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Governo vai afastar sindicatos se demitir ministro do Trabalho, diz Paulinho da Força

O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) diz que o ministro Carlos Lupi tem o apoio de todas as centrais sindicais para ficar no cargo, apesar das ameaças de demissão - Fábio Pozzebom/ABr
O deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) diz que o ministro Carlos Lupi tem o apoio de todas as centrais sindicais para ficar no cargo, apesar das ameaças de demissão Imagem: Fábio Pozzebom/ABr

Maurício Savarese<br>Do UOL Notícias

Em São Paulo

19/02/2011 07h00

Presidente da Força Sindical e contrário ao reajuste do salário mínimo para R$ 545 neste ano, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) se diz um dos fiadores do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, no governo da presidente Dilma Rousseff. Em meio às ameaças de retaliação a seu partido e seu aliado por não terem garantido apoio total dos pedetistas na votação, o parlamentar disse ao UOL Notícias que o Palácio do Planalto vai criar um racha com os sindicalistas se decidir pela demissão do colega de legenda.

"Se o governo tiver problema com o ministro Lupi, terá com os sindicatos. Ele tem o apoio de todos os sindicatos", disse Paulinho. "Nós apoiamos a Dilma antes de o PT apoiar. Para nós, se houver um rompimento conosco isso mostrará que o governo vai para outro caminho. Acho que não chegaremos aí, mas é isso que um rompimento causaria."

Na quarta-feira (16), a Câmara dos Deputados aprovou o salário mínimo para este ano no valor desejado pelo Palácio do Planalto. Para defender a proposta de Dilma, houve 361 votos. Entre esses, 16 vieram do PDT, que mesmo sendo da base do governo liberou seus parlamentares para decidir o que quisessem. Nove pedetistas pela adoção de um salário de R$ 560, conforme uma emenda apresentada pelo Democratas, e um se absteve.

"Cometemos um erro quando fizemos reunião do partido na véspera da votação. Acabamos liberando a bancada e aí correu aquela pressão. Mas toda vez que tiver questão trabalhista e o governo ficar contra os trabalhadores, vai ter problema com o PDT", afirmou o presidente da Força Sindical. "O partido resistiu e vai continuar resistindo, esteja ou não com o cargo no Ministério do Trabalho. Mas essa ameaça de retaliação vem de puxa-sacos do governo. A presidente Dilma não falou nada."

Apesar da pressão sobre os parlamentares, inclusive com a ameaça de demitir Lupi se o PDT não se decidisse pela proposta de Dilma, o governo esperava contar com cerca de 300 votos na votação considerada menos segura, que elevaria o valor do salário mínimo a R$ 560. O apoio dos parlamentares ligados a centrais sindicais, mesmo somado aos oposicionistas, no entanto, não bastou para impedir a vitória do Palácio do Planalto por ampla margem.

Governista, sim

“Foram 361 votos para o governo porque a emenda proposta era a do DEM. Se fosse a do PDT o número poderia ter sido melhor. Muita gente ligada a sindicalismo não toleraria a ideia de votar em uma proposta do DEM nessa área", afirmou Paulinho. Pouco antes da votação, uma emenda dos pedetistas caiu após a retirada dos apoios do PSDB e do DEM. Os oposicionistas visavam aumento real do salário mínimo neste ano, enquanto os aliados do sindicalista queriam a antecipação de R$ 15 mensais a serem dados em 2012.

Para o cientista político David Fleischer, da UnB (Universidade de Brasília), a votação do salário mínimo abalou as bases do sindicalismo, o que pode se refletir em futuras votações, como a da jornada semanal de 40 horas, integrante de propostas de reforma trabalhista. “O presidente da Força Sindical perdeu a força”, afirma. “Quis liderar uma revolta e acabou isolado. Isso pode impulsionar o protagonismo da CUT (Central Única dos Trabalhadores, aliada do PT) e facilitar reformas nessa área também.”

O deputado não acredita que tenha perdido força. Vê apenas uma questão pontual na derrota por ampla margem na Câmara. "No governo Lula tínhamos um grupo de ministros que nos defendiam. Tínhamos o presidente Lula. No Congresso tínhamos entre 130 e 140 deputados que nos apoiavam. Hoje temos até mais do que isso para a pauta trabalhista. Mas no começo do governo há muitos deputados novos que não querem se indispor logo de cara", afirmou. "Por isso sabíamos que não era fácil obter uma vitória. Mas queríamos mostrar nossa insatisfação com o começo do nosso governo. E isso conseguimos."

Veja as propostas de governo, oposição e sindicatos sobre o salário mínimo

Paulinho afirmou que a votação do salário mínimo incentivou outros governistas a afastar Lupi da base do seu partido. "Estão tentando me jogar contra o ministro, só porque ele teve de apoiar a proposta do Palácio do Planalto mesmo sendo de um partido que é crítico aos R$ 545. Nós somos irmãos, ele fez o que tinha de fazer e eu entendo a posição dele. Assim como deviam entender que ele não podia impedir deputados como eu de votar como votaram."

Quando a boca esquentar

Apesar do isolamento, o presidente da Força Sindical dá um recado à presidente.  "Não somos como outros partidos que estão lá pelo cargo. Se a boca esquentar para a Dilma, eles vão ser os primeiros a sair fora", disse. Se não fosse o movimento sindical, o [então presidente] Lula tinha caído em 2005. Nós fomos para a rua e a direita ficou com medo de ousar mais." A maior surpresa da votação foi a unanimidade do PMDB, que entregou seus 77 deputados.

Depois da votação, os peemedebistas fortaleceram os apelos para ocupar cargos de segundo escalão. O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), disse em entrevista à "Folha de S.Paulo" que o partido do vice-presidente Michel Temer ainda terá o espaço devido no governo federal. 

Na semana que vem, que será marcada pela votação do salário de R$ 545 no Senado, na quarta-feira, o PDT tem reunião marcada com o senador Paulo Paim (PT-RS), que prometeu apresentar emenda pedindo um valor maior, e com o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), para saber como será a decisão no plenário. "Não vamos tomar atitude sem conversar com centrais antes", disse o deputado.