Missa em homenagem a José Alencar celebra "vida entregue à família e à nação"
A missa de corpo presente em homenagem ao ex-vice-presidente José Alencar, com familiares, amigos e autoridades, terminou por volta de 12h30 desta quarta-feira (30) no Palácio do Planalto. A primeira das duas missas de corpo presente é rezada pelo representante do Vaticano no Brasil, o núncio apostólico dom Lorenzo Baldissieri, na companhia do secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Dimas Lara Barbosa, antes da abertura do velório para a visitação pública.
Alencar era católico devoto e costumava pedir orações para que se curasse da doença.
A procissão fúnebre de Alencar, que morreu na quarta-feira (29), foi conduzida pela rampa do palácio, e o caixão está no salão nobre, diante da Praça dos Três Poderes, onde algumas dezenas de pessoas já se preparavam para se despedir do político mineiro. Ministros dos governos Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva compareceram, além de membros do STF (Supremo Tribunal Federal), parlamentares e militares.
Opinião: Tolerância e coragem são as marcas de Alencar, diz Fernando Rodrigues
Cerca de 40 coroas de flores estavam perto do caixão de Alencar quando a missa começou. Em suas palavras iniciais, dom Dimas afirmou que o ex-vice-presidente teve “uma vida entregue à família e à nação”. Os primeiros a se aproximar do corpo foram a viúva, Mariza, o filho Josué, que comanda seu império empresarial, e o presidente em exercício, Michel Temer. Dilma e Lula devem desembarcar em Brasília no início da noite, após a antecipação de sua viagem a Portugal.
Músicas religiosas foram entoadas no Palácio do Planalto desde antes da chegada do corpo de Alencar, que deixou o hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, com algum atraso no início da manhã. A expectativa do cerimonial da Presidência era de abrir a visitação pública às 10h30, mas até as 11h50 as pessoas ainda se alinhavam diante do prédio do governo. A primeira missa foi celebrada de forma privada e a segunda virá após a chegada de Dilma.
Uma das netas do ex-vice-presidente chorou à beira do caixão, mas o clima aparente entre os familiares era de resignação. Alencar sofreu 17 cirurgias por conta dos diferentes tipos de câncer de que sofria. Ele tentou tratamentos experimentais, mas acabou tendo de se voltar à tradicional quimioterapia para alongar seu tempo de vida.
Amigo de Alencar e um dos principais articuladores da adesão do ex-vice-presidente à chapa que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva para o Palácio do Planalto em 2002, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, chorou ao vê-lo no caixão e beijou a testa de Alencar antes de sair.
Os presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), se limitaram a passar alguns segundos ao lado do corpo e tocar a mão do político e empresário mineiro. O ex-presidente e atual senador Itamar Franco (PPS-MG) preferiu cumprimentar a família, baixar a cabeça ao lado do caixão e se retirar.
O velório será aberto para visitação pública e deve durar todo o dia. Na quinta-feira (31) de manhã, o corpo segue para Belo Horizonte (MG), onde será velado no Palácio da Liberdade inicialmente das 8h30 às 13h. O enterro será na parte da tarde, no cemitério do Bonfim, mas o horário ainda não foi divulgado.
Ele estará no nosso coração e no de todos os brasileiros. Ele deu tantos bailes nos médicos que achamos que ele poderia aguentar mais. A nossa gratidão a ele é eterna.
O Brasil deve muito a ele e
à ternura dele
da Presidência da República
Dilma antecipou o retorno para o Brasil, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também está no país. Eles retornariam na madrugada desta quinta (31) de Coimbra, mas sairão ao meio-dia (8h, em Brasília) logo após Lula ser homenageado. A previsão é que cheguem a Brasília no início da noite.
Em pronunciamento em Coimbra, emocionada, Dilma enalteceu os oito anos de Alencar no governo Lula e definiu: "É um momento de muito sentimento. Foi uma grande honra ter convivido com ele", disse, para completar: “Ele foi inesquecível para o nosso país, todos nós estamos muito emocionados”, afirmou, ao lado de Lula, também bastante emocionado.
Histórico
Os problemas do ex-vice-presidente com o câncer começaram em 1997, quando descobriu dois pequenos tumores malignos no rim direito e no estômago. Na ocasião, Alencar foi operado no mesmo dia.
LEIA MAIS
- Reveja fotos da trajetória de José Alencar
- Triste com morte de Alencar, suposta filha diz estar "magoada" por não ter sido reconhecida
- Alencar foi 'o empresário que levou Lula ao poder', diz jornal espanhol
- Com o fim da CPMF, ex-vice defendeu manutenção do orçamento das Forças Armadas
- Dono da Coteminas, Alencar ajudou Lula a superar resistência do empresariado
- Alencar reclamou dos juros altos e defendeu posições nacionalistas
- Alencar partiu de um vilarejo para construir empresa que fatura US$ 2,4 bi por ano
- Após 13 anos de luta contra o câncer, José Alencar morre em São Paulo aos 79 anos
- Eliane Cantanhêde: Alencar provou que é possível os contrários viverem bem
- "Ele deu tantos bailes nos médicos que achamos que ele poderia aguentar mais", diz ministro
- Relembre algumas frases de Alencar sobre Lula, câncer e juros
Submeteu-se a duas cirurgias --em 2000 e 2002-- para tratar de um câncer da próstata. Em 2006, foi a vez de um tumor retroperitonial (atrás da membrana serosa que recobre as paredes do abdome e a superfície dos órgãos digestivos).
Em outubro de 2007 Alencar foi operado novamente do tumor no retroperitônio. Numa revisão da cirurgia em 20 de dezembro, foi detectado um "ponto minúsculo" na mesma região, e os médicos decidiram fazer sessões de quimioterapia para combatê-lo.
Entre 12 e 19 de janeiro de 2008, ficou internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, por conta de uma infecção decorrente da quimioterapia. Recebeu alta aparentando fragilidade, mas com otimismo. Na ocasião, disse que queria almoçar em uma churrascaria.
Depois disso, voltou a ser hospitalizado outras vezes para ser submetido a tratamentos de quimioterapia. No dia 26 de julho de 2008, Alencar admitiu em uma entrevista coletiva que estava novamente com câncer. Ele disse a jornalistas, em Brasília, que exames de rotina feitos em São Paulo mostraram "uma recorrência".
Na ocasião, ele descartou a possibilidade de se afastar temporariamente da Vice-Presidência da República.
Em janeiro de 2009, enfrentou cerca de 17 horas de operação para a retirada de nove tumores na região abdominal. Na mesma cirurgia, os médicos retiraram parte do intestino delgado, outra do intestino grosso e uma porção do ureter, canal que liga o rim à bexiga. Alencar ficou internado 22 dias após a operação.
Já em maio do mesmo ano, novos exames apontaram o retorno de tumores malignos em "alguns pontos da cavidade abdominal". Mas, no final de outubro de 2009, Alencar disse que o último exame realizado mostrava uma "redução substancial" dos tumores.
No início de julho de 2010, Alencar deu entrada no hospital Sírio-Libanês para uma sessão de quimioterapia, mas apresentou uma crise de hipertensão e foi internado em seguida. Após três dias, foi diagnosticada uma isquemia (deficiência na irrigação sanguínea) cardíaca, o que estava provocando uma irrigação insuficiente em uma das paredes laterais de seu coração.
Você não sabe o que é a morte, então você não tem de ter medo da morte. Você tem de ter medo é da desonra, dela você tem de ter medo, isso mata você."
Por isso, foi feita a colocação do stent (dispositivo para dilatar vasos sanguíneos) no coração. Na ocasião, ele também passou por um cateterismo (exame para verificar as condições de vasos sanguíneos).
Em setembro, o vice-presidente voltou a ser internado para tratar um edema agudo de pulmão. Já no final de outubro, Alencar foi internado com um quadro de suboclusão intestinal.
No começo de novembro, sofreu um infarto agudo do miocárdio e foi submetido a um novo cateterismo. No dia 27 de novembro, Alencar foi operado para desobstruir o intestino. A cirurgia durou cinco horas e resultou na extração de dois nódulos e 20 centímetros de seu intestino delgado. No final do procedimento, ele sofreu uma arritmia cardíaca, que foi revertida.
No meio de dezembro, Alencar deixou o hospital após passar 25 dias se recuperando da cirurgia e submetendo-se a sessões de hemodiálise, por conta do comprometimento das funções renais. Em 22 de dezembro, porém, voltou ao hospital, de onde só recebeu alta no dia 26 de janeiro.
Alencar voltou a ser internado às pressas no dia 9 de fevereiro devido a uma perfuração intestinal. Ele deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no dia 15 de fevereiro e recebeu alta médica 34 dias depois. No dia 28 de março retornou ao hospital em situação considerada crítica e foi internado novamente na UTI.
Biografia
Filho de um pequeno comerciante de um vilarejo mineiro, José Alencar Gomes da Silva começou a trabalhar cedo e deixou a família quando tinha 14 anos para empregar-se numa loja na sede do município de Muriaé (MG).
Em 1947, atrás de um emprego melhor, mudou-se para Caratinga, cidade em que conheceu Mariza, com quem se casou. Aos 18 anos, foi emancipado pelo pai (na época, a maioridade civil ocorria aos 21 anos) e, com apoio financeiro de um irmão, abriu uma loja na cidade.
Hoje, a Coteminas S.A., controlada pela família de Alencar, é a maior empresa do setor têxtil do país e um dos mais importantes grupos econômicos do Brasil.
Alencar causou surpresa, à esquerda e à direita, ao aceitar a posição de vice na vitoriosa chapa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, na campanha de 2002. Quatros anos depois, foi reeleito vice-presidente.
Em julho de 2010, um juiz da comarca de Caratinga (MG), declarou José Alencar oficialmente pai de Rosemary de Morais, que passou a assinar Gomes da Silva. A sentença faz parte de uma ação de reconhecimento de paternidade ajuizada em 2001.
* Com informações de Maurício Savarese, em Brasília
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.