Uma das mais antigas e respeitadas agências internacionais de notícias, a Associated Press anunciou este mês a criação de um cargo incomum, o "editor de democracia", e nomeou o jornalista Tom Verdin para ocupar a função. O jornalista indicado para o novo cargo da AP supervisionou, em 2021, uma revisão das acusações de fraude eleitoral nas eleições americanas, identificando cerca de 475 casos nos seis estados questionados por Trump, um número que não faria diferença nos resultados de 2020. Essa reportagem foi repetidamente citada pela AP e outros meios de comunicação para refutar as mentiras do ex-presidente sobre uma suposta fraude eleitoral generalizada. A agência prometeu "injetar mais recursos para cobrir os desafios à democracia nos EUA, incluindo direitos de voto e acesso, administração de eleições e o papel da desinformação e propaganda". Em entrevista à CNN, a editora executiva da AP, Julie Pace, disse que as atuais ameaças à democracia nos Estados Unidos chamaram a atenção da empresa. O anúncio ocorre no momento em que uma comissão da Câmara dos Deputados dos EUA está investigando os ataques de 6 janeiro de 2021 ao Capitólio — uma ação que, na visão de muitos, configurou uma tentativa de golpe contra a democracia. A comissão promete apresentar provas de que o ex-presidente Donald Trump esteve envolvido na ação, insuflando eleitores a tentar reverter o resultado da eleição de 2020, vencida por Joe Biden. A decisão de criar este cargo ocorre também num ano em que os Estados Unidos terão importantes eleições estaduais e, ao que tudo indica, a influência de Trump será notável. O paralelismo com a situação brasileira, infelizmente, é grande. O presidente Jair Bolsonaro não apenas é um grande fã de Trump, como colocou em dúvida o resultado da eleição americana, em 2020, e diariamente, sem apresentar provas, coloca em questão o sistema eleitoral brasileiro. Como disse a Folha em editorial há 12 dias, comparando os dois, "o desprezo pelo regramento democrático, o roteiro de contestação prévia de resultados eleitorais desfavoráveis e a incitação à balbúrdia institucional são elementos inerentes à conduta do mandatário brasileiro". A defesa da democracia é uma grande questão no Brasil, em 2022. E ajuda a entender por que um "editor de democracia" poderia ser útil em diferentes veículos de mídia nacionais. PUBLICIDADE | | |