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OPINIÃO

Mediadora segura briga de Marçal e Datena em debate; merece o Nobel da Paz?

Matheus Pichonelli

Colunista convidado

01/09/2024 20h56Atualizada em 01/09/2024 21h44

O que você prefere? Arrancar um dente sem anestesia ou mediar um debate na TV em pleno domingo com os candidatos a prefeito de São Paulo com a presença de Pablo Marçal (PRTB)?

A jornalista Denise Campos de Toledo provavelmente não teve essa escolha. Caso contrário, estaria sorrindo uma hora dessas com um dente a menos.

Como não foi dada outra opção, ela assumiu por algumas horas o que é certamente o trabalho mais árduo do jornalismo atual. E olha que estamos falando de uma profissão precarizada.

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Durante o debate deste domingo (1º) da TV Gazeta, ela fez o papel de mediadora, de jornalista, de bedel de escola, de diplomata e de negociadora em área de conflito.

Dizem que seguranças estavam posicionados para entrar em campo caso a situação degringolasse, mas o que se viu foi uma jornalista tentando o tempo todo dar conta sozinha do empurra-empurra no fundão da sala.

"Eu peço, antes de mais nada, respeito", repetiu ela em diversas ocasiões.

Em um dos momentos, deu para ouvir o prefeito Ricardo Nunes (MDB) se queixando da postura do adversário Guilherme Boulos (PSOL). Algo como "olha só o que ele fez".

"O senhor também chamou ele de invasor", disse, curta e seca, colocando o prefeito em seu lugar.
Não é para qualquer pessoa.

Mal sabia o que viria pela frente.

Antes do debate, Nunes, Boulos e José Luiz Datena (PSDB) fizeram os organizadores prometer que Marçal não usaria o estúdio como picadeiro. E então definiram uma série de regras para conter o meninão.

Boné? Podia. Carteira de trabalho? Não podia. Estava na categoria acessórios — que valia para documentos e, presume-se, objetos pontiagudos.

A plateia também ficou mais restrita e quem cruzasse a linha poderia tomar cartão vermelho.

Marçal então usou o espaço que tinha para fazer o que mais sabe: tirar os concorrentes (além de parte da audiência e a mediadora) do sério.

Quando não podia falar, ele tirava o foco dos candidatos em tela dividida olhando para a câmera com ar de deboche e fazendo cosplay da Eliana dos Dedinhos, desenhando a letra M com as mãos, seu mote de campanha.

Repetiu as mentiras de sempre (Lula roubou mesmo um R$ 1 trilhão, produção? Essa era fácil checar), voltou a questionar Boulos sobre uso de substâncias e explorou o deslize na execução do hino nacional em linguagem neutra — o que rendeu a ele o apelido de "Boules".

Em resposta, ouviu um pouco de tudo. Boulos o chamou de criminoso. De bandido condenado. De bolsonarista. Quase o chamou de coach. Mas deslizou ao dizer que o Guilherme Boulos envolvido com drogas supracitado por Marçal era outro — um "homônimo", alertou a audiência.

Como se na quinta série todos soubessem o significado da palavra "homônimo" (em tempo: "diz-se de ou cada uma de duas ou mais palavras de significados diferentes e de grafia idêntica; homógrafo").
Custava dizer "citou uma pessoa que tem o mesmo nome que eu, mas não sou eu?". Pelo jeito, custava.

O candidato do PRTB, que tem tentado atrair Jair Bolsonaro e criaturas para seu barco, guardou as armas também para Ricardo Nunes, o candidato oficialmente apoiado pelo ex-presidente. Fez isso chamando Nunes de "Banana" e Bolsonaro, de "amante". Sim, amante. "Você gosta tanto dele que precisa esconder do povo".

Ganha a Secretaria do Tesouro da cidade mais rica do Brasil quem tiver imagens do "react" do ex-presidente no momento.

Nunes retrucou referindo-se ao rival como "M de Mentira" e de "tchutchuca do PCC". Marçal riu. Ele até assumiu a ligação: PCC, para ele, era Patriota Contra Comunistas.

De petardo em petardo, a situação escalou. Denise Campos de Toledo já não sabia o que fazer para segurar os marmanjos quando Tabata decidiu levantar a mão e levar uma maçã para a professora com uma pergunta sobre educação.

Foi chamada de "ô garota" e "Chatábata" por Marçal.

O cessar-fogo durou pouco.

E escalou de vez quando Datena entrou no jogo. Ele partiu para cima do ex-coach, chamado por ele de "bandidinho de internet" e "fujão" ("você fugiu para os Estados Unidos para escapar da prisão").

E acusou Marçal de telefonar para ele e propor uma dobradinha no debate: um atacaria Nunes e o outro, Boulos. Datena disse ter refutado a ideia e expôs a conversa ao público.

Marçal não confirmou nem negou. Disse apenas que, na mesma ligação, o apresentador lhe confidenciou que não queria ser prefeito. Foi uma declaração de guerra.

Mais de uma vez o candidato tucano se desconcentrou vendo Marçal fazer a dança dos dedinhos. E perdeu a paciência ao ser chamado de "gagá" que "não vê a hora de ir embora pra casa".

"Gostaria que o senhor não utilizasse palavras chulas por favor. O senhor está sendo advertido em relação a isso", disse Denise Campos, respirando fundo, para Marçal.

"O senhor não pode falar enquanto o outro estiver falando", pediu ela a Datena. "O microfone está cortado, mas acaba atrapalhando o outro candidato. Espero que isso não se repita".

Mas se repetiu. No bloco seguinte, ela precisou pedir quase aos gritos para Datena voltar ao seu lugar após o apresentador se dirigir até Marçal. Não teve ninguém na audiência que não segurou a respiração à espera do estalo - que não veio.

Já arrancando os cabelos, Denise decidiu punir também Marçal. "Por causa dessa bagunça foi retirado o seu direito de resposta. Acabou. Você estava provocando ele."

Ambos ficaram sem recreio — aliás, sem espaço para revidar.

A bronca, verdade seja dita, funcionou. Ou então haveria uma carnificina no estúdio. Mais um pouco e ela pediria para os meninos colocarem a camisa da amizade e pensar no que fizeram. Não deu tempo.

Denise Campos de Toledo entrou no debate como responsável por colocar ordem nos meninos brigões. Saiu de lá candidatissima ao Nobel da Paz.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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