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Do samba à auto-homenagem: como candidatos se despediram de Silvio Santos

Mal havia sido confirmada a notícia da morte de Silvio Santos, neste sábado, aos 93 anos, e o candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal (PRTB), já tinha disparado o primeiro post (sim, teve outro) no Instagram em homenagem ao fundador do SBT.

Autointitulado coach, desses que vendem cursos ensinando os seguidores a empreender e supostamente prosperar, ele usou a palavra "mito" ao descrever a trajetória do self made man que começou a jornada como camelô e chegou até onde chegou. Só não disse que Silvio fez tudo com mérito próprio e sem ajuda do Estado — como costuma pregar aos seguidores — porque, bem, não seria verdade.

Marçal também postou um vídeo de Silvio Santos dizendo que costumava ter mais vitórias do que derrotas porque "Deus é o juiz" e "o bem sempre vence o mal". Falava com um público cativo. À tarde, informou que ia cancelar toda a agenda de campanha do dia porque "em respeito à família, aos amigos e milhões de fãs". Tinha previsto para o sábado futebol com policiais e caminhada no Ibirapuera.

Depois dele, não demorou para que os adversários corressem para deixar suas homenagens no Instagram.

Tabata Amaral (PSB) também foi rápida no gatilho. Ela postou um vídeo antigo em que o apresentador descrevia uma rotina de trabalho sem direito a folga, de segunda a segunda, movida a "10% de inspiração e 90% de transpiração". "A vaidade, o orgulho e o desejo de realização faz com que o homem progrida ou regrida", dizia Silvio.

Na legenda, Tabata, que na campanha tem destacado o fato de ter nascido na periferia e estudado em Harvard, também lembrou que o empresário era camelô antes de se tornar "o maior comunicador da TV".

Cerca de uma hora depois foi a vez de José Luiz Datena se pronunciar, também resgatando um vídeo em que o homenageado é o próprio Datena. Era a participação dele em um jogo de auditório no SBT em que o dono da emissora se derrama em elogios ao convidado e o convidado se derrama em lágrimas.

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"Parece que a gente perdeu alguém da família hoje. O Silvio Santos foi o maior comunicador da TV brasileira e uma das pessoas mais generosas que já conheci na minha vida", diz o candidato do PSDB, usando camisa branca e boina — e ao som de um piano triste de fundo.

Já o prefeito e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), optou por um via mais sorumbática, quase à sua imagem e semelhança, ao postar uma foto em preto e branco dizendo que a cidade que Silvio "tanto amou está em luto". Mais insosso, impossível.

Guilherme Boulos (PSOL), por sua vez, preferiu repostar um comentário econômico publicado antes no X, o ex-Twitter, quase duas horas depois da confirmação da notícia. Ele desejou solidariedade a familiares e amigos do "grande comunicador brasileiro" — que apoiou todos os ditadores do regime militar e no fim da vida havia se aproximado do bolsonarismo. E foi só.

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A morte do empresário que construiu um império a partir de São Paulo também foi lamentada pelos candidatos a prefeito do Rio, onde ele nasceu.

O bolsonarista Alexandre Ramagem (PL) lançou uma postagem que mais parecia mensagem de funerária com uma foto em preto e branco. Na legenda, lembrava que o homenageado era carioca e "exemplo de que o trabalho honesto vale a pena". Parecia querer mostrar que caras durões, como gosta de se vender, não choram.

Por fim o prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD), que nas redes performa o estilo carioca festivo/carnavalesco/malemolente, resgatou um vídeo de 2001, quando o apresentador foi tema homenageado no carnaval do Rio com o enredo "Hoje é domingo, é alegria. Vamos sorrir e cantar", da escola de samba Tradição.
"Um grande carioca paulistano", escreveu Paes na legenda sobre o menino da Lapa. "Hoje o céu está em festa".

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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