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Com base aliada rachada, PT tem histórico de disputas apertadas na Câmara

Da esquerda para a direita: Guimarães, Patrus e Chinaglia, possíveis candidatos do PT; à direita, Eduardo Cunha (PMDB) - Arte/UOL
Da esquerda para a direita: Guimarães, Patrus e Chinaglia, possíveis candidatos do PT; à direita, Eduardo Cunha (PMDB) Imagem: Arte/UOL

Do UOL, em Brasília

02/12/2014 06h00

Depois de um ano difícil para o governo com escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras e a criação de CPIs (comissões parlamentares de inquéritos), o Planalto pode enfrentar dificuldades para eleger seu indicado para presidir a Câmara no biênio 2015-2016. Os anos em que os partidos da base aliada "racharam" foram justamente as disputadas mais apertadas: em 2007, com dois candidatos da base do governo, a diferença entre o primeiro e o segundo colocado foi de apenas 3,5% dos votos. Em 2005, também sem consenso, houve segundo turno nas duas eleições realizadas naquele ano.

Nesta terça-feira (2), o líder do PMDB na Casa, deputado Eduardo Cunha, oficializa o lançamento de sua candidatura à presidência da Câmara. Apesar de o PMDB ser o partido do vice-presidente Michel Temer, Cunha é candidato à revelia do governo. O PT também deve lançar um nome, mas vem adiando a decisão. Desde que os dois partidos são aliados, existe um acordo para que se "revezem" na presidência da Casa.

A nova legislatura da Câmara dos Deputados toma posse só em fevereiro de 2015, mas as negociações nos bastidores dos partidos sobre quem vai assumir a presidência da Casa já vêm se desenrolando há meses.

Desde a redemocratização, o principal cargo da Câmara fica com um aliado do governo federal, mas a demora do PT em definir seu candidato e o racha no PMDB pode tornar a eleição do próximo ano em uma das mais acirradas.

O PT sofre ameaça de perder o comando da Câmara como aconteceu em 2005, quando um racha no PT favoreceu a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE). A vitória de Cavalcanti foi considerada uma das piores derrotas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional.

A falta de um nome petista forte ao comando da Câmara dos Deputados é uma das preocupações da bancada, a maior da Casa, e do governo de Dilma Rousseff (PT) em 2015. O PT precisa definir se irá lançar nome próprio ou se vai apoiar algum parlamentar aliado que tenha força para vencer Cunha. A bancada petista irá se reunir na próxima quinta-feira (4) para debater novamente o assunto.

Em uma reunião na presença de ministros próximos à presidente Dilma Rousseff em meados de novembro, três nomes de petistas foram cogitados como possíveis candidatos: o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia (SP), o ex-prefeito de Belo Horizonte e ex-ministro Patrus Ananias (MG) e o ex-líder da bancada José Guimarães (CE). Apesar da sondagem, ainda não há um nome oficial.

“Nós estamos tomando todos os cuidados para o nome que surgir represente a base e todos os partidos”, afirmou o líder petista na Câmara, deputado Vicentinho (SP). O parlamentar também descartou a possibilidade se lançar seu nome como candidato.

Cunha não é bem visto pelo Palácio do Planalto por ter liderado rebeliões no Congresso contra Dilma em 2014. Apesar de ser o principal aliado no governo, o PMDB tem uma bancada dividida na Câmara dos deputados. Metade apoia Dilma e a outra metade foi contra a reeleição da presidente e pode dificultar que pautas de interesse do governo passem na Casa em 2015.

O deputado José Guimarães, que também é vice-presidente do PT, afirmou no último dia 13 que não há chances de o PT apoiar a candidatura de Cunha. “O Cunha é oposição”, declarou ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Cunha foi o principal encalço do governo na negociação pela aprovação do Marco Civil da Internet e encabeçou o grupo de dissidentes da base aliada que se rebelou contra o Planalto em 2014, o chamado “blocão”.

Para o líder do PT na Câmara, o lançamento do PMDB pressiona o PT a anunciar seu candidato. “Nossa ideia não é forçar a barra, nós vamos oferecer um nome, mas nada de imposição, desde que haja entendimento”, afirmou Vicentinho.

Em 2005, PT racha e independente ganha

Em 2005, o PT indicou como candidato nas eleições para presidente da Câmara o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), mas o também petista Virgílio Guimarães (MG) resolveu lançar candidatura avulsa, dividindo a bancada.

Antes do lançamento do candidato oficial, Guimarães tinha sido escolhido pela bancada do PT para ser o candidato, mas foi pressionado a desistir. A indicação posterior de Greenhalgh como nome oficial rachou o PT na Câmara. Durante a votação, Guimarães, que era o preferido dos petistas a princípio, foi perdendo o apoio da bancada por insistir em manter sua candidatura avulsa.

A votação foi uma das mais disputadas do período democrático, com dois turnos. No primeiro turno, Greenhalgh teve 207 votos, Severino teve 124 e, Guimarães, 117. Três horas depois, a situação se inverteu. Com o enfraquecimento dos candidatos do PT e a saída de Guimarães da disputa no segundo turno, Severino conseguiu apoio e venceu a eleição com uma diferença de 21% dos votos. Foram 300 votos para Severino no segundo turno, e 195 para Greenhalgh.

A disputa ficou marcada como uma derrota para o governo petista -- foi a primeira vez que um candidato independente venceu a eleição para a presidência da Câmara.

No mesmo ano, Severino se envolveu em escândalos e foi acusado de receber propina para prorrogar a concessão de um restaurante da Câmara. Com o desgaste político, Severino renunciou à presidência e ao mandato parlamentar. Foi então necessária a realização de uma nova eleição em setembro de 2005.

A segunda disputa de 2005 foi ainda mais acirrada que a de fevereiro. A votação também passou por dois turnos. Passaram empatados para o segundo turno Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e José Thomaz Nonô (PFL-AL) com 182 votos. Ciro Nogueira (PP-PI) chegou em terceiro lugar no primeiro turno com 76 votos. Foi seguido por Luiz Antonio Fleury (PTB-SP) que teve 41 votos e Alceu Collares (PDT-RS) com 18.
No segundo turno, Aldo venceu com 258 votos, contra 243 de Nonô. A diferença foi de apenas 3% dos votos. 

Em 2007, aliados não chegam a consenso

Ainda no governo Lula, outra disputa na Câmara, em 2007, ocorreu sem consenso na base aliada dividida. O então deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) era o indicado do Palácio do Planalto.  E, mesmo já existindo um candidato oficial, o petista Arlindo Chinaglia (SP) lançou candidatura avulsa e teve um desempenho melhor na eleição para presidente da Casa. Chinaglia se elegeu presidente com uma diferença de apenas 18 votos, 3,5% do total.

Apesar de não ser o indicado do governo, Chinaglia ganhou força com o apoio de um megabloco partidário e garantiu 261 votos, contra 243 votos de Rebelo. O megabloco de Chinaglia era formado por PMDB, PT, PP, PR, PTB, PSC, PTC e PT do B.

À época, o megabloco foi criticado por aliados Lula, como os deputados Beto Albuquerque (PSB-RS) e Ciro Gomes (Pros-CE, ex-PSB) por rachar a base. Na ocasião Lula minimizou a disputa entre aliados. "Um pouco de mercúrio resolve todo o problema", disse o então presidente ao comentar os embates políticos gerados com as duas candidaturas.

Veja as votações durantes os governos Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2014)