Troca de ofensas entre candidatos e infiltração do PCC marcam debate em SP

O debate entre os cinco candidatos à Prefeitura de São Paulo que estão na frente nas pesquisas foi marcado por troca de xingamentos e acusações de ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital) entre os adversários.

O que aconteceu

Encontro ocorre após uma ausência tripla de candidatos no último debate. Guilherme Boulos (PSOL), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB), José Luiz Datena (PSDB) e Tabata Amaral (PSB) participaram do evento organizado pela TV Gazeta e o canal MyNews neste domingo (1º).

Momento mais tenso do debate ocorreu entre Marçal e Datena. O empresário levou a primeira advertência após usar a palavra "merda". O candidato do PRTB depois discutiu com o apresentador, que saiu do púlpito e se dirigiu ao local onde o ex-coach estava (leia mais abaixo).

Candidatos citaram ligações suspeitas dos adversários com o PCC. Nunes disse que Marçal é "tchutchuca do PCC", após ser chamado de "amante de Bolsonaro". O empresário, por sua vez, citou o fato de o candidato à reeleição ter visitado as empresas de ônibus investigadas por elo com a facção.

Datena citou reportagem do UOL que revelou um banco criado pelo PCC que movimentou R$ 8 bilhões. O apresentador também falou da investigação do MP que mira as empresas de ônibus em São Paulo, sob responsabilidade da prefeitura gerida hoje por Nunes. "É um roto falando do rasgado, de um condenado e outro que pode ser condenado", disse o tucano.

Apesar do tema ganhar espaço no debate, o combate ao crime organizado não é uma atribuição da administração municipal. A responsabilidade é da Polícia Civil e de órgãos como os Gaecos (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público. A atribuição das prefeituras no que diz respeito à segurança são as atividades preventivas por meio das Guardas Civis Metropolitanas.

Marçal e Datena são advertidos

A briga entre os candidatos aconteceu após Datena dizer que Marçal ligou para ele na véspera de debate Band para combinar dobradinha. Datena disse que o contato foi para combinar que "eu atacaria Ricardo Nunes e ele, atacando Boulos. O debate na Band aconteceu no dia 8 de agosto.

"'Rapaz, isso não é ético'", teria dito o apresentador diante da proposta de Marçal. Datena disse que não teria atendido a ligação do influenciador "se soubesse o vagabundo sem vergonha, ladrão condenado, estelionatário de internet que você é", disse Datena ao vivo.

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Marçal não respondeu no microfone, e disse ao adversário, "vem cá". Datena desrespeitou as regras do debate e saiu do púlpito, na direção do empresário. A organização do debate suspendeu o direito de resposta do candidato do PRTB e chamou o intervalo.

A segurança chegou a ser acionada para o estúdio. Ambos foram advertidos — as regras do debate incluíam expulsão em caso de reincidência.

Ficar mandando pau no PCC aqui é fácil, quero ver você ir lá na rua onde o pau quebra. Nunca teve o celular roubado e no TP [teleprompter] é macho, chama todo mundo de bandido.
Marçal

Quero ver se esse cara tem coragem de dizer se isso é verdade ou não. Quero ver se ele tem coragem de dizer, porque é um mentiroso, que mente para as pessoas, engana as pessoas na internet. É um risco à democracia.
Datena

Boulos e Nunes trocam xingamentos

Em uma pergunta sobre mobilidade, Nunes e Boulos trocaram xingamentos. O candidato à reeleição chamou o psolista de "invasor". Já Boulos afirmou que o emedebista é "ladrãozinho de creche".

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O candidato do PSOL disse que Nunes não entregou os corredores de ônibus prometidos. "Estamos pagando mais e levando menos, esse é o jeito Ricardo Nunes de governar", disse Boulos.

Enquanto você invade, eu entrego casa, seu invasorzinho, sem vergonha.
Ricardo Nunes

É fácil falar grosso com a senhora, que vai fazer uma ocupação porque não tem onde morar, e falar fino com o loteador clandestino do crime organizado como ele faz.
Guilherme Boulos

Candidatos mudaram estratégias

Após ausência em debate e crescimento de Marçal, candidatos mudaram estratégias para o confronto. Boulos e Nunes subiram o tom contra o empresário, citando supostas ligações do partido dele com o PCC e a condenação dele de 2010.

Tabata criticou os adversários Boulos e Nunes porque eles só passaram a criticar Marçal após o influenciador crescer pesquisas. "Não estavam querendo ressaltar um grande risco que a gente tem nessa eleição que é de um criminoso, que tem inúmeras ligações com o crime organizado, querer ser prefeito da maior cidade do país", afirmou a candidata do PSB.

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A candidata foi a primeira a usar vídeos nas redes sociais associando Marçal ao PCC. Hoje, ela disse que entraria com uma representação na Justiça contra o empresário por violação das regras eleitorais.

Marçal ataca colunista do UOL

Marçal atacou o colunista do UOL Josias de Souza. Josias questionou Marçal sobre a fala do candidato ao podcast Flow, em que disse que seu público gosta de "idiotices". "Eu lhe pergunto: você acha que o povo, com sua hipotética falta de discernimento, deveria ser bombardeado por idiotices em vez de ouvir propostas consequentes sobre a cidade?", perguntou o jornalista.

Marçal disse que o "jornalismo tem militância poderosa". "O que a militância poderosa no jornalismo tem feito é produzir, em vez de imprensa imparcial, é produzir esse nível de idiotice", respondeu. "Queria ser nobre, Josias, mas você não é nobre no seu jornalismo."

Candidatos lamentam nível das discussões

Após o debate, Tabata, Datena e Nunes lamentaram o nível das discussões. Em relação às regras, Tabata disse que "houve um esforço nesse que não estava acontecendo nos outros". Boulos repercutiu a condenação trabalhista que compartilhou nas redes sociais contra Marçal. Nunes criticou Marçal e disse que "quem é contra o sistema, liga para o Datena para combinar". O prefeito também criticou Boulos.

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Datena disse que o eleitor "sai prejudicado". Ele também criticou Marçal: "ele moldou o debate as suas redes sociais." O apresentador disse que o empresário representa um "risco à democracia". Já Marçal disse que havia no evento um "consórcio comunista" com o qual não era possível "debater".

O que disseram no debate

Ele [Marçal] foi preso por dar golpe em senhoras de idade. Ele, o presidente do partido dele, já confessou relação com o tráfico e dois assessores dele, além de tudo, trocaram um carro de luxo por cocaína. É por isso que ele é tão viciado em mentir.
Guilherme Boulos

As pessoas ligadas ao seu partido têm uma ligação muito estreita com o PCC. Inclusive o seu piloto de avião tem uma notícia recente, não é mais um tráfico, foi para o narcotráfico. A cidade de São Paulo não tem esse histórico.
Ricardo Nunes

Não fui eu que defendi empresa do PCC no outro dia quando o Ministério Público estava investigando, você foi na empresa pagar pau para a empresa de ônibus, mas você está me confundindo com outros partidos aqui.
Pablo Marçal

Hoje com evidência, prova da Polícia de São Paulo, que um banco virtual do interior de São Paulo financia candidatos do PCC. Tem PCC na administração daquele cidadão ali [Datena olha para Nunes] no transporte coletivo.
José Luiz Datena

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A zeladoria vai sabe-se Deus para onde. O trânsito cada vez maior. A gente cada vez mais inseguro. E aí, gente, acho que essa é uma pergunta válida: nesses três anos, Ricardo Nunes não viu nenhuma dessas coisas? Por que é que só agora quando cai na pesquisa tem coragem de dizer que Pablo Marçal tem inúmeras conexões com PCC?
Tabata Amaral

Participam desta cobertura: Ana Paula Bimbati, Anna Satie, Fabíola Perez e Saulo Pereira Guimarães, do UOL, em São Paulo, e Letícia Polydoro, em colaboração para o UOL.

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