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Mais que transparência: Ministério de Temer é feito da mesma matéria que governo Dilma

Especial para o UOL

30/05/2016 18h14

Ninguém discute a competência técnica de Fabiano Silveira, o ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, nomenclatura que substituiu a Controladoria Geral da União, supostamente para dar mais envergadura política e executiva ao tema. Fabiano, consultor legislativo de carreira no Senado, tem títulos e experiência acadêmica na área pública federal. Mas lhe falta competência ética, conforme se depreende da conversa gravada por Sérgio Machado, na qual aconselha Renan Calheiros, seu padrinho na ascensão meteórica, e o ex-dirigente da Transpetro sobre como livrarem-se da Operação Lava Jato, em clara demonstração de obstrução à Justiça.

A triste ironia é que o novo ministério herdou as atribuições de defesa do patrimônio público, prevenção e combate à corrupção, ouvidoria e incremento da transparência da gestão no âmbito da administração pública federal. O que ficou mais transparente nas gravações de Machado é que Fabiano Silveira não tem condições de estar à frente dessas ações.

Para Michel Temer, é mais uma demonstração de que seu ministério é feito da mesma matéria de que era feito o governo Dilma. Se mantiver seu ministro no posto, mesmo após a divulgação dessas conversas, o presidente da República interino assume para si as suspeitas que recaem sobre Silveira e os seus correligionários que estão sob investigação. Se o afastar, ainda assim será a confirmação da fragilidade de seu ministério, com o segundo ministro, em tão pouco tempo, a ter escancarada sua falta de estatura para o posto.

Além disso, o episódio é a prova de que os fundamentos sinistros de um presidencialismo de coalizão corrompido continuam vigentes e dando as cartas no país. O ponto para onde PT, PMDB e parte significativa da oposição convergem, na mesma proporção e intensidade, é nos esforços pelo arrefecimento da Lava Jato. Caso Temer opte pelo pior caminho, que é o da manutenção de Silveira no cargo, estará atestando seu próprio envolvimento numa tentativa de blindagem de Renan Calheiros, semelhante àquela que Dilma pretendeu fazer com o ex-presidente Lula, ao nomeá-lo para ministro-chefe da Casa Civil.