Topo

Sentimento antigo das elites, e não do povo, move divisão do Pará, diz cientista político

Guilherme Balza

Do UOL Notícias <BR> Em São Paulo

18/07/2011 06h20

POSSÍVEIS NOVOS ESTADOS

Pará (remanescente)
Área: 235.532 km²
População: 5,1 milhão
PIB: R$ 32,5 bilhões
Carajás
Área: 289.799 km²
População: 1,4 milhão
PIB: R$ 19,6 bilhões
Tapajós
Área 722.358 km²
População: 1,1 milhão
PIB: R$ 6,4 bilhões


A proposta de criação dos Estados de Carajás e Tapajós reflete o sentimento de uma elite regional e não se relaciona com uma demanda popular, segundo a avaliação do cientista político Roberto Corrêa, da UFPA (Universidade Federal do Pará). Em dezembro, todos os eleitores do Pará serão consultados, em plebiscito, sobre a divisão territorial do Estado.

“Território e política andam juntos. A divisão do Pará representa o sentimento de uma elite regional econômica que busca mais poder político, mais autonomia com relação a Belém. O povo sempre esteve alheio a essa questão”, diz o cientista político, autor de um estudo, encomendado pelo governo do Estado via Idesp (Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental), no qual apontou como ficaria o mapa político caso a criação de Carajás e Tapajós aconteça.

Segundo Corrêa, as ambições separatistas no sul do Pará existem desde o final do século 19, mas começaram a ganhar força na década de 70, quando o governo militar incentivou a ocupação da região por meio de grandes obras --rodovias Belém-Brasília e Transamazônica-- ou de fronteiras agrícolas.

“Com o Banco da Amazônia, financiaram a chegada de empresários, o agronegócio e recrutaram mão-de-obra, sobretudo no Nordeste, sob o slogan ‘homens sem-terra do Nordeste para terras sem homens na Amazônia’. Ora, essa região foi ocupada por pessoas de vários cantos do país, com outro tipo de cultura. Não há o sentimento e o espírito do Pará em Carajás”, afirma.

Na década de 80, uma nova leva de migrantes chegou a Carajás na corrida pelo ouro em Serra Pelada. Em 1982, a criação do Programa Grande Carajás e a chegada da Vale do Rio Doce na região atraíram mais migrantes para os municípios da região. Com as ondas migratórias e a chegada de grandes agricultores, o cenário de Carajás a partir da década 80 mudou drasticamente.

Enquete: Você é contra ou a favor da divisão do Pará?

Atualmente, a região tem mais de 1,4 milhão de habitantes (18% da população do Pará) e um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 19,6 bilhões, o que representa quase 30% do produto do Pará. Em Carajás está a maior reserva mineral do mundo, contendo minério de ferro de alto teor, estanho, bauxita, manganês, cobre e níquel. A reserva é explorada pela Vale, hoje a maior empresa privada do país e uma das maiores mineradoras do mundo.

Apesar da riqueza, Carajás é uma das regiões mais violentas do país e detém índices acentuados de pobreza. Se for separado do Pará, Carajás terá o maior índice de homicídios entre todas as unidades federativas e será o Estado com maior número de mortes no campo.

Em Tapajós, o movimento emancipacionista existe desde a primeira metade do século 19, quando a cidade de Santarém, a maior da região, era uma comarca do Grão-Pará, assim como Belém e Manaus. Desde então, as elites políticas e econômicas da região tentaram em várias oportunidades a separação.

De acordo com Corrêa, diferentemente de Carajás, a ocupação do território dos Tapajós é antiga e teve início praticamente na mesma época que em Belém. “A região conserva o espírito antigo, original do Pará. Em Tapajós a cultura é praticamente a mesma desde o século 19 e está muito ligada ao rio [Tapajós] e à floresta”, diz.

Congresso rachado

No que depender da disposição da bancada paraense no Congresso, a disputa em torno da divisão do Pará em três novas unidades federativas -Pará (remanescente), Carajás e Tapajós- promete ser acirrada. O UOL Notícias fez um levantamento junto aos deputados federais e senadores do Pará e constatou que não há uma posição hegemônica sobre a divisão.

Dos 17 deputados que compõem a bancada do Estado na Câmara, sete são contra a divisão, cinco a favor e cinco ou ficarão neutros até o plebiscito ou ainda não definiram posição (veja a tabela no final do texto) .

O deputado federal Dudimar Paxiuba (PSDB), de Itaituba, a segunda maior cidade do Tapajós, defende a divisão do Pará, sob o argumento de que a medida irá descentralizar os recursos e aumentar a eficácia da administração pública. “A verdade é que o Pará não conseguiu se desenvolver de modo homogêneo, havendo uma nítida concentração de investimentos em determinadas regiões em detrimento de outras”, diz.

“Com a divisão, cada porção será gerida e administrada por si mesma, de acordo com suas próprias necessidades. A União já experimentou sucesso a criação de Tocantins e Mato Grosso do Sul”, afirma o tucano.

Para Lúcio Vale (PR), de Belém, o Pará remanescente ficaria prejudicado com a divisão, já que perderia o controle sobre a produção de minérios, o agronegócio e o escoamento de grãos via rio Tapajós. “Existem desigualdades regionais, mas não podemos sacrificar o Estado-mãe para beneficiar alguns. Acho que há outras maneiras de resolver o problema e deixar o Pará grande e forte”, diz o deputado.

Já André Dias (PSDB), também de Belém, acredita que a divisão do Pará em Estados menores pode até ser benéfica, mas os limites propostos para Carajás e Tapajós precisam ser revistos. “As divisões foram traçadas de maneira aleatória, não significam uma evolução para nenhum dos Estados. O projeto que está posto não é bom para o Pará, e sim para um grupo de políticos preocupados com a questão eleitoral”, critica o deputado federal.

VEJA A POSIÇÃO DOS DEPUTADOS FEDERAIS SOBRE A DIVISÃO DO PARÁ

DeputadoPartidoDomicílioVotosPosição sobre
a divisão

André Dias
PSDBBelém36.795Contra

Arnaldo
Jordy
PPSBelém201.171Contra

Asdrubal
Bentes*
PMDBCarajás87.681A favor

Beto Faro
PTBujaru (Pará remanescente)169.504Neutro

Claudio Puty
PTBelém120.881Contra

Dudimar
Paxiuba
PSDBItaituba (Tapajós)25.166A favor

Elcione
Barbalho
PMDBBelém209.635Contra

Giovanni
Queiroz
PDTRedenção (Carajás)93.461A favor

José Priante
PMDBBelém172.068Neutro

Josué Bengtson
PTBMarabá (Carajás)112.212Neutro

Lira Maia
DEMSantarém (Tapajós)119.548A favor

Lúcio Vale
PRBelém142.116Contra

Luiz Otávio
PMDBBelém36.828Neutro

Miriquinho
Batista
PTAbaetetuba (Pará remanescente)126.055Neutro

Nilson Pinto**
PSDBBelém140.893Contra

Wandelkolk
Gonçalves
PSDBItupiranga (Carajás)68.547A favor

Wladimir Costa
PMDBBelém236.514Contra

Zé Geraldo
PTMedicilândia (Tapajós)119.544Contra

Zenaldo
Coutinho***
PSDBBelém154.265Contra

Zequinha
Marinho
PSCConceição do Araguaia (Carajás)147.615A favor