PL do Rio tenta fazer com Romário o que nenhum treinador conseguiu
Johan Cruyff, Vanderlei Luxemburgo, Claudio Ranieri, Zico e Zagallo têm algo em comum além de serem ex-jogadores que migraram para a área técnica do campo: todos em algum momento bateram de frente com Romário. E todos se deram mal.
Em agosto de 1994, ano em que venceu a Copa nos EUA e foi eleito pela Fifa o melhor jogador do mundo, o atacante simplesmente não se apresentou para treinar, como combinado, junto com o elenco do Barcelona, onde atuava.
"Considero o atraso de Romário uma falta de respeito com seus companheiros", vociferou Cruyff, seu então treinador.
Romário não mostrou arrependimento. "Tem que ter punição mesmo. E eles não tem que gostar. Aceito a punição e fico 15 dias no Brasil", declarou, na época, já cavando uma saída para voltar a jogar aqui, no ano seguinte.
A equipe catalã levaria mais dez anos para conquistar uma Champions League.
Já no Flamengo, o atacante avisou que não iria treinar nem se concentrar enquanto não houvesse mudanças na comissão técnica após uma série de resultados ruins. O treinador, Vanderlei Luxemburgo, claro, não gostou. E pediu uma punição exemplar para o atacante. Acabou demitido.
Anos depois, quando atuava pelo Valencia, da Espanha, Romário foi criticado publicamente pelo técnico italiano Claudio Ranieri por sair para a noite e só voltar às 4h da manhã. "Se eu não sair, não faço gol", respondeu o Baixinho. "Na minha vida privada, eu faço o que bem entender. E quem não gosta que se foda."
Em 1998, o técnico Zagallo, da seleção brasileira, com o endosso de Zico, então coordenador da equipe, decidiu cortar Romário da Copa da França. A dupla perdeu o Mundial e foi parar, como vingança, na porta do banheiro de uma boate do atacante no Rio.
As caricaturas estavam de cócoras, e renderam um processo na Justiça. Romário pagou R$ 380 mil de multa ao ex-treinador sem reclamar.
Dirigentes esportivos também tentaram domesticar o Baixinho. Em vão. Presidente do Flamengo em 1999, Edmundo Santos Silva forçou a dispensa do atacante após ele se jogar na Festa da Uva, em Caxias do Sul, no mesmo dia em que o time foi derrotado para o Juventude no Brasileirão. Romário migrou para o Vasco e foi campeão do torneio nacional no ano seguinte.
Nem mesmo para Pelé ele costumava baixar a cabeça. Para ele, o Rei calado era um poeta.
Com esse histórico, chega a ser comovente que o diretório do PL no Rio esperasse algum tipo de obediência partidária de seu correligionário mais famoso.
Hoje senador, Romário está à beira da expulsão da legenda de Jair Bolsonaro porque não acatou as ordens do comando e decidiu apoiar o prefeito e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PSD), na capital.
O PL tem candidato próprio na cidade. É o ex-delegado Alexandre Ramagem, deputado federal e acusado de comandar a chamada "Abin Paralela". Ele era o chefe da inteligência (sic) durante o governo Bolsonaro.
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Quero receberEscalado para subir no palanque do colega de legenda, Romário fez o que sempre fez: deu uma banana para os treinadores e ficou com o adversário da turma.
A rebelião tem uma justificativa: Romário nunca perdoou Bolsonaro por apoiar, na corrida para o Senado, em 2022, o adversário Daniel Silveira (PTB) —o que por pouco não custou a reeleição do ex-jogador no reduto eleitoral do ex-presidente. Romário foi eleito e até hoje é difícil entender por que, em vez de abraçar o Craque, Bolsonaro insistiu em um candidato investigado por ataques à democracia e que seria preso mais dia, menos dia.
Zico e Zagallo se deram mal por menos.
Presidente do PL no Rio, o deputado federal Altineu Côrtes acusa o Baixinho de infidelidade partidária e promete tomar medidas contra a atitude "inadmissível".
Chega a lembrar os dirigentes esportivos que arrancavam os cabelos toda vez que viam ser desrespeitada uma ordem para Romário dormir das 22h às 7h do dia seguinte.
Goste-se ou não da versão política do ex-atleta, se tem uma coisa que Romário ensinou em campo é que é mais fácil ganhar uma Copa de maneira invicta (ele conseguiu) do que domesticá-lo. Boa sorte para quem tentar.
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