Ele deixou casa no RS e voltou para achar a mãe: 'Vi cena de terror'
O auxiliar de enfermagem Alexsandro Placido Barros, 40, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, deixou sua casa, no bairro Harmonia, em Canoas (RS), quando a água começou a subir, no dia 3 de maio (uma sexta-feira), mas viveu uma saga para encontrar a mãe em meio às inundações.
'Não acreditavam'
Alexsandro se preocupou ao ver que a água na casa da namorada do filho tinha começado a subir pelos ralos e buscou abrigo. "Saí de carro com minha esposa, minha filha de 7 anos e meu filho de 20. Estava sem rumo e em busca de um local seguro. Minha ideia era estacionar próximo a uma delegacia até o amanhecer para ver o que aconteceria", disse ao UOL.
Outros familiares preferiram ficar em suas casas. "Liguei para meus irmãos e para minha mãe, falando da situação, mas eles não acreditavam que seria algo de grandes proporções porque nunca vimos a água passar do joelho. Por isso, resolveram ficar em suas casas."
Alexsandro buscou abrigo na casa de amigos. O filho dele sugeriu que fossem à casa de amigos, onde seria mais seguro passar a noite. O apartamento, de cerca de 50 metros quadrados, estava com 18 pessoas esperando o amanhecer.
Tudo perdido
O irmão de Alexsandro mandou uma mensagem pedindo ajuda logo que amanheceu, no sábado. A água, em poucas horas, tinha subido muito. E ele queria resgatar sua moto. "Ele tinha colocado [a moto] bem no começo do bairro. Saí correndo para ajudar, mas, quando subi no viaduto, vi uma cena de terror: a água já encobria construções. Só dava para ver as que tinham mais de dois andares."
Com a água tão alta, ele achou que tinha perdido seus familiares. "Nós não tínhamos ideia do que ia acontecer. Eu moro na parte mais alta do bairro, mas na área da casa dos meus familiares não se enxergava mais nada." E como o sinal de telefone não funcionava, ele não conseguia entrar em contato com ninguém.
Para conseguir chegar aos seus familiares, Alexsandro precisava de um barco. Não era possível entrar no bairro de outra maneira. "A água na casa da minha mãe e na do meu irmão subiu até o telhado. Consegui resgatar meu irmão no sábado à noite. Mas, no domingo de manhã, me desesperei tentando achar um barco para chegar até minha mãe."
Um bombeiro, comovido com seu desespero e empenho, o ajudou a chegar até a mãe. "Cerca de 13h30 [no domingo] eu recebi uma ligação de que minha mãe estava em um dos pontos de saída dos barcos."
Com a ajuda do bombeiro, ele foi até o ponto onde a mãe estava para levá-la a outro local em segurança. "A situação era muito triste. Tinha passado a manhã toda do domingo atrás dela. Conseguimos encontrá-la e levá-la, com os cachorros, para um local seguro. Um chegou a cair na correnteza, mas conseguimos salvá-lo."
Além de salvar a mãe, Alexsandro, que serviu na Aeronáutica por seis anos, também se tornou um mediador entre o Exército e a população. "A população estava em pé de guerra com os militares, dizendo que eles chegaram para atrapalhar com as regras, quando na verdade estavam tentando organizar. Então, procurei intermediar a conversa para evitar brigas."
O auxiliar de enfermagem não resgatou só sua família. Ele tinha uma função dentro dos barcos: prestar atenção se não havia carros e objetos que poderiam colidir com a embarcação.
Saída da cidade
Alexsandro e seus familiares foram para o litoral após a tragédia. "Minha mãe tem uma casa bem simples em Palmares do Sul, que fica a cerca de 150 km de Canoas. Pelo menos lá tem água e energia."
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Quero receberEle voltou para a Canoas, mas sua família continua fora. "Na minha casa, a água não subiu tanto, foi cerca de um metro. Mas estou limpando os cômodos e ficando por aqui. Há pessoas saqueando as casas menos afetadas pela água." A energia voltou apenas há alguns dias no local.
Casa de familiares foi destruída. "A água na casa da minha mãe já baixou, mas na do meu irmão mais novo ainda não. Ele comprou um caiaque para conseguir ir até lá e ver como as coisas estão."
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