", disse ele.

E se descreveu em termos que qualquer americano de primeira geração pode compreender. "Meu pai chegou a este país aos 17 anos sem um centavo no bolso, vindo da Polônia, não falava inglês, nunca ganhou muito dinheiro", disse Sanders.

"Mas era um americano orgulhoso como vocês nunca viram, porque viu o que a América deu a ele e a seus filhos, o tipo de liberdade e oportunidade que ele teve."

Hillary tentou diminuir Sanders ao classificar seu apelo por uma "revolução" política para enfrentar a desigualdade econômica como uma obsessão irreal.

"Nem tudo tem a ver com teoria econômica", disse Hillary a centenas de seguidores na sede de um sindicato de pintores no sábado à noite em Henderson, Nevada. "Se quebrarmos os grandes bancos amanhã --e eu o farei, se eles merecerem; se eles representarem um risco sistêmico, o farei--, isso poria fim ao racismo?"

E acrescentou: "Isso fará as pessoas aceitarem melhor os imigrantes da noite para o dia?"

O enorme avanço de Hillary em reconhecimento do nome entre os latinos continua desafiando a campanha de Sanders aqui.

Quando apoiadores de Sanders montaram uma mesa de informações na Universidade de Nevada em Las Vegas na semana passada, Santiago Gudiño-Rosales, 20, um calouro estudante de pré-medicina, ficou do lado de fora durante horas distribuindo panfletos.

Mas seu caminho na ajuda a Sanders até agora foi ladeira acima, disse Gudiño-Rosales. Ele bateu em cerca de 140 portas, mas quase todos os eleitores latinos com quem falou fizeram a mesma pergunta: "Quem é Bernie Sanders?"