Silêncio, desânimo: animais têm sinais de luto parecidos com os dos humanos
Colaboração para Meio Ambiente
26/08/2024 13h40
O pesquisador Tiago Falótico, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, compartilhou recentemente uma experiência pessoal ao estudar macacos-prego.
Em entrevista ao Jornal da USP, Falótico relatou que observou uma fêmea carregando seu filhote morto, que tinha um defeito de nascença, por várias horas. Esse comportamento é comum em algumas espécies, especialmente primatas, que têm um histórico de luto.
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Chimpanzés podem carregar e cuidar de corpos de filhotes mortos por dias ou semanas e já foi relatado que um filhote dessa espécie pode morrer de tristeza após perder sua mãe. Em outros casos, mães carregaram seus filhotes mortos até que mumificassem, e filhas ficaram ao lado dos corpos de suas mães falecidas.
Luto vai além dos primatas
O pesquisador explica que, embora seja impossível saber exatamente o que os animais pensam, o comportamento dos membros do grupo muda drasticamente após a morte, exceto para a mãe, que mantém contato com o corpo.
Cães e gatos também mostram sinais de luto, embora geralmente menos intensos que os primatas. Eles podem passar horas ou dias abatidos, desanimados ou sem apetite após a perda de um companheiro.
Apesar de ser um conceito humano, os animais são mesmo capazes de sentir a ausência de um companheiro, como explica o veterinário Mauro Lantzman. "O luto é um processo cognitivo mais complexo. Mas podemos falar que o cão, por exemplo, fica triste sim".
Os elefantes, os maiores mamíferos terrestres, destacam-se por suas complexas manifestações de luto, que se assemelham a rituais funerários. Diferente de outros animais, os elefantes demonstram comportamentos como visitar e interagir com os restos mortais de seus companheiros anos após a morte.
Elefantes-africanos, por exemplo, são conhecidos por retornar aos locais onde estão os corpos de membros do grupo, mexendo nos ossos e permanecendo em silêncio por longos períodos. Já os elefantes-asiáticos tendem a evitar essas áreas, o que sugere que reconhecem os restos mortais como algo significativo.
Há semelhanças e divergências
Essa capacidade de simbolizar a morte aproxima os elefantes dos humanos, que possuem uma cultura rica em torno do luto e da morte. No entanto, os humanos levam essa relação a um nível mais complexo, com rituais e significados profundos associados à morte, como a Festa dos Mortos e a Missa de Sétimo Dia.
Outra diferença crucial entre humanos e animais é a consciência da gestação. Humanos desenvolvem um vínculo com o filho antes mesmo do nascimento, idealizando e planejando o futuro. Em contraste, os animais percebem mudanças físicas e hormonais, mas não necessariamente entendem que estão gerando uma nova vida.
Isso é evidenciado pelo fato de que muitas espécies de mamíferos consomem seus filhotes natimortos, indicando que o vínculo se forma apenas após o nascimento. Para os humanos, o nascimento é um evento carregado de emoção, enquanto para os animais, a indiferença pode prevalecer.
Sinais de luto em animais
- Ficam mais quietos;
- Amuados;
- Perdem até o apetite.
Mas o mais comum é que eles voltem ao normal em pouco tempo. Caso isso não ocorra com seu pet, é preciso ficar atento.
Segundo os especialistas, o mais indicado é que o tutor tente dar mais atenção ao animal e respeitar o tempo até que ele se recupere plenamente. "É importante retomar a atividade natural, levar para passear, levar para tomar banho, interagir, levar a vida", explica Mauro Lantzman.
*Com informações de reportagem publicada em 17/04/2017