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Doações da JBS a políticos equivalem a 18,5% de empréstimos com BNDES

Frigorífico da JBS: maior doadora de campanhas eleitorais - Ana Paula Paiva - 24.fev.2010 /Valor
Frigorífico da JBS: maior doadora de campanhas eleitorais Imagem: Ana Paula Paiva - 24.fev.2010 /Valor

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

28/01/2015 17h19

A JBS, maior exportadora de carne bovina do mundo e dona da marca Friboi, doou a políticos o equivalente a 18,5% do dinheiro que tomou emprestado do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) entre 2005 e 2014. Em 2014, a JBS doou R$ 366,8 milhões. O dinheiro encaminhado aos políticos não é proveniente dos empréstimos, segundo o BNDES e a empresa.

Os empréstimos da empresa junto ao BNDES e as doações aos partidos políticos são legais. As doações foram declaradas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), como manda a lei.

De acordo com o BNDES, o grupo pegou emprestados R$ 2,5 bilhões entre 2005 e 2014, que foram liberados para operações como financiamento de exportações e compra de equipamentos, e não foram usados nas doações eleitorais.

A data inicial de liberação dos recursos do banco estatal coincide com o aumento do volume das doações da JBS aos políticos. Desde que os recursos começaram a ser liberados, em 2005, a JBS já repassou R$ 463,4 milhões a políticos e partidos nas eleições de 2006, 2008, 2010 e 2014.

O Grupo JBS faturou em vendas R$ 92 bilhões em 2013 (últimos dados disponíveis). Desde 2006, o grupo figura entre um dos maiores doadores individuais de campanhas políticas do Brasil. Em 2010, a JBS ficou em terceiro lugar, com R$ 63 milhões. Em 2014, a JBS foi a maior doadora, seguida da construtora Odebrecht , que doou R$ 111 milhões, e do Bradesco, com doações de R$ 100 milhões.

Em 2006, um ano após o início dos empréstimos, foram R$ 12 milhões em doações. Quatro anos depois, foram R$ 63 milhões, e, em 2014, R$ 366,8 milhões, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Somente para a eleição de 2014, a empresa doou 39,56% de todo o seu lucro líquido registrado em 2013, que foi de R$ 926,9 milhões. É como se, a cada R$ 100 de lucro, a JBS doasse R$ 39,5 para os caixas de campanhas de partidos e candidatos.

Para efeito de comparação, a Odebrecht, segunda colocada no ranking de doações neste ano, doou 22% de seu lucro líquido em 2013, que foi de R$ R$ 490,7 milhões. O Bradesco, terceiro colocado, doou apenas 0,83% de seu lucro líquido em 2013, que foi de R$ 12 bilhões. O lucro líquido é a diferença entre o que a empresa faturou e os seus custos operacionais (salários, tributos, impostos, etc).

Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que, no Brasil, as doações para campanhas são "investimentos" feitos pelas empresas para conseguir vantagens junto aos governos. O grupo JBS negou qualquer relação entre as doações feitas por empresas do grupo e os empréstimos tomados junto ao BNDES.

Questionada sobre a natureza do relacionamento entre o PT e a JBS, a assessoria de imprensa da campanha à reeleição de Dilma Rousseff (PT) enviou nota dizendo que "todas as doações feitas ao comitê de campanha da candidata Dilma Rousseff têm cumprido rigorosamente o que determina a legislação eleitoral, sendo tratadas com absoluta transparência e declaradas ao TSE".

A suspeita de que parte do dinheiro emprestado pelo BNDES tenha sido destinada a políticos é descartada pelo BNDES. Procurado pelo UOL, o banco informou que os critérios adotados para a concessão de empréstimo à JBS foram "impessoais e de natureza técnica".

O BNDES disse ainda, por meio de sua assessoria de imprensa, que monitora como as empresas que recebem empréstimos investem o dinheiro e que equipes do banco fazem "visitas regulares ao empreendimento, conferindo o andamento do cronograma e a origem e especificação dos equipamentos adquiridos para o projeto".