Raquel Landim

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Opinião

Dino retoma embate entre Poderes após emendas garantirem ajuste fiscal

Passada a aprovação do pacote fiscal, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Flávio Dino, retomou a batalha com o Congresso para tentar acabar o orçamento secreto.

Especialistas em contas públicas já aguardavam a reação do ministro.

Afinal, as "emendas de líderes" esvaziaram completamente suas decisões anteriores para dar mais transparência às emendas parlamentares.

Com apenas um ofício, 17 líderes partidários avalizaram a liberação de R$ 4,2 bilhões.

O "timing", contudo, está sendo visto por deputados e senadores como descumprimento de acordo.

Vale a pena lembrar os capítulos dessa história.

Antes da votação do pacote de ajuste fiscal, os parlamentares chantagearam o governo. Mandaram recados de que só aprovariam as medidas se o pagamento das emendas, que havia sido suspenso por Dino, fosse liberado.

O governo federal mandou emissários ao ministro para ele cedesse e aceitasse um acordo que havia sido selado entre Executivo e Legislativo. Dino não arredou pé.

Seguiram-se então uma série de reuniões, algumas capitaneadas pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva até ele precisar se afastar por causa de uma cirurgia de emergência.

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Dessas conversas surgiu um parecer da AGU (Advocacia Geral da União) e acordos que viabilizaram uma liberação recorde de emendas - R$ 7 bilhões em dois dias.

E só então veio a aprovação do pacote de ajuste fiscal. Foi um pacote mais tímido e desidratado que o esperado, mas passou.

Com a ajuda da linha do tempo, é possível atribuir todas as responsabilidades dessa história.

Arthur Lira, presidente da Câmara, foi o "autor" do esquema que burlou a decisão do STF e liberou as emendas, mas o governo foi o "fiador".

E a digital da administração Lula é que o líder do governo, deputado José Guimarães (PT-CE) é um dos 17 que assinam o ofício agora questionado por Dino e investigado pela Polícia Federal.

Trata-se, portanto, de um problema institucional.

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O Executivo não é só vítima da chantagem do Congresso, mas também cúmplice da solução encontrada para burlar a Justiça.

E o problema não vem de hoje e se agrava desde quando o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aprovou as emendas impositivas.

Um governo fraco, sem maioria no Congresso, é obrigado a ceder - independente de decisões judiciais. Vai acontecer de novo e de novo.

Não dá para governar com o Judiciário.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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