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'Pum' mortal? Este besouro mata suas presas de um jeito bem diferente

Besouro-bombardeiro está em quase todo o mundo, inclusive no Brasil Imagem: De Agostini/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

03/04/2025 05h30

Um vídeo de um besouro que solta um líquido capaz de deixar outros insetos no chão fez sucesso nas redes sociais nas últimas semanas. "E vem com mira e tudo? Fascinante", disse um dos internautas. "Provavelmente um inseto intolerante à lactose", disse outro.

Que tipo de besouro é esse?

Inseto se chama besouro-bombardeiro e existem pelo menos 500 espécies dele. Da família Carabidae, é uma linhagem de besouros predadores, ou seja, eles caçam ativamente suas presas. Inclusive, ainda em fase de larva, também se alimenta de pequenos insetos.

Habita praticamente todos os continentes, exceto a Antártida. Geralmente vive no solo ou perto dele, nas chamadas serapilheiras (camada de folhas, galhos e outros resíduos naturais de vegetações).

Várias espécies desse besouro existem no Brasil. Cherre Bezerra da Silva, doutor em entomologia pela Esalq/USP (Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo), diz que, na agricultura, algumas espécies têm um potencial para controlar pragas. "Como elas são predadoras de outros insetos, ajudam a controlar pragas agrícolas, como lagartas, outros insetos que são presas para esses besouros", diz.

Podem viver por até dois anos. "Como todo besouro, ele tem o que a gente chama de ciclo de vida completo. Passa pelas fases de ovo, larva, pupa e vira um adulto. Dependendo do ambiente, vive de alguns meses até dois anos", diz Silva.

"Pum ácido"?

Para se proteger de predadores, inseto libera substância pelo traseiro. Mas mistura não é ácida, e sim cáustica. "A gente fala ácido de uma forma geral, por ser corrosivo, mas ele é considerado cáustico", explica o entomologista.

É uma reação química. Segundo Silva, o besouro-bombardeiro tem em seu abdome duas glândulas maiores que produzem duas substâncias: a hidroquinona e o peróxido de hidrogênio — que conhecemos como água oxigenada. "Quando a gente junta esses dois químicos, ocorre uma reação. Mas para essa reação ocorrer, precisa de outras substâncias, que a gente chama de catalisadores. São enzimas existentes lá no final do abdome do besouro-bombardeiro."

Reação libera muito calor, o que explica a fumaça. "Na presença desses catalisadores, vai acontecer a reação química exotérmica, que vai liberar muito calor e produzir a quinona", diz Silva. Segundo ele, tudo acontece em frações de milésimos de segundo e eleva muito a pressão na ponta do abdome do inseto. "Essa elevação vai fazer com que, naturalmente, essa pressão precise ser descarregada, senão o inseto explode."

Líquido chega a quase 100ºC. Pelo orifício que o inseto tem no final do abdome, ele consegue direcionar e liberar tanto o vapor quanto o líquido quente —um líquido cáustico de 100º C— na direção que quiser. "Geralmente ele aponta para o predador dele", explica o entomologista.

Inseto usa líquido que expele para caçar e se defender. "Da mesma forma que ele preda outros insetos, também pode ser predado por outros animais, especialmente por sapos, alguns outros insetos maiores que ele, passarinhos", diz Silva.

Há riscos para seres humanos?

Líquido expelido pelo besouro-bombardeiro pode até matar suas presas, mas não é páreo para humanos. Segundo Silva, o "pum mortal" pode causar irritação na pele de quem entrar em contato com ele ou por quem for atacado, especialmente os alérgicos, mas não apresenta risco de morte.

Se ele está se sentindo ameaçado, alguém segurou ele ali ou pegou ele, seja um pássaro, um sapo, ou até um humano, ele vai liberar. É um inseto que tem uma defesa específica, eu diria, mas não é considerado venenoso, nem mesmo peçonhento. Cherre Bezerra da Silva

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