Sentimento antigo das elites, e não do povo, move divisão do Pará, diz cientista político
POSSÍVEIS NOVOS ESTADOS
![]() |
Pará (remanescente) |
Área: 235.532 km² |
População: 5,1 milhão |
PIB: R$ 32,5 bilhões |
Carajás |
Área: 289.799 km² |
População: 1,4 milhão |
PIB: R$ 19,6 bilhões |
Tapajós |
Área 722.358 km² |
População: 1,1 milhão |
PIB: R$ 6,4 bilhões |
A proposta de criação dos Estados de Carajás e Tapajós reflete o sentimento de uma elite regional e não se relaciona com uma demanda popular, segundo a avaliação do cientista político Roberto Corrêa, da UFPA (Universidade Federal do Pará). Em dezembro, todos os eleitores do Pará serão consultados, em plebiscito, sobre a divisão territorial do Estado.
“Território e política andam juntos. A divisão do Pará representa o sentimento de uma elite regional econômica que busca mais poder político, mais autonomia com relação a Belém. O povo sempre esteve alheio a essa questão”, diz o cientista político, autor de um estudo, encomendado pelo governo do Estado via Idesp (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental), no qual apontou como ficaria o mapa político caso a criação de Carajás e Tapajós aconteça.
Segundo Corrêa, as ambições separatistas no sul do Pará existem desde o final do século 19, mas começaram a ganhar força na década de 70, quando o governo militar incentivou a ocupação da região por meio de grandes obras --rodovias Belém-Brasília e Transamazônica-- ou de fronteiras agrícolas.
“Com o Banco da Amazônia, financiaram a chegada de empresários, o agronegócio e recrutaram mão-de-obra, sobretudo no Nordeste, sob o slogan ‘homens sem-terra do Nordeste para terras sem homens na Amazônia’. Ora, essa região foi ocupada por pessoas de vários cantos do país, com outro tipo de cultura. Não há o sentimento e o espírito do Pará em Carajás”, afirma.
Na década de 80, uma nova leva de migrantes chegou a Carajás na corrida pelo ouro em Serra Pelada. Em 1982, a criação do Programa Grande Carajás e a chegada da Vale do Rio Doce na região atraíram mais migrantes para os municípios da região. Com as ondas migratórias e a chegada de grandes agricultores, o cenário de Carajás a partir da década 80 mudou drasticamente.
Enquete: Você é contra ou a favor da divisão do Pará?
Atualmente, a região tem mais de 1,4 milhão de habitantes (18% da população do Pará) e um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 19,6 bilhões, o que representa quase 30% do produto do Pará. Em Carajás está a maior reserva mineral do mundo, contendo minério de ferro de alto teor, estanho, bauxita, manganês, cobre e níquel. A reserva é explorada pela Vale, hoje a maior empresa privada do país e uma das maiores mineradoras do mundo.
Apesar da riqueza, Carajás é uma das regiões mais violentas do país e detém índices acentuados de pobreza. Se for separado do Pará, Carajás terá o maior índice de homicídios entre todas as unidades federativas e será o Estado com maior número de mortes no campo.
Em Tapajós, o movimento emancipacionista existe desde a primeira metade do século 19, quando a cidade de Santarém, a maior da região, era uma comarca do Grão-Pará, assim como Belém e Manaus. Desde então, as elites políticas e econômicas da região tentaram em várias oportunidades a separação.
De acordo com Corrêa, diferentemente de Carajás, a ocupação do território dos Tapajós é antiga e teve início praticamente na mesma época que em Belém. “A região conserva o espírito antigo, original do Pará. Em Tapajós a cultura é praticamente a mesma desde o século 19 e está muito ligada ao rio [Tapajós] e à floresta”, diz.
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Congresso rachado
No que depender da disposição da bancada paraense no Congresso, a disputa em torno da divisão do Pará em três novas unidades federativas -Pará (remanescente), Carajás e Tapajós- promete ser acirrada. O UOL Notícias fez um levantamento junto aos deputados federais e senadores do Pará e constatou que não há uma posição hegemônica sobre a divisão.
Dos 17 deputados que compõem a bancada do Estado na Câmara, sete são contra a divisão, cinco a favor e cinco ou ficarão neutros até o plebiscito ou ainda não definiram posição (veja a tabela no final do texto) .
O deputado federal Dudimar Paxiuba (PSDB), de Itaituba, a segunda maior cidade do Tapajós, defende a divisão do Pará, sob o argumento de que a medida irá descentralizar os recursos e aumentar a eficácia da administração pública. “A verdade é que o Pará não conseguiu se desenvolver de modo homogêneo, havendo uma nítida concentração de investimentos em determinadas regiões em detrimento de outras”, diz.
“Com a divisão, cada porção será gerida e administrada por si mesma, de acordo com suas próprias necessidades. A União já experimentou sucesso a criação de Tocantins e Mato Grosso do Sul”, afirma o tucano.
Para Lúcio Vale (PR), de Belém, o Pará remanescente ficaria prejudicado com a divisão, já que perderia o controle sobre a produção de minérios, o agronegócio e o escoamento de grãos via rio Tapajós. “Existem desigualdades regionais, mas não podemos sacrificar o Estado-mãe para beneficiar alguns. Acho que há outras maneiras de resolver o problema e deixar o Pará grande e forte”, diz o deputado.
Já André Dias (PSDB), também de Belém, acredita que a divisão do Pará em Estados menores pode até ser benéfica, mas os limites propostos para Carajás e Tapajós precisam ser revistos. “As divisões foram traçadas de maneira aleatória, não significam uma evolução para nenhum dos Estados. O projeto que está posto não é bom para o Pará, e sim para um grupo de políticos preocupados com a questão eleitoral”, critica o deputado federal.
VEJA A POSIÇÃO DOS DEPUTADOS FEDERAIS SOBRE A DIVISÃO DO PARÁ
Deputado | Partido | Domicílio | Votos | Posição sobre a divisão |
![]() André Dias | PSDB | Belém | 36.795 | Contra |
![]() Arnaldo Jordy | PPS | Belém | 201.171 | Contra |
![]() Asdrubal Bentes* | PMDB | Carajás | 87.681 | A favor |
![]() Beto Faro | PT | Bujaru (Pará remanescente) | 169.504 | Neutro |
![]() Claudio Puty | PT | Belém | 120.881 | Contra |
![]() Dudimar Paxiuba | PSDB | Itaituba (Tapajós) | 25.166 | A favor |
![]() Elcione Barbalho | PMDB | Belém | 209.635 | Contra |
![]() Giovanni Queiroz | PDT | Redenção (Carajás) | 93.461 | A favor |
![]() José Priante | PMDB | Belém | 172.068 | Neutro |
![]() Josué Bengtson | PTB | Marabá (Carajás) | 112.212 | Neutro |
![]() Lira Maia | DEM | Santarém (Tapajós) | 119.548 | A favor |
![]() Lúcio Vale | PR | Belém | 142.116 | Contra |
![]() Luiz Otávio | PMDB | Belém | 36.828 | Neutro |
![]() Miriquinho Batista | PT | Abaetetuba (Pará remanescente) | 126.055 | Neutro |
![]() Nilson Pinto** | PSDB | Belém | 140.893 | Contra |
![]() Wandelkolk Gonçalves | PSDB | Itupiranga (Carajás) | 68.547 | A favor |
![]() Wladimir Costa | PMDB | Belém | 236.514 | Contra |
![]() Zé Geraldo | PT | Medicilândia (Tapajós) | 119.544 | Contra |
![]() Zenaldo Coutinho*** | PSDB | Belém | 154.265 | Contra |
![]() Zequinha Marinho | PSC | Conceição do Araguaia (Carajás) | 147.615 | A favor |
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