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"Alt-right", "alt-left", "antifa": um glossário da linguagem extremista americana

Reuters
Imagem: Reuters

Liam Stack

17/08/2017 04h01

O presidente Donald Trump denunciou com irritação a chamada "alt-left" (abreviatura de "esquerda alternativa" em inglês) em uma entrevista coletiva na terça-feira (15), afirmando que o grupo atacou seguidores da chamada "alt-right" (direita alternativa) em uma manifestação de supremacistas brancos que explodiu em violência mortal em Charlottesville, na Virgínia (leste dos EUA) no sábado.

"E que dizer da 'alt-left', que chegou atacando a, como vocês dizem, 'alt-right'? Eles têm alguma aparência de culpa?", perguntou Trump. Houve "culpa dos dois lados", continuou ele. "Não tenho dúvida disso."

As duas frases fazem parte de um amplo vocabulário da extrema-direita que se tornou importante para compreender a política americana durante o governo Trump. Muitos desses termos têm origem em movimentos racistas, antissemitas e sexistas.

Aqui está um rápido guia do significado dessas expressões e de outras usadas pelos supremacistas brancos e extremistas de direita.

"Alt-right"

O movimento de "direita alternativa" é de extrema-direita e racista, baseado em uma ideologia de nacionalismo branco e antissemitismo. Muitas organizações de notícias não usam o termo, preferindo outros como "nacionalismo branco" e "extrema-direita".

O objetivo declarado do movimento é a criação de um Estado branco e a destruição do "esquerdismo", que ele chama de "ideologia da morte". Richard Spencer, um líder do movimento, descreveu-o como uma "política de identidade para pessoas brancas".

Ele também é anti-imigrante, antifeminista e contrário à homossexualidade e aos direitos de gays e transgêneros. É altamente descentralizado, mas tem ampla presença na internet, onde sua ideologia é disseminada por meio de memes sexistas com tom satírico.

Ele acredita que a educação superior "só é adequada à elite cognitiva" e que a maioria dos cidadãos deveria estudar em escolas setoriais ou profissionalizantes.

"Alt-left"

Pesquisadores que estudam grupos extremistas nos EUA dizem que não existe uma "esquerda alternativa". Mark Pitcavage, um analista da Liga Antidifamação, disse que a expressão foi criada para gerar uma falsa equivalência entre a extrema-direita e "qualquer coisa vagamente de esquerda de que eles não gostam".

Alguns liberais de centro adotaram esse termo.

"Ele não surgiu organicamente, e não se refere a um grupo, movimento ou rede real", disse Pitcavage em um e-mail. "É apenas um epíteto inventado, como certas pessoas que chamam qualquer notícia de que não gostam de 'notícias falsas'."

Na terça-feira (15), Trump disse que a "alt-left" era parcialmente culpada pela violência em Charlottesville, durante a qual foi morta uma manifestante contrária ao evento de direita, Heather Heyer.

"Alt-light"

A "alt-light" (algo como "alternativa leve") inclui membros da extrema-direita que antes ficavam sob o guarda-chuva de "alt-right", mas depois se separaram do grupo porque, em geral, o racismo e o antissemitismo não são uma parte central de suas opiniões nacionalistas de extrema-direita, segundo Ryan Lenz, editor de "Hatewatch", uma publicação do Centro de Direito sobre Pobreza Sulina. Membros da "alt-right" zombaram desses dissidentes chamando-os de "alt-light".

"A 'alt-light' é a 'alt-right' sem os tons racistas, mas às vezes é difícil diferenciá-la, porque você olha para pessoas que podem dançar nos dois lados", disse ele.

Os dois grupos com frequência se chocam online sobre a "questão judia" ou se os judeus lucram ao manipular secretamente o governo e a mídia.

"Antifa"

"Antifa" é uma contração da palavra "antifascista". Ela foi cunhada na Alemanha nos anos 1960 e 1970, por uma rede de grupos que se espalhou pela Europa para confrontar os radicais de direita, segundo Pitcavage. Um movimento semelhante surgiu nos anos 1980 nos EUA e cresceu conforme a "alt-right" ganhou proeminência.

Para alguns membros da chamada antifa, o objetivo é confrontar fisicamente os supremacistas brancos. "Quando eles os encontram, atacá-los e envolver-se em brigas de rua", disse Pitcavage. Lenz, do centro de direito, chamou o grupo de "um antigo movimento de esquerda radical".

Membros da "alt-right" de modo geral pintam os manifestantes que se opõem a eles como "antifa" ou "alt-left", e dizem que eles foram parcialmente responsáveis por qualquer violência que tenha ocorrido --afirmação feita por Trump na terça-feira.

Mas analistas disseram que comparar os antifas com manifestantes neonazistas ou supremacistas brancos é uma falsa equivalência.

IMAGENS FORTES - CARRO ATROPELA MANIFESTANTES NA VIRGÍNIA

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"Cuck"

"Cuck" é um insulto usado pela direita alternativa para atacar a masculinidade de um adversário, originalmente outros conservadores, que o movimento considera insuficientemente comprometidos com o racismo e o antissemitismo.

É uma abreviatura de "cuckold" ("corno"), palavra que data da Idade Média e descreve um homem que sabe que sua mulher dorme com outro e não faz objeção. Lenz disse que o uso da palavra pela "alt-right" muitas vezes tem tons raciais.

SJW

SJW, sigla de "Social Justice Warrior" (guerreiro da justiça social), é usada pela direita como epíteto para alguém que defende causas liberais como feminismo, justiça racial ou direitos dos gays e transgêneros. Às vezes também é usada para sugerir que a defesa de uma causa online por uma pessoa é insincera ou feita pelas aparências. Tornou-se amplamente usada durante o "GamerGate", uma polêmica que começou em 2014 sobre o sexismo nas subculturas dos videogames.

Lenz, cuja organização tem critérios específicos para classificar grupos como organizações nazistas, disse que a direita usa a frase "para abordar retoricamente o fato de que a esquerda às vezes chama de nazista qualquer pessoa de quem discorde". Ele disse que a "alt-right" criou o termo para que seus seguidores tivessem um termo genérico semelhante para zombar da esquerda.

Sangue e terra

Um vídeo feito na manifestação supremacista branca em Charlottesville no sábado (12) mostrou os manifestantes dizendo "sangue e terra". A frase é um termo nacionalista alemão do século 19 que conota uma ligação mística entre o sangue de um grupo étnico e o solo de seu país.

Ele foi usado como slogan nazista na Alemanha durante os anos 1930 e 1940, e desde então "foi transportado para grupos neonazistas e outros supremacistas brancos em todo o mundo", disse Pitcavage. É um de vários símbolos nazistas que foram adotados como slogan por alguns membros da "alt-right".

Globalismo

O globalismo às vezes é usado como sinônimo de globalização, a rede de interconexão econômica que se tornou o sistema internacional dominante depois da Guerra Fria. A palavra passou a ser usada mais comumente desde que Trump atacou com frequência o globalismo durante a campanha eleitoral.

Para a direita alternativa, o globalismo há muito tem claros tons xenofóbicos, anti-imigrantes e antissemíticos. Ele se refere a uma visão de mundo conspiratória: uma cabala que gosta de fronteiras abertas, diversidade e Estados fracos e que não gosta de pessoas brancas, cristianismo e da cultura tradicional de seu próprio país.

Genocídio branco

O genocídio branco é uma crença nacionalista branca de que os brancos, como raça, estão ameaçados de extinção em consequência da imigração não branca e do casamento inter-racial, um processo que é manipulado por judeus, segundo Lenz. É o conceito subjacente aos argumentos anti-imigração da direita alternativa, especialmente os que visam os imigrantes que não são cristãos brancos.

O conceito foi popularizado por Bob Whitaker, um ex-professor de economia e nomeado por Reagan para o Escritório de Administração de Pessoal, que escreveu um "mantra" de 221 palavras sobre o assunto que terminava com o grito de união: "Antirracista é a palavra código para antibranco".

Pitcavage disse que o conceito de genocídio branco é muitas vezes comunicado online por meio de um ditado supremacista branco chamado de Catorze Palavras: "Devemos garantir a existência de nossa gente e um futuro para as crianças brancas".

O ditado foi criado por David Lane, um supremacista branco condenado a 190 anos de prisão por sua ligação com o assassinato em 1984 do âncora de rádio judeu Alan Berg.