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Julgamento do caso Celso Daniel começa; defesa abre mão de testemunha

Rosanne D'Agostino<br>Do UOL Notícias<br>Em São Paulo

18/11/2010 10h29

Começou por volta das 10h15 desta quinta-feira (18) o julgamento do assassinato do ex-prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel, morto em 2002. Nesta quinta-feira é julgado, no Fórum de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, o primeiro dos réus, Marcos Roberto Bispo dos Santos, acusado pelo assassinato ocorrido em 2002. Bispo está foragido, mas o julgamento seguirá mesmo sem sua presença.

O réu é acusado por homicídio duplamente qualificado: por motivo torpe, almejando recompensa, e com emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. Mas a Promotoria deve reforçar a alegação de que o assassinato foi cometido com o objetivo de assegurar outro crime: os praticados contra a administração pública durante a gestão de Celso Daniel. A pena para homicídio doloso vai de 12 a 30 anos.

A defesa abriu mão da única testemunha que seria ouvida hoje. Assim, o júri vai começar direto na fase dos debates, em que acusação e defesa apresentam seus argumentos para condenar ou absolver o réu.Os jurados sorteados são 5 mulheres e 2 homens.

O primeiro a falar será o promotor Francisco Cembranelli. Ele terá uma hora e meia para apresentar sua versão e tentar convencer os jurados de que Bispo cometeu o crime qualificado. Em seguida, o advogado Adriano Marreiro dos Santos tem uma hora e meia para defender o cliente. Caso peça réplica, Ministério Público e defesa têm mais uma hora. E o mesmo período em caso de tréplica. A previsão é de que o júri se encerre ainda nesta tarde.

Antes de começar o julgamento, o promotor Francisco Cembranelli disse que o Ministério Público foi o único órgão a se aprofundar nas investigações. "A Polícia Civil investigou parcialmente o crime. Ela estava pressionada pela opinião pública para apresentar um resultado para a investgação, que foi muito curta e rápida. Eles apuraram até um determinado ponto, e, claro, não se aprofundaram. Quem se aprofundou foi o Ministério Público, que, durante um ano, foi buscar novas testemunhas e colher novos depoimentos", afirmou Cembranelli, ao entrar no fórum.

Divergências na investigação

Em um caso conturbado pelas divergências entre policiais e promotores, duas hipóteses foram aventadas para explicar a morte de Daniel, cujo corpo foi encontrado em uma estrada de Juquitiba, no interior paulista, alvejado por tiros e com sinais de tortura.

De acordo com investigações do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), o grupo de criminosos estaria em busca de um empresário e sequestrou Daniel por engano. Quando perceberam, o chefe da quadrilha teria ordenado a soltura, mas um dos integrantes se confundiu e determinou que um menor o matasse. Com base nesse inquérito, em abril de 2002 a denúncia foi apresentada por extorsão mediante sequestro com o resultado morte, um crime comum, segundo a polícia.

Após a insistência da família de Daniel, novas investigações foram realizadas pelo Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado do ABC), do Ministério Público de São Paulo. Em dezembro de 2003, a denúncia foi aditada, incluindo Sombra, tido apenas como testemunha pela polícia, com a nova narrativa para o crime, de que houve motivação política.

Para o MP, Sombra comandaria um esquema de recolhimento de propina de empresas de ônibus na região do ABC paulista, dinheiro que seria transferido para o PT e também para contas pessoais. Quando o réu soube que Celso Daniel teria um dossiê e ameaçava delatar o esquema por ser contra o uso pessoal da propina, Sombra resolveu matá-lo. Ele era amigo pessoal, foi segurança e era assessor de confiança do ex-prefeito. E nega todas as acusações.

Envolvidos que morreram ao longo das investigações

Dionísio Aquino Severo - Suposto sequestrador de Celso Daniel e uma das principais testemunhas no caso, foi morto por uma facção rival antes de ser ouvido sobre o crime
Sergio 'Orelha' - Teria escondido Dionísio após o sequestro. Foi fuzilado em novembro de 2002
Otávio Mercier - Investigador da Polícia Civil que telefonou para Severo na véspera da morte de Daniel, foi morto a tiros em sua casa
Antonio Palácio de Oliveira - O garçom que serviu Celso Daniel na noite do crime morreu em fevereiro de 2003 após ser perseguido em sua moto
Paulo Henrique Brito - Testemunhou a morte do garçom e foi morto com um tiro nas costas, 20 dias depois
Iran Moraes Redua - O agente funerário foi o primeiro a identificar o corpo de Daniel e chamou a polícia. Morreu com dois tiros em novembro de 2004
Carlos Alberto Delmonte Printes - Médico-legista que constatou indícios de tortura ao examinar o corpo de Daniel

Do UOL Notícias
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