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Dilma fecha ministério com continuísmo e mulheres, mas desagrada aliados

Ricardo Lewandowski, presidente do TSE, entrega diploma à presidente Dilma Rousseff - Carlos Humbert/ASICS/TSE
Ricardo Lewandowski, presidente do TSE, entrega diploma à presidente Dilma Rousseff Imagem: Carlos Humbert/ASICS/TSE

Maurício Savarese<br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

22/12/2010 07h00Atualizada em 22/12/2010 12h36

Com alguns dias de atraso, a presidente eleita Dilma Rousseff concluiu a montagem de seu primeiro ministério, recheado de mulheres e de ocupantes de pastas importantes da gestão de seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, facções do PT, peemedebistas e aliados da esquerda, como o PSB e o PCdoB, saíram insatisfeitos com o arranjo e prometem rediscutir o assunto em 2012, ano de eleições municipais.

Dos 37 cargos com status de ministério, 13 terão titulares que trabalharam com Lula: Fazenda (Guido Mantega), Casa Civil (Antonio Palocci), Comunicações (Paulo Bernardo), Educação (Fernando Haddad), Agricultura (Wagner Rossi), Minas e Energia (Edison Lobão), Defesa (Nelson Jobim), Transporte (Alfredo Nascimento), Trabalho (Carlos Lupi), Meio Ambiente (Izabella Teixeira), Esporte (Orlando Silva), Controladoria-Geral da União (Jorge Hage) e Advocacia-geral da União (Luis Inácio Adams).

Além desses, um dos principais aliados de Lula passará a fazer parte da pasta que lida com movimentos sociais: o chefe de gabinete Gilberto Carvalho, futuro secretário-geral da Presidência. “Em time que está ganhando se mexe, mas não muito”, disse ao UOL Notícias um dos petistas que ajudam na montagem do ministério. “Em especial na área econômica, não há como fazer grandes mudanças em início de governo. Depois de um governo cheio de resultados positivos, os ajustes só aparecem com o tempo.”

As escolhas femininas também marcam o ministério de Dilma. O destaque é Miriam Belchior, futura ministra do Planejamento, pasta turbinada com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

As já garantidas nos cargos são Tereza Campelo (Desenvolvimento Social), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Ana de Hollanda (Cultura), Ideli Salvatti (Pesca), Helena Chagas (Comunicação Social), Maria do Rosário (Direitos Humanos), e Luiza de Bairros (Igualdade Racial). Dilma convidou ainda a deputada Iriny Lopes (PT-ES) para comandar a Secretaria das Mulheres.

“Por que Dilma deveria trocar muito? Se não tivesse tido continuidade em relação a Lula, seria negativo para ela”, afirma o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília). “Na área financeira, a grande maioria acha que Lula está indo bem. Se Dilma tivesse mudado todo mundo, teria dado muita apreensão. Ela trocou o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e mesmo assim não há temor. A manutenção do tom compensa.”

Descontentes

Para Fleischer, “a batalha entre os aliados será a grande batalha do governo Dilma e o ministério indica isso”. Professor da FGV-SP, o cientista político Cláudio Couto concorda: “O PMDB e o PSB certamente poderiam ter espaços maiores. O PT, inclusive em termos orçamentários, não reduziu seu espaço –na verdade ampliou, ao colocar no Ministério da Saúde um quadro em ascensão como Alexandre Padilha, bem relacionado com políticos. O desgaste é provável”.

O PMDB pretendia ter até seis ministérios no governo, mas acabou com quatro: Minas e Energia (Edison Lobão), Turismo (Pedro Novais), Agricultura (Rossi) e Previdência (Garibaldi Alves Filho), além da Secretaria de Assuntos Estratégicos (Moreira Franco). Além do número inferior ao esperado, o partido não conseguiu pastas com orçamentos altos, como Saúde, Integração Nacional e Cidades, cogitadas depois da vitória eleitoral em outubro.

Já o PSB, que ampliou sua bancada na Câmara e elegeu seis governadores em 2010 manteve seus dois ministérios: Integração Nacional e a Secretaria dos Portos –que nem sequer foi recheada com a administração dos aeroportos, conforme se previa em meio as negociações. A sigla tampouco avançou sobre um terceiro ministério, como era pedido por um de seus mais proeminentes líderes, o deputado federal Ciro Gomes.

“O PMDB tem menos margem para mexer, porque tem o vice-presidente eleito Michel Temer. O PSB, mesmo sendo aliado histórico do PT, não parece tão entusiasmado neste início de governo e tem motivos para isso”, afirma Couto, da FGV. “Ciro e outros líderes do partido têm proximidade com oposicionistas moderados, como Aécio Neves e Marina Silva. Dilma pode estar à espera das eleições de 2012 para dar espaço, mas a paciência pode não ir até lá.”

Mesmo no partido da presidente eleita há insatisfeitos. Na corrente Democracia Socialista, que ocupa o Ministério do Desenvolvimento Agrário desde o início do governo Lula, o alto risco de perder a pasta desaguou na disputa pela presidência da Câmara: a corrente aderiu à candidatura de Marco Maia (PT-RS) para barrar o preferido de Dilma, Cândido Vaccarezza (PT-SP).

Entre esses futuros ministros paulistas, diz Couto, há potenciais candidatos a prefeito em 2012, como Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), Fernando Haddad (Educação) e Alexandre Padilha (Saúde), o que poderá trazer um rearranjo mais nacional daqui dois anos. “Agora é esperar para ver quanto dura esse grupo híbrido em Brasília”, afirmou.